Andar pela floresta de manhãzinha era como uma terapia para Thalia.
Os sons dos animais acordando e buscando pela primeira refeição do dia, o gorgolejar da nascente do rio soando calmamente e a diversidade de aromas no ar era o suficiente para que todo o seu ser se enchesse da mais pura e genuína paz.
A vastidão da floresta de coníferas era de se encherem os olhos. Enormes sequoias e ciprestes nasciam ali, além de vários pinheiros e cedros. O cheiro da folhagem era inebriante, relaxando instantaneamente os músculos da sempre tensa garota.
Coletar ervas ali era um tanto quanto complicado. Primeiro que ela sempre tinha que disputá-las com algum animalzinho e segundo que o solo era um tanto quanto... Traiçoeiro.
Há muitos anos atrás, na época em que Darkwood Pines era apenas uma vilazinha de menos de cem habitantes, a imensa floresta que dava nome à cidade tinha uma fauna extremamente diversa e, bem, muito populosa.
O grande número de espécies raras e valiosas atraiu a atenção de muitos caçadores. E só depois de ter acontecido um verdadeiro extermínio em massa dos animais foi que o governo resolveu criar uma lei para protegê-los. Muito inteligente.
Bom, o fato é que sempre havia a possibilidade de você cair em alguma armadilha ao perambular por aí com a pouca luz do Sol de inverno.
Felizmente, Thalia tinha conhecimento suficiente da floresta para se orientar sem se perder ou se machucar. Enquanto se esquivava das altas raízes e armadilhas, ela voltou seus pensamentos para a tiragem da carta daquela manhã.
Desde sempre, ao acordar às 6h da manhã, ela tomava seu banho quente e sentava para ler as previsões para seu dia. Tirava sempre uma carta após embaralhar o monte por três vezes. Era seu ritual matinal.
A pergunta que ela idealizava era sempre a mesma: "Como vai ser o meu dia hoje?". E às vezes a carta era mais inconclusiva que a previsão do tempo.
Por exemplo, naquele dia, ela havia retirado A Morte.
Os significados do baralho mudam de acordo com o que se pergunta e com o que se mentaliza na hora de retirada então, naturalmente, A Morte pode ter inúmeros significados.
Thalia achava que poderia significar o começo de um novo ciclo em sua vida, mas era difícil dizer com exatidão. Nunca fora como sua meia-irmã que acertava todas as previsões, sempre algo lhe escapulia do pensamento ou deixava tons de imprecisão no ar.
De qualquer forma, ela seguiu com sua rotina. Coletou flores, plantas e encontrou alguns animais a andar por aí.
Tudo estava no seu devido lugar. Talvez ela tivesse interpretado a carta erroneamente... de novo.
✶⊶⊷⊶⊷❍⊶⊷⊶⊷✶
Ok, de quem fora a brilhante ideia de passear com os cachorros numa floresta desconhecida às 6h da manhã de uma segunda-feira gelada?
Ah, claro, fora de Reyna.
Por que Hylla tinha de ser tão irritantemente perfeita em tudo?
Sua irmã mais velha adorava meter o bedelho onde não era chamada, principalmente em coisas pertinentes à rotina de Reyna. Vivia falando que a irmã deveria acordar cedo, fazer exercícios, tomar um shake protéico ou, sei lá, passear com os cachorros pra ajudar a perder peso.
Claro, Reyna nunca fora de ligar para seu peso, mas às vezes comentários indelicados enchiam a paciência.
Então, depois de muito pensar na noite anterior, decidira que iria pelo menos levar Aurum e Argentum para dar uma volta. Afinal, que mal havia em caminhar?
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Do you believe in magic, Reyna?
FanfictionThalia era uma garota solitária que vivia numa cabana na floresta da cidade e se denominava bruxa. Reyna era apenas alguém curiosa demais para o seu próprio bem.