1 - Banquete Infernal

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Respirei bem fundo.

Eu sabia que tinha que preparar tudo para mais tarde, afinal hoje seria um dia especial. Seria o dia em que mostraria que quando dou minha palavra, eu não volto atrás. Pelo menos não com facilidade.

Muitos magistas estariam presentes e eu queria dar uma boa impressão, tinha que fazer um bom jantar principal, mesmo que todos tivesse confirmado que ajudariam na comida. Vinhos, licores, frutas, doces, salgadinhos, entre outras coisas estavam garantidos. Mas disse a todos que seria eu mesma a dar não só a casa para a festa acontecer, como o prato principal. Ninguém refutou o que foi ótimo para os meus planos.

Levei dias colhendo as ervas sob os momentos certos, preparando as combinações de molhos para os pratos e tudo mais. Estava sendo uma verdadeira chef de cozinha, muito melhor do que aqueles atrapalhados do Master Chef. E não só uma ótima inteligência para gastronomia, eu também tinha a magia do meu lado e o antigo livro de receitas mágicas que Vovó Fernandes havia deixado secretamente para mim. Ela sim sabia como impressionar qualquer um só pela imagem de seus quitutes, podia encantar alguém com uma simples azeitona e curar alguém somente dando água aromatizada com laranja.

Ela me ensinou muitas coisas, até coisas que não havia ensinado à minha mãe.

Folheei o livro em busca da receita que vira há uns meses atrás, quando a reunião foi marcada. Esse prato seria o ideal para mostrar que não piso na bola, que o que aconteceu foi um "acidente" e nada mais.

O barulho de metal sendo sacudido me tirou dos meus devaneios enquanto buscava a receita, lancei um olhar brusco para gaiola antes de chutá-la e fazer o que causava aquele som se pôr em seu lugar.

"Fique quieto! Ou então eu faço você ficar" reclamações vieram, mas ignorei meu convidado irritante voltando a minha procura.

Quando achei a receita, estalei os dedos sorrindo e comecei minha magia.


A reunião estava indo muito bem, todos comiam, se divertiam e conversavam... não tinham nem ideia do que viria a seguir. Quando chegou a hora da janta, nos juntamos à grande mesa na sala de jantar e eu comecei meu breve discurso.

"Queria muito agradecer a cada um aqui por essa oportunidade e tenho certeza de que não irão se arrepender. Levei dias para juntar tudo o que precisava, preparei tudo conforme minha avó teria feito, inclusive a receita é de um livro antigo dela; fiz tudo com muito esforço e dedicação. Espero que apreciem e gostem" eu dei meu mais largo sorriso e fui aplaudida por todos.

Não só fiz um prato, como alguns mais. Acompanhamentos para o que viria antes e durante o prato principal. Todos se deliciavam com as carnes e legumes ao ponto, as verduras cozidas à vapor e as saladas agridoces com as frutas dando cor. Eles apontavam para as comidas e para mim enquanto elogiavam em cochichos e concordavam com acenos de cabeça ao longo das conversas paralelas. As luzes das velas brancas e vermelhas flamejavam lindamente, uma beleza que parecia ser contida, mas era indomável.

Levantei-me dizendo que traria o prato principal recebendo diversos gritos de alegria e comemoração, pois diziam que se a entrada estava tão maravilhosa, o prato principal seria divino. E ao que fazia o meu caminho para a cozinha, eu apenas sorri com a declaração.

"Lembram do que nos trouxe até esta noite?" Eu retornava com uma bandeja de prata tampada sobre um carrinho.

"Claro" Augusto, um homem negro com seus quarenta anos, respondeu. "Foi por conta daquela tentativa ridícula de você tentar trabalhar com demônios para exorcizar o filho dos Houston. Aquilo foi burrice sua... ainda bem que reconheceu e pediu por reparação" ele deu risada acompanhada dos demais.

Sussurros à Meia-Noite (vol. 1)Where stories live. Discover now