UM CORPO

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Onde queres o livre, decassílabo/

E onde buscas o anjo, sou mulher

(Caetano Veloso)


Então tu me chamas na calada da noite e pede que eu fique, porque tu choraa e não há alguém que te escute, porque tu sentes frio e não há alguém que te abrace. Falta o outro, falta o outro para tu conduzires os passos, minimamente pensados, para a dança. Tu atravessas a rua e diz se lembrar da flecha que atravessa nossos corações e pede para dançarmos valsa, até entregarmos o ósculo e o óbulo que não nos pertencem.

- O Peso é maior do que você pode carregar, eles dizem

- Não pode fazer isso comigo, André.

- Eu te perdoo, André

Porque eu preciso daquela tarde em meus braços, para controlar o movimento do tempo, segurando-o mais por um ano inteiro (quanto mais eu escrevo, mais a dor no peito alerta a tua ausência). Teus olhos castanho-claros contornam a tarde do pôr-do-sol (Uso veneno diariamente para não esquecer a cura). A gente estava ali por um segundo (me disseram que eu me apaixono rapidamente, não me disseram que acaba)

Vamos a uma estrada, tu paras o  carro enquanto acompanho a vista, teus olhos me investigam, tentando decifrar os meus riscos, não sei para a qual destino teus olhos vão, não sei aonde meus riscos podem me levar...

O seu abraço tenta me convencer que não há falta de nada, então você me leva a outro lado (e eu tenho certeza que nunca foi amor). Tuas mãos e teu olhar tentam disfarçar, inutilmente, a calmaria/tempestade que tu és. Tua presença fria devora meu corpo quente que pede resposta e tu o negas, silenciosamente. Leva-me para onde queres ir e tenta me convencer que sou tua, me conduz na dança, dizendo o próximo passo, para depois me deixar na rua.

RETALHOS E RETRATOS DE NÓS DOISWhere stories live. Discover now