1 - Céu

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As lágrimas de Levi jorravam incessantes tais como a forte chuva que lá fora caia.

                                                                 FU                                              RO

                                                                                          TU

Tenho muito medo dessa palavra, ela me atormenta todos os dias, me faz sentir pequeno, medíocre, simples. Ela sempre aponta para frente, para longe, para fora de minha zona de conforto. Ela nada mais é do que a parte ainda não escrita de minha história de vida, o problema é que já não tenho coragem para preenchê-la.

Sinto que todo o esforço que fiz até aqui foi em vão, foi sem motivo ou propósito, e isso porque ainda é insuficiente, ainda está faltando algo, ainda tenho que entregar mais de mim. No entanto, já não há mais nada que eu possa oferecer, nada que eu ainda consiga investir em minha tarefa, meu ânimo se foi e levou consigo minha força, disposição e saúde. Me sinto constantemente desnorteado, já não sei mais o que fazer, o que sentir, como proceder ou, até mesmo, como reagir aos dias que vem e vão. Queria apenas uma luz, algo que me fizesse conseguir ver além. Queria conseguir achar uma maneira de continuar lutando por meus sonhos e por mim mesmo, mas começo a achar que já é tarde demais para isso.

Levanto de minha cama embebido de sono e tristeza e caminho até a janela. Após alguns minutos, consigo captar com minha visão periférica um brilho diferente na noite escura, o que acaba por tirar-me de meus pensamentos. Miro mais uma vez o céu e percebo que uma estrela está se movendo rapidamente. A princípio eu penso que se trata de uma estrela cadente e me vem à vontade de fazer um desejo, mas quando abro a boca para proferir o desejo vejo a estrela vindo em minha direção. Ela chega cada vez mais perto de mim e à medida que avança ela vai se transformando em um pequeno ser e seu brilho vai diminuindo.

Até que, enfim, ela se põe em frente ao meu rosto e nesse momento consigo vê-la com clareza. Trata-se de uma pequena menina, do tamanho de uma taça de cristal, que está vestida toda de branco, tem longos cabelos negros, expressão amigável e, o mais impressionante de tudo, um par de asas transparentes que batem incessantemente e que a fazem flutuar em frente a meu rosto.

- Olá Levi – disse a pequena menina com asas.

- O... Lá? Como sabe o meu nome? Quem e o que é você? – pergunto desconfiado.

- Eu sou Alegra, uma das estrelas que estavam em volta da lua agora pouco, eu venho te observando há alguns dias, e enfim resolvi vir em seu auxílio.

- Mas como isso é possível? Não quero ser indelicado mas eu não sabia que estrelas desciam para ajudar humanos. Muito menos que elas tinham uma forma definida, achei que vocês fossem apenas pontos brilhantes que enfeitam o céu.

- E elas realmente o são, no entanto, eu não sou uma estrela comum.

- Não?

- Não, eu faço parte de uma família ancestral de fadas lunares que vivem próximas à lua. Vocês olham para nós e nos confundem com estrelas, nós só somos reconhecidas quando diminuímos nosso brilho, ou quando chegam muito perto de nós.

- É... Ok, isso não faz o menor sentido e eu estou começando a achar que perdi minha sanidade mental de vez. – digo balançando a cabeça em negação.

- Não se assuste, garanto que isso é perfeitamente normal e que você não está louco, vocês humanos precisam parar com o clichê de acharem que são os únicos seres conscientes do universo. – disse a garota em tom de reprovação.

Fiquei um tanto quanto espantado com a resposta da pequena menina, e, após ponderar por alguns instantes, disse para ela:

- Certo, partindo do pressuposto de que tudo isso é real, você me disse que veio aqui para me ajudar, como você fará isso?

- Vou te levar em um pequeno passeio, existem algumas pessoas que com certeza vão te ajudar a clarear as ideias. Você vem comigo?

Pensei por algum tempo e analisei minhas possibilidades, até que, enfim, respondi para a estrela:

- Sim, já que você tem certeza de que pode me ajudar, eu aceito ir com você.

A fadinha abriu um sorriso, pousou a pequenina mão sobre o meu nariz e em instantes algo incrível começou a acontecer. Quando me dei conta, nós dois estávamos saindo flutuando pela noite escura.

A Carga Dos DiasOnde histórias criam vida. Descubra agora