𝐈. wenn ich sie mit dir sehe, bin ich traurig; bin ich allein

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eu sinto-o.

sinto o crepitar da dor dentro de mim,
um batuque sinistro do qual não sou capaz de identificar a fonte.

um. dois. um dois.
sinto as suas unhas cravarem-se-me na pele,
puxando, arrastando,
deixando pequenas marcas de feridas não saradas e sangue ainda fresco.

sinto que ela se ri de mim.
de um jeito matreiro, apodera-se,
e ri-se à medida que se sente cada vez mais forte.

os meus dedos agarram meu cabelo, puxando-o,
e gritos incansáveis enchem a sala pequena em que me encontro, assim como o meu peito.
lágrimas negras e sujas escorrem por meu rosto até caírem no chão,
sem ordem, sem rumo.

sinto que fiz o meu próprio coração ficar claustrofóbico.

abafei-o,
afoguei-o,
prendi-o no espaço escuro e confinado que era meu peito, na esperança de protegê-lo de um mal inevitável,
mas falhei.

sinto-o agora esvair-se em mim,
desenraizando-se através de meu ser.

a íris outrora castanha perde a cor, adquirindo um tom esbranquiçado.
mordo os lábios, contendo os choros e gritos,
sentindo as lágrimas queimar novamente.

como uma tortura horrenda,
uma terapia de choque,
sou forçada a ver, a reviver o nós que nunca existiu,
os beijos que nunca terei e as esperanças que sempre tive,
os avisos alheios de cuidado
e os olhares penosos.

agora eles olham para mim,
sorrisos aterradores em suas faces,
rindo-se com vontade da minha miséria,
da minha dor, do meu vazio.

sinto que estou num sonho sem fim.

puxo o corpo fora da cama,
arrastando-me como se fosse um passeio noturno,
sem luzes.
tudo me parece tão escuro,
sem vida.

sinto as mesmas lágrimas ameaçarem escorrer por meus olhos novamente.
encolho os ombros e continuo a arrastar os meus pés,
falta de qualquer emoção ao redor de mim.

em segundo plano passam os bons momentos,
as palavras doces e de ajuda,
os dias e horas passados juntos,
mesmo na tremenda distância que nos separava.

eles olham para mim como se fosse um monstro,
o futuro aterrorizante que, no fundo, sabem que existe
mas tentam evitar a todo o custo.

tento tocar-lhes,
vendo-os esfumar-se e desaparecer.

no fundo da rua há uma luz,
ela puxa-me, mas eu permaneço,
sentindo raízes longas e fundas prender-me ao solo,
enterrando-se em minha pele.

duas mãos se tocando,
lábios roçando e risos de felicidade provenientes da luz fazem-me contorcer.
quero sair,
necessito de sair,
mas as raízes não o permitem,
os sentimentos dificultam-no.

pela primeira vez,
sinto algo que seja,
embora dilacerante.

as lágrimas escuras queimam,
os gritos aumentam,
o latejar em meu peito apodera-se,
ora unindo-se num órgão encarnado
e destruindo-o em meros segundos.

não só a dor me consome,
mas a culpa persegue-me.
sentem-se como facadas,
cortam-me o ar.

a realidade envolve-me como uma redoma de vidro,
permitindo-me ver a felicidade alheia,
mas impedindo-me de sair.

tudo se resume ao eu,
ao eu que sente,
ao eu que ama,
ao eu que tem culpa.

um viva ao eu que simplesmente deixou que isto acontecesse,
que a morte me chegasse emocionalmente,
que a dor se tornasse excruciante,
que não lutou.

ambos sorriem, na distância,
verdadeiramente felizes,
e, também eu, sorrio,
despejando para o ar um grito agudo,
lágrimas salgadas mas não rancorosas.

o egoísmo cega-me,
tira-me os sentidos.

por que não me libertas?

as raízes apertam com força ainda,
no entanto caio,
enfraquecida, sem vida.

sinto um toque abrasivo contra a minha pele,
abro os olhos, não vendo nada,
mas sabendo-o.

sei que és tu que sorris,
que acaricias minha bochecha e,
com três palavras,
terminas-me ali.

está tudo bem.

as raízes apertam-se permanentemente,
as lágrimas desfazem minha pele e os gritos rasgam-me o peito.

sem vida caio,
agarrada por eles,
pelos sentimentos que me consumiram seu eu saber.

𝟭𝟵 𝗱𝗼 𝗺𝗲𝘀𝘀𝗶𝗱𝗼𝗿, 𝗮𝗻𝗼 𝗖𝗖𝗫𝗫𝗩𝗜𝗜.

𝐎𝐗𝐘𝐌𝐎𝐑𝐎𝐍𝐒. | 𝐑𝐍𝐓𝐒Onde histórias criam vida. Descubra agora