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1 - Entrelinhas

     Estrelinhas no céu.
     Como é possível que todo um estudo complexo possa se resumir a isso? Se esforçar pra entender todo o universo é claramente o meu hobbie de toda quarta-feira, já que sou parcialmente obrigada a ter aula de geografia.

     Mas, não reclamo. É um interesse real e eu queria marcar presença para quando fosse desvendada a teoria final porque vai que é a minha... Devo estar aqui para me vangloriar, no mínimo.

    — Alguém poderia me dizer qual teoria da origem do universo que foi mais aceita? E, por favor, não me façam a vergonha de não saber. — Sr. Cooper exprime com seu famoso ar de ironia na voz.

     Vergonha só se for a de levantar a mão, porque não saber essa resposta é claramente prova de que não vivo na terra. Porém, já que a chance de errar é mínima, vou me atrever.

     Ezra e eu levantamos a mão ao mesmo tempo e não sei se fico surpresa ou triste que ninguém mais levantou.

     — Vamos lá, Ezra. Decepcionar nunca foi seu forte. Pode falar, doutor.

     — A teoria do Big Bang, professor. E não é pra menos. — afirma Ezra.

     Não me surpreende ele não ter me dado a chance de resposta, essa mágoa eu não guardo no meu coraçãozinho. Ok, talvez um pouco.

     — Muito bem, garoto. Mas, agora o nível sobe e eu quero testar um conhecimento mais recente. Na última aula discutimos o porquê da Lua não possuir atmosfera... Agora, quero ouvi-los. Me dêem a resposta que só vocês poderiam me dar. — Sr. Cooper diz mais do que interessado no nosso conhecimento. Ou só queira promover uma competição, mas isso a gente releva.

     Como hoje estou no auge de minha coragem, tento de novo. Dessa vez eu torço para não ser cortada do seu campo de visão.

    — Hmm... Mais alguém? É, Srta. Foster, parece que hoje vamos ter que ouvir mulher falar. Diga!

     — Se ouve mulher falar, agradeça. É com quem você mais devia aprender. Mas, voltando a pergunta, é simples. A Lua apenas não possui a gravidade adequada para reter os gases necessários para a formação da atmosfera.

     — Apesar do tom egocêntrico, está certa. Procure melhorar, mocinha.

     — Que eu saiba não sou eu que preciso melhorar aqui...

     — Calma, Emma. Está de TPM? — Bryan provoca.

     — Jura, Bryan?! — Elisa me defende.

     — O que disse? — diz Sr. Cooper

     — Nada, professor. — desisto da discussão, afinal, alguns cabeças duras não valem a pena.

                               ★

     — Emma, você já devia ter se acostumado com isso. — diz Amybeth.

     — Esse tipo de situação se tornou tão comum que não sei por que ainda me estresso, Amy. Eu só não me conformo que seja tão comum a ponto de eu ter que me acomodar.

     Amybeth tem sido claramente a melhor pessoa que eu podia ter encontrado nessa escola. Não sei o que seria dos meus vinte minutos de loucura – intervalo – caso ela não estivesse comigo.

     — Oh, Em... Eu sei que é difícil ter que se esforçar tanto quando alguns fazem sequer o mínimo. Apenas tendo, por mais incrível que pareça, um sexo privilegiado.

     — Anne não vai gostar nadinha de saber dessa história. — falo sorrindo, já pensando em como será a minha conversa da semana com a psicóloga.