" Eu posso me lembrar da arquitetura do navio. Ele era perfeito, como nas histórias que minha babá me contava, de grandes reis e rainhas. Eu tinha 19 anos, não era mais uma criança tola e imatura. Eu estava ali, dentro daquele lugar para cumprir meu destino. De casar com um homem rico e assim, dar orgulho para meu pai."
"Eu nasci em 1893. Em pleno inverno, onde minha mãe estava severamente doente. Josephine era o nome dela. Josephine Walters. Uma mulher que a vida não lhe sorriu, mas que conseguiu um pódio de amante de um rico banqueiro. Nesse romance inescrupuloso, veio uma menina de intensos olhos azuis, onde meu pai não pode negar que era filha dele. Afinal, meus olhos eram os dele. Eu fui educada na classe que toda aristocrata poderia ser criada. Ligada á família real, eu era tataraneta de algum conde inglês, mas o título deve ter se perdido. Não me importo com isso agora, já que estou um pouco velha. Aliás, esse diário está sendo escrito em uma noite de 1930".
" Nesse navio, vi minha mãe entrar e sair de diversos períodos de bebedeiras e de reclamações. Ela tinha seus 49 anos, era uma mulher muito bonita. Mas perdida, entre a vergonha de ser concubina e do medo da filha seguir seus passos. Meu pai, eu tinha visto apenas duas vezes em vida. A última, foi no dia da embarcação do Titanic. Ele apertou minha mão e me chamou de filha. Disse que eu tinha que cumprir esse destino, porque era o único que ele poderia me oferecer. Sendo assim, eu fui."
"Parece mentira, mas eu estava com medo. Não conhecia o mar direito e ele era apenas algo estranho para mim. No dia da embarcação, fiquei maravilhada e andei pelo deck, abraçada ao meu guarda-chuva. Foi quando eu o vi. Olhos verdes e uniforme, porte alto"
"Ele tinha olhos tão verdes quanto musgos. Usava um uniforme de almirante, um chapéu e era rígido, porém belo. Eu me perdi nele, enquanto minha mãe, feliz e decidida, falava em francês sobre a embarcação. Eu quis vê-lo, mas fui levada pela multidão inteira, ao saber que eu era a noiva do jovem Maison, o sobrinho-neto do magnata das armas".
Harry olhou para o diário. Ele havia lido apenas poucos trechos, pois estava assustado. Louise havia sobrevivido. Diferente dele, que morreu na tentativa de salvar quem ele podia.
Ligou para o Dr., que prontamente o atendeu.
— Harry.
— Tem um tempo?
Louis estava em seu dormitório. Harry o deixou lá, na promessa de voltar. E a promessa foi selada com um beijo caloroso e um sorriso.
Enquanto Harry deveria estar atrás de uma ajuda, Louis tomou toda coragem para ligar para sua tia, Elisa. Eles não se falavam desde do funeral de sua mãe, onde Elisa chorava tanto e pedia para que não deixassem sua irmã ir.
Elisa morava em Londres, mas Louis ainda tinha vergonha de encará-la.
Ela atendeu no primeiro toque.
— Louis?
— Ah... Eh... Oi Tia.
— Que surpresa essa ligação. Você não fala comigo desde...
— Do funeral da mamãe. Eu sei.
— Você foi muito ingrato de não me deixar ficar com seus irmãos. Quem está os criando?
— Mark é um bom pai e Daniel também. Os gêmeos estão sendo bem cuidados por toda a família.
— Dois pais para tantas crianças. Eles mereciam uma figura materna.
— Eles já tem nossas irmãs.
— E qual o motivo dessa ligação? Para me ofender?
— Tia Elisa, por favor...
— Tudo bem, tudo bem — Ela assoou o nariz — Eu só falo isso porque amo vocês e quero o bem de todos.
— Tia, por favor... Precisamos conversas sobre meu pai.
— Mark?
— Não tia — Louis olhou pela janela — Meu verdadeiro pai.
— Você precisa sair daqui — Harold a levava para o bote salva-vidas — Não posso te perder assim.
— E eu posso te perder? — Ela abraçou o xale — Harold, eu te amo!
Ele viu lágrimas apossarem os olhos azuis dela.
— Eu também te amo — Ele enxugou uma das que caíram — Mas você não merece morrer aqui. Não no meio do oceano, sem que ninguém vele por seu corpo.
— Harold.
— Louise... — Ele a beijou na testa. Entre o casaco de almirante, ele tirou seu cordão — Leve isso em terra. É tudo o que me resta, como almirante. Além do meu coração, que já é seu.
Um estrondo fez as pessoas gritarem. Louise se apertou em Harold.
— Eu não vou morrer aqui — Ele a abraçou mais — Minha alma é imortal. Ela vai te encontrar, muito em breve. Se eu demorar, me espere.
— Onde eu poderei te esperar?
Harold a encarou.
— Me espere no cais. Olhe para o mar e sempre que olhar, saberá que sou eu.
— Não sei se suportarei minha vida sem você.
— Apenas viva. Você terá uma vida longa e feliz. E quando partir, dessa vida... Me encontrará em outra. E nessa outra, viveremos eternamente juntos. Como um só. Como mar e sol.
Ele a beijou. Um beijo calmo, onde Louise sentiu o sabor das lágrimas dela.
E ele se separou, a levando para o bote.
— Desça um, já está cheio! — Um dos homens gritou.
Louise gritou, mas já era tarde. O bote desceu para a água, e tudo o que ela viu foi o semblante de Harold chorar.
— Me espere no cais — Harry repetiu — Ela sobreviveu.
— Sim — O Dr. Brian sorriu — E ela viveu uma longa vida. E agora, ela voltou para você, Harry.
— Eu preciso dela.
— E agora você a tem.
Harry sorriu.
— Mas Louis quer... Pesquisar mais a fundo. Ele quer saber quem foi realmente, Louise. Porque ela estava no seu sótão, tantos anos...
— Isso é algo entre vocês, Harry.
Ele assentiu. Olhou para o velho diário, empoeirado. Louis deveria saber mais e ele também.
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Finalizando em breve...
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Sea. ( AU!Larry)
FanfictionEm 1912, Harry encontrou Louis. Mas o destino os separou por uma tragédia. Em 2018, eles se encontraram novamente em um elo de alma e amor. O que você lembra de outra vida?