Gorilla

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Bruno se sentou, tirou o chapéu e passou a mão pelo cabelo, deixando-o ainda mais desgrenhado, a mente fervilhava com a quantidade de coisas que tinha que resolver aquela noite, precisava pegar a corrente com Nya antes que começasse a cantar e conhecendo-a sabia que não entregaria a corrente sem um escândalo ou sexo.

Precisava fazer Isabella entender que o fato de ter ficado com a costa-riquenha não significava que ele tinha mudado de ideia, queria mais do que nunca ir embora dali com ela.

Depois, Jamereo logo estaria ali para pegar o pacote, ele tinha que encontrar um espaço entre Nya e o início dos trabalhos para entrar na lata velha de Isabella e desenterrar a coisa antes que ele chegasse ou acabaria colocando todos numa confusão.

Ainda não sabia como fazer quanto ao empecilho de entrar no carro, que não era nem de longe uma lata velha, o Impala 67 era lindo e bem cuidado, Isabella fazia questão de ela mesma fazer os reparos mecânicos e periodicamente pedia para Julio lavá-lo e encerá-lo.

Todos logo perceberam que era a coisa mais valiosa do mundo para Bella, e Bruno sabia que tinha algum valor sentimental por trás de todo aquele zelo, justo ela que não gostava nem de pentear o cabelo ser tão apaixonada por um carro; ficava evidente como se importava. Para implicar, ele chamava o carro de calhambeque ou lata velha.

Por um segundo distraiu-se pensando na primeira vez que tinham feito amor no banco traseiro do Impala, Isabella gritava e batia no peito dele, foi naquele dia que começou a chama-lo de "gorila", ele adorou o apelido, mas a verdade é que não era ele o gorila.

Isabella era insaciável, "dame papi" era como ela implorava por mais cada vez que a penetrava isso quando não lhe batia na cara e xingava em inglês "give to me motherf*cker", Bruno não conseguia decidir qual dos dois humores era mais excitante. Lembrou-se de que no dia seguinte estavam com diversas mordidas pelo corpo e alguns hematomas.

Haviam encontrado seu próprio ritmo.

E era muy saboroso.

O barulho de uma guitarra sendo conectada trouxe os pensamentos de Bruno de volta ao problemas; a tal encomenda deveria ter sido entregue na semana passada, quando Isabella sumiu no carro e ele quase morreu tentando explicar à John que tudo não passava de um grande e bem bolado plano para despistar os federais.

Mentiu para ganhar tempo enquanto procurava pela namorada desaparecida, depois do terceiro dia sem pistas afundara-se em álcool e sexo, porque se ia morrer pelo menos curtiria até o último momento, talvez desse sorte de Jamereo e John aparecerem para acertar as contas quando ele estivesse tão bêbado que não perceberia a morte chegar.

Isabella voltou antes da morte e agora ele tinha novos problemas, mas pelo menos estava vivo.

A verdade é que ele escondera o pacote no Impala da namorada sem contar a ela onde estava porque seria complicado demais explicar de onde parte do dinheiro para a fuga estava vindo, não queria que Isabella soubesse das coisas que estava fazendo para conseguir a grana, mas não contar a ela estava custando o fato de não ser perdoado pelo que aprontara em sua ausência.

Não é como se ela fosse uma santa e inocente mas Bruno gostava da maneira como o olhava, quando não estavam brigando, claro. A mirada dos olhos oblíquos lhe transmitiam admiração, respeito e paixão, ele se sentia muito bem sendo a pessoa que ela achava que ele era e estava trabalhando pesado para que em breve ele não tivesse que ser nada além disso, do Bruno que Isabella acreditava existir.

Tudo tinha ficado um pouco mais complicado com o sumiço repentino dela, dias atrás, até então não haviam conseguido conversar sobre o ocorrido. Ele não sabia a razão do desaparecimento e ela não estava nem um pouco afim de ouvir as explicações a cerca de Nya.