Desafio Vinte e Seis - Exemplo

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Quantas vezes era preciso fazer decisões difíceis no seu cargo? Ele sabia que os seus subordinados, especialmente os sargentos, falavam mal dele. Ele ignorava, mantinha a sua posição e aumentava a sua distância e superioridade. Não poderia explicar as suas decisões e a obrigação dos sargentos era obedecer, mesmo sem perceber porquê. Ele estava encarregado de informações secretas, informações que apenas o estado sabia e o seu gabinete. Muitas vezes tinham missões quase impossíveis dignas de um filme. Só que ali não havia efeitos especiais, apenas, homens.


Os soldados do seu esquadrão faziam parte das forças especiais e, por isso, tinham muita ambição. Não entendiam as suas decisões só que queriam fazer as missões de seguida para conseguir uma promoção. Se não voltassem vivos, para que servia a promoção? Por muito que lhe custasse por vezes, ele fazia sempre a escolha dessas missões para os soldados sem filhos pequenos. Se era errado? Não era era errado ter essas missões? Todos tinham família, se não fosse mulher ou marido e filhos eram filhos de alguém, irmãos de alguém. Não era justo era ter uma missão em que se tinha menos de vinte por cento de taxa de sobrevivência. No entanto, era o seu trabalho e eles eram os melhores dos melhores.


A sua assistente, a Tenente Angelina, olhava para ele com compaixão. Ela tinha demasiado coração para uma militar, era demasiado feminina, corpo bem delineado e aparência de uma modelo, para um ambiente de trabalho daqueles, por isso, escolhera-a como assistente, custava-lhe vê-la a ser humilhada pelos outros coronéis e soldados. Como recompensa, ela tinha-se dedicado ao trabalho afincadamente e nunca se queixava. Ela, como ele, sabia as missões que tinham. Sempre que tinham uma missão assim, ela olhava-o daquela forma. Como conseguisse ver a sua fraqueza. O seu coração mole. Por dias tinha vontade de lhe dizer o que sentia, dizer frases lamechas como «Só tu me consegues ler», mas reprimia-se vivamente. Além de ser assédio no trabalho, ele era apenas mais vinte anos mais velho do que ela, divorciado e com dois filhos. Conseguia imaginar a cara dela a rir-se da sua figura. Um coronel a cair numa paixoneta como um adolescente. Sacudiu a cabeça e voltou à seleção dos soldados.


Tinha que escolher os mais aptos porque tinham maiores hipóteses de sobrevivência, no entanto, ele preferia que fossem aqueles sem filhos pequenos. Havia um soldado, com aptidão dentro da média que andava a pedir insistentemente para ir numa missão. Talvez pensasse que se fosse a mais vezes a missões subia nas avaliações de aptidão. Ele estava abaixo dos níveis necessários para esta missão e tinha filhos. Não o poderia deixar ir. O problema era que os seus melhores soldados, aqueles que sobreviviam a quase tudo, estavam de folga da última missão que tinha sido complicada. A Tenente interrompeu os seus pensamentos.


– Deixe-o ir, coronel. Percebo porque não quer que ele vá, mas acredite em mim, deixe-o ir.

– Não é assim tão simples... É uma missão importante, deveriam ir os nossos melhores homens. – resistiu – Não tem qualificações suficientes e...


– Eu sei, – assegurou–, sei perfeitamente o que quer dizer. Mas é um dos melhores soldados que temos neste momento e ele quer ir. Ele está desejoso de ser útil – sorriu-lhe com um ar encantador.


O Coronel dispensou-a e selecionou os restantes soldados sozinho. Angelina sorriu quando viu que o soldado que tinha pedido ia nesta missão. Depois de um ano parado, ele queria voltar às missões, estava a ficar deprimido. Ela sentiu que mais uma vez o Coronel conseguira compreender as suas emoções e razões. Só ele a conseguia ler. 

52 Desafios de EscritaOnde histórias criam vida. Descubra agora