Parte I

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Andava apressado pelos corredores, depois de ter sido chamado com urgência à sala do meu gestor de tarefas, pressentia que algo ruim estava prestes a acontecer. Adentrei timidamente, tomado pelo nervosismo e depois de um cumprimento cordial, aguardei meu supervisor pegar uns papeis, em seguida ele comentou:

— Fernando, notei pelos seus relatórios que de acordo com a sua análise, você não concordará com a expansão no nível da barragem.

— Não sou eu quem discorda. A estrutura que está comprometida demais para suportar uma carga maior. — Estava tremulando, mas tinha que enfrentar meu superior e contar a verdade. — Senhor Guilherme, confira os estudos recentes sobre a estrutura da barragem, e notará que eu tenho razão.

— Eu os vi, porém, sabe do nosso comprometimento com a exploração do minério, e somos grandes demais para que uma burocracia humanista nos impeça de aumentar nossa produção e lucro. — Guilherme entrelaçou os dedos e me encarou com desdém. — Somos a Mineradora Estatal, o governo apoia todas as nossas decisões, e um simples engenheiro acha que pode impedir nossas ações? — Ele se levantou a caminhou até a saída da sua sala, mas antes de ultrapassar a porta ameaçou: "Cabeças vão rolar".

Essa última frase despertou o temor de perder meu emprego. Com a crise no mercado de trabalho, dificilmente conseguiria um emprego tão bom quanto o atual, Guilherme bateu a porta e isso dispersou meus pensamentos. Passei o expediente todo imaginando o que poderia acontecer se não concordasse e desse o aval para o aumento da capacidade da barragem.

Finalmente o horário de ir para casa havia chegado, adentrei o ônibus e segui viagem, pelo caminho pude ver a bela vegetação nos arredores da cidade que nesse momento era banhada por uma bela luz alaranjada do pôr do sol.

Em casa, minha esposa Milena e minha filha Melissa aguardavam minha chegada, ao perceber meu desanimo logo tentaram reverter isso, fingi estar mais contente para não preocupar minha família com os problemas do trabalho, foi uma tarefa difícil, porque me sentia pressionado pelo que meu chefe havia dito, e pensar que poderia perder um bom emprego e ficar sem conseguir dar o melhor para minha família, era uma tortura para minha figura paterna.

Uma noite mal dormida, e às cinco horas da manhã já estava de pé indo pra o trabalho. Logo que entrei no escritório encontrei Guilherme, ele percebeu meu receio em encará-lo e com uma risada cínica me informou:

— Bom dia, engenheiro de obras. O presidente geral quer conversar com você. — Dando um gole no copo de café que segurava, Guilherme falou apontando para o corredor. — Melhor se apressar, pois seu futuro pode ser decidido agora!

Na caminhada do corredor até a sala do presidente, me senti como o protagonista do filme À Espera de Um Milagre, mas estava decidido a ouvir minha sentença, minha mente dizia "calma isso é apenas um emprego, independente do resultado você tem condições para conquistar até mesmo algo melhor", e assim entrei na sala do presidente geral.

O silêncio que tomava o ambiente foi quebrado quando o presidente pegou alguns papeis e os colocou sobre a mesa enquanto falava:

— O que você quer para assinar e certificar que a expansão da barragem é segura? — Olhando fixamente para mim o homem terminou — Um aumento? Regalias? É só pedir, mas assina a porra da autorização!

Permaneci calado, era uma situação complicada, não conseguia formular nenhuma resposta que coubesse naquela conversa, vendo minha apreensão o presidente então retomou a palavra:

— Tenho uma proposta. — O homem pegou seu celular, abriu o aplicativo do banco e me mostrou a tela ao dizer. — O que acha de trinta mil? — Depois de alguns toques na tela do telefone meu chefe perguntou. — Posso transferir agora?

Estava confuso diante daquela proposta, imaginava o conforto que poderia dar a minha família, ajudaria os meus pais e faria coisas que eu apenas sonhava em fazer, mas não sabia se era certo aceitar aquilo, olhava para a tela daquele celular fixado no valor, quando presidente altera o valor e conta:

— Cinquenta mil é uma boa quantia, não acha? — Empurrando os documentos em minha direção juntamente com uma caneta, o presidente geral falou. — E para encerarmos a negociação adiantarei suas férias para que possa usufruir dessa bolada.

Foi tudo muito automático, minha ganância estava super aflorada e não permitia sequer a minha razão interferir na situação, assinei mesmo sabendo que a obra seria arriscada.

No dia seguinte as malas estavam prontas, dinheiro na conta tudo nos conformes para viajar com a minha família, passaríamos o mês inteiro no litoral de Salvador, era o tipo de férias que sonhávamos há muito tempo.

Fui tudo perfeito as melhores férias que já tive na vida, mas como tudo que é bom dura pouco, o mês passou voando e já estávamos no aeroporto para retornar para a nossa casa. Contente, minha filha Melissa queria um presente para lembrar da viagem, e numa barquinha compramos um ursinho de pelúcia, Melissa adorou e a imagem dela abraçando o ursinho era simplesmente a coisa mais fofa daquela viagem.

Depois do pouso no aeroporto finalmente tínhamos retornado, mesmo sendo uma viagem maravilhosa era ótimo estar em casa, pois não há nada como o nosso lar.

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