Capítulo 2

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— Onde estava? Procurei-te diversas vezes hoje. — Nina esperava Eliza em seu quarto e a questiona assim que ela adentra apressada.

— Estava com os turistas fazendo meu serviço de guia. Nina, todos estão amando os sorvetes da tia Ciça. Tem sido um sucesso! — ela diz já tirando a blusa e o short, para entrar no banho.

— Graças a Deus e a você por isso. Mas essa história de fazer bico como guia turística e tradutora, olha só no que deu? Tá indo de novo para a floricultura sem almoçar. Precisa pensar na saúde Eliza. — Provoca Nina. Sentada na cama de Eliza enquanto ela se despe e entra no banheiro. — Eu vou descer e fico um pouco lá para você, para que possa almoçar antes de ir.

— Não precisa amiga. Deixei a marmita arrumada para comer lá mesmo, quando não tiver movimento. — Eliza fala de dentro do banheiro. Nina se joga na cama, deitando. — Nina o que vai fazer hoje à tarde? Devia ajudar sua mãe... Aquilo ali está bombando.

— Ah Liz, eu já te disse, não levo o menor jeito com cozinha. E a Lara é quem cuida da administração. Elas são sócias, não posso pedir esse cargo para ela. Eu estou ralando para me formar em administração, não quero servir de garçonete. Fora que se eu for pra lá, quem vai ficar na floricultura para Dulce, pela manhã? Agora que ela está doente, não aguenta mais. E você precisa dessa grana extra com os turistas para finalmente fazer o curso que tanto sonha.

Eliza sai do banho enrolada de toalha. — Nina você sempre se sacrifica por todos nós, não é? E olha, se você sair da floricultura e consequentemente eu também sair, Dudu vai empregar a Flávia, aquela moça que engravidou do turista ano passado, lembra? Ela também está precisando de emprego. Já a ensinei a fazer alguns arranjos principalmente os da igreja e ela já sabe muita coisa.

Ela pega no seu guarda roupa um vestido azul, de mangas balonê, cinturado e longo, que possui uma tira de pano imitando um cinto. Ela ajeita esse cinto na sua cintura, apertando-o, calça suas sandálias de couro rasteiras, prende os cabelos em um coque e passa seu perfume. A amiga parece pensativa, deitada em sua cama.

— Vai comigo Nina? — a amiga acorda de seu pensamento e levanta confirmando que sim. — Você tá bem?

— Estou... Sabe do que eu me lembrei? Assim, do nada, aqui deitada?

— Não. — Eliza põe as mãos na cintura.

— Daquele nosso baile dos 15 anos. Mais precisamente dos belos moços que nos cortejaram... — os olhos dela brilham ao falar seus pensamentos. Eliza respira fundo.

— cortejaram é? Fala sério, Nina. Eu fui cortejada, agora vocês? Poupem-me. Não gosto de me lembrar daquele dia, sempre que lembro sinto uma imensa tristeza pelo que fiz aquele moço.

— Nunca quis saber dele, Liz? De todos três o seu era o mais alto e mais gato. E também foi o mais gentil.

— Meu? — ela sorri. — Quem me dera ele ter sido meu. Eu o perdi para sempre quando o deixei com a cara vermelha, sem dar nenhuma explicação. Sabe, eu pensei muito nele, por muito tempo. Mas o homem nunca apareceu, nunca vi ninguém parecido, ou que tivesse a sua voz. Acho que eu reconheceria aquela boca linda assim que eu a visse. Ele me disse que morava no lado norte, e pelo tamanho do anel de ouro que ele tinha no dedo, ele deve ser bem rico. Não deve ter sido fácil para um rapaz de boa família, levar um tapa de uma plebeia da Vila. Eu não voltaria se fosse ele... Mas agora a realidade me chama e eu preciso trabalhar, vamos?

— Vamos. — Nina responde e acompanha Eliza, que pega a sua bicicleta rosa, com cestinha e bagageiro. Ela levanta aquele vestido comprido azul marinho e senta no coxo da bike e Nina ponga na sua garupa. As duas descem ladeira abaixo, sorrindo e fazendo todo mundo sorrir as vendo na bicicleta e gritando.

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