capítulo único

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O cavalo caminhava calmamente pelas pradarias na manhã póstuma e nublada. A capa cinzenta de camurça fina do Imperador cobria a traseira do animal branco como a neve e parte de seu rosto também. Os punhos cerrados demonstravam algo entre o nervosismo e a raiva. Um homem de seu porte, detentor de um poder quase divino, indo consultar-se com um mero feiticeiro. Sentiu a raiva corroer as veias e despontar no coração. Detestava-o, do fundo do coração.
Moonbin detestava o fato do feiticeiro ser tão misterioso. A fragrância de dama da noite que emanava de seu corpo o seduzia, abobalhava, sentia-se imerso e alcoolizado. Detestava o fato do feiticeiro não cobrar absolutamente nada por seus serviços ao Império, mas as palavras que escolhia, a aura inexplicável que emanava, tudo o envolvia demais para não cair nos encantos do Park. Quis colocá-lo ao seu lado num momento de loucura, queria casar-se, enchê-lo de riquezas, mas o feiticeiro nada daquilo desejava.

— Chegamos, meu senhor. - Jinwoo, o general, proferiu. Era dele a ideia de consultar o milenar amante das estrelas e conhecedor do poder do cosmos. — Quer que eu o acompanhe?
— Não é necessário. - Moon suspirou, descendo do cavalo e vendo os soldados o amarrarem e darem de beber ao animal. — Disso eu tomarei conta. Vá até o arqueiro Sanha, Jinwoo. Conte-o da campanha e ofereça ouro para que ele junte-se a nós. Ofereça cinco sacos de ouro a ele e duas dúzias de moedas de prata a cada homem da Ordem dos Arqueiros que se juntar a nós. 
— Certamente, meu Imperador. - Jinwoo proferiu, curvando-se delicadamente e voltando a galopar em direção a frondosa floresta acima dos alpes das florestas densas e sombrias.

Moonbin encarou a porta da cabana. Estava diferente da última vez que viera, bem como toda a estrutura da parte externa. Possivelmente houveram reformas que aumentaram o conforto do feiticeiro. O Imperador indagou-se como aquilo seria possível, já que o feiticeiro raramente cobrava por seus favores e conselhos. Suspirando, bateu na porta. Já havia desistido de entender a mente de Minhyuk.
Uma fresta da porta abriu-se ao toque do Imperador, indicando que a mesma estava aberta. Retirou o capuz, encarou o interior escuro da casa e entrou, já sentindo o cabalístico cheiro do incenso impregnado pelo local. Fechou a porta, imerso na escuridão.

— Sabia que viria. - Ouviu a voz aveludada do feiticeiro, que o arrepiou dos pés a cabeça. O Imperador despiu-se da capa cinzenta, a colocando num mancebo. Arrumou a camisa de seda, as jóias no pescoço e nas mãos, indo até o cômodo central da casa, observando-o.
Naquele momento, o ar quase lhe faltou dos pulmões, como um soco recebido no plexo solar. O bruxo parecia mais adulto, mais viril, mais belo. Os fios cinzentos brilhavam de forma quase divina, em tons frios que contrastavam com a chama quente das inúmeras velas que o cercavam. Uma coroa de flores se entrelaçava entre os fios cinzentos, e a imagem quase egrégia era quebrada pelos olhos negros e profundos que olhavam o âmago de seu ser. A bata roxa do feiticeiro estava larga, caindo pelos ombros e revelando o pescoço cheio de amuletos. 

— E sabe qual o motivo da minha visita? - O Imperador questionou, sentando-se na cadeira da frente e, como de costume, escolhendo uma carta.
— Certamente não é para me ver. - O bruxo sussurrou, escolhendo um incenso especial para acender. Moonbin respirou fundo, e quando o bruxo se inclinou para frente, pôde sentir o perfume das flores e da natureza se misturando com a essência oculta do incenso. — Uma campanha, correto? São tantos riscos e dúvidas... Você quer um conselho.

Moonbin respirou fundo. Sabia que, apesar de viver sob território de seu Império, o bruxo poderia muito bem tomar as dores do lado que quisesse. Levantou-se da cadeira, rodeou o feiticeiro algumas vezes e parou atrás do mesmo. Sacando sua adaga num movimento rápido, o Imperador tocou a lâmina fria e perfurocortante sobre o pescoço do mago, pressionando com cuidado a região.
— Você está servindo ao Imperador do Oeste? - Moon perguntou, rente ao ouvido do rapaz. — Eu achei que tivéssemos um trato, uma história... Não vai me trair, certo?
— Luas se passaram, Imperador... - O mago sussurrou, não parecendo se incomodar com a pressão da lâmina sobre sua garganta. — Mas eu continuo o mesmo. O Imperador continua sendo meu senhor e eu continuo servindo somente aos seus propósitos.
— Então me conte... - A voz rouca do Imperador perpetuou no ambiente, quase como se ecoasse pelo cômodo de forma sepulcral. — O que dizem as cartas?

imperator ;; binhyukOnde histórias criam vida. Descubra agora