A oportunidade

302 13 5
                                    

Desliguei a luz e fiquei às escuras. Depois vi uma sombra, mas para haver sombra, tem de haver luz. Percebo então que não estava na escuridão,  mas naquilo a que a minha consciência chama de escuro.

Enfim, sou sempre muito teórica quando estou com sono... Pensei mais um bocado, e adormeci.

Despertei com o barulho que o jardineiro estava a fazer, a cortar a relva, só pode. É assim todas as manhãs de sábado.  Ou acordas antes de ele chegar, ou acordas enquanto ele já está a trabalhar.

A minha irmã chamou-me.  "Oh Bella", uns tratam-me por Isa,  outros por Bella e outros apenas por Isabella. Todos os que me conhecem sabem que odeio que  me tratem por Isa, e quando o chamam é só para me irritar. Bem, fui ver o que a minha irmã, Charlotte,  queria. Era apenas para me mostrar que uns pássaros tinham feito ninho no parapeito da sua janela. Apenas pensei "que bom, já não basta seres tagarela agora vou ter de levar com o piar dos pássaros dia e noite".

Fomos tomar o pequeno almoço ao café que fica mesmo em frente à nossa casa.  Aquilo à noite é uma barulheira, fazem noites de karaoke,  cada um pior que o outro. Só costumamos ir lá durante as férias,  porque durante as aulas não há tempo para isso. Comemos sempre o mesmo, tostas secas com uma "pitada" de manteiga e uma garrafa de leite.

Entra uma senhora, toda bem vestida, saltos altos, saia pelos joelhos e com uma camisa ao xadrez. Cada passo faz faz mais barulho que outro,  aproximou-se do balcão, e, perguntou ao senhor Alberto se podia colocar um cartaz na parede. Ele respondeu que sim, acenando com a cabeça. Ela virou-se, olhou para mim, e seguiu em frente. Aquele olhar assustou - me tanto que a tosta que tava a comer ainda me pareceu mais seca do que estava, mais seca que um deserto.

Tivemos de ir ler o cartaz, obviamente. Nem podíamos acreditar no que estávamos a ver. "Isto é a nossa oportunidade", suplicou a minha irmã. Sem mais nem menos, arrancamos o cartaz da parede e fomos a correr para casa. Se pagamos o nosso pequeno almoço? Não. Mas o senhor Alberto já sabe que nós somos assim, umas cabeças no ar. Depois a nossa mãe vai lá pagar. Já não é a primeira vez que isto acontece, ela já está habituada.

Quando chegamos a casa foi o alvoroço total. A minha mãe começou a ler o cartaz em voz alta " Inscrições para a Universidade de Sheffield, abrem dia 01 de setembro..." ela teve uma paragem total. Porque ela sabia que era exatamente aquilo que nos queríamos fazer da vida. Ir estudar para Inglaterra. As lágrimas escorrelham-lhe lentamente pelos olhos, lágrimas tão cristalinas, tão puras, tão verdadeiras. Acho que ela não conseguia aguentar o facto de nós a deixarmos.

Você leu todos os capítulos publicados.

⏰ Última atualização: Oct 16, 2014 ⏰

Adicione esta história à sua Biblioteca e seja notificado quando novos capítulos chegarem!

IsabellaOnde histórias criam vida. Descubra agora