O Sol

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Nem todos os dias serão de sol, mas em todos eles eu estarei com você.









Era uma vez, numa terra distante, todos os seres vivos eram plantas. E todos eles, carregavam consigo, o seu Sol Particular. Uma pequena esfera que brilhava sobre as suas cabeças lhes dando energia, força e alegria . Todos eles precisavam daquilo para existir.

Exceto nosso amigo Cactu.

Ele não tinha seu próprio sol. Por conta disso, ele não tinha energia, força, nem alegria. Por isso sempre era visto chorando.

Um dia ele descobriu que era capaz de acender o sol dos outros que se apagavam.

Aquilo o fez se sentir especial, mas logo ele percebeu que não podia demorar muito tempo por perto.

Ele não só era feito de espinhos e machucava os outros só pelo fato de estar por perto, mas ninguém suportava tanto sol. Queimava. E os outros cansavam daquilo rapidamente.

E outros, não raras vezes, diziam a ele: " Você não pode iluminar o sol dos outros sem ter o seu! "
Mas nosso amigo Cactu não entendia como poderia fazer aquilo. O seu sol nunca se acendeu.

Com o tempo ele foi cansando de buscar alguém que lhe entendesse. Cansando de tentar encontrar alguém que visse algo de bom nele. Ele não julgava os outros, a culpa era por ele ser daquele jeito e ele entendia que ninguém era obrigado a aguentar tantos espinhos.
"Se eu fosse elas, eu também não iria me querer", pensava ele.

Certo dia, uma grande tempestade surgiu. Arrancando as grandes árvores de seus lugares e causando caos por todo o lugar. Nosso amigo Cactu, procurou um lugar pra se abrigar. Entrou numa caverna escura, onde lá ouviu um choro.

— Quem é? — Perguntou ele.

Logo em seguida ouviu passos e uma linda girassol apareceu. Mas suas pétalas pareciam murchas e sem vida. Mas ela ainda assim lhe sorria.

Cactu sentia que havia algo de errado com ela. Mas nada falou.

A chuva ainda caía lá fora. Os dois conversaram e ele logo percebeu o que havia de errado com ela. Então perguntou.

— Onde está o seu Sol?

— Ele se apagou — ela respondeu.

Cactu sabia como era não ter um sol e queria ajudá-la, mas ele tinha medo de acabar a machucando depois.

— Durante o dia eu consigo fingir bem que tenho um sol. Mas durante a noite, a falta de um sol só me deixa triste. Um girassol sem seu Sol não é nada — reclamou ela.

E então ela procurou o Sol do Cactu e percebeu que não havia nada sobre a sua cabeça.

— E onde está o seu?

— Eu nunca tive um — ele respondeu. — Mas eu posso te ajudar.

Ele acendeu o Sol dela enquanto a chuva ainda caía. Quando a chuva passou, ele teve de ir.
A Girassol ficou triste, mas nada falou.
Quando a noite caiu novamente, o Cactu voltou e reacendeu o sol da Girassol. Fez isso durante todas as noites e durante o dia ia embora. Aos poucos os dois se apegavam.
Certo dia, a girassol lhe perguntou:

— Por que você não fica mais?

— Pra não machucar você.

— Isso não vai acontecer.

— Você não entende — afirmou ele e então foi embora.

Enquanto fazia seu caminho de todos os dias, nosso amigo Cactu pensava na possibilidade de criar raízes em algum lugar, logo ignorou essa ideia.  
"Não quero machucar ninguém", pensava ele.

Quando volta para a caverna, girassol lhe abre um sorriso.

— Eu estava justamente pensando em você! — Afirmou ela.

Aquelas palavras ecoaram na mente do Cactu durante toda a noite.

Quando o dia chegou, nosso amigo Cacto sentiu algo diferente. Saiu da caverna e as outras plantas o olhavam com espanto, outras com alegria, mas ele nada entendia.

Até que um velho Carvalho lhe rasgou um sorriso e disse.

— Meus parabéns, pequenino.

O Cactu, sem entender, perguntou o que ele queria dizer com aquilo.  

— Já olhou para si hoje?

Quando ele olhou para cima, seus olhos não acreditavam no que viam. Era uma pequena flor que nasceu no topo de sua cabeça. Uma linda flor de pétalas brancas.

— Como isso aconteceu? —  Perguntou ele para si mesmo.

Voltando para a caverna, durante a noite, Girassol logo percebeu a mudança em seu amigo.  

— Estou tão feliz por você! Qual a razão dessa pequena flor?

Cactu ponderou sobre a pergunta. E olhou dentro de si e ao redor, e tudo refletia ela. A Girassol. Ele pegou a flor com cuidado, sem muito saber o que fazia, e a entregou a ela. E falou.

— A razão é você.

Ela sorriu e tentou o abraçar, mas se machucou com seus espinhos.  

Ele, assustado, pediu desculpas e correu para fora da caverna. Ele jamais iria machucar ela de novo.  

Já bem longe da caverna, ele sentou no chão perto de uma grande árvore e olhou ao redor. Então dormiu, já bem cansado de tentar.

Quando acordou se deparou com Girassol bem na sua frente.  

— Por que me seguiu?

— Por que quero cuidar de você.

— Mas eu não quero machucar você. Por que veio atrás de mim?

— Por que o meu sol só brilha por você.

Quando ouviu essas palavras, nosso amigo Cacto sentiu um calor percorrer seu corpo e uma luz se acendeu no topo de sua cabeça. Girassol sorriu e sua luz também se acendeu. Ela pôs a flor em cima da cabeça do Cactu novamente.

E as luzes dos dois em conjunto, criou uma luz ainda mais forte. Uma luz tão forte que iluminou os dois e todos puderam enxergar de longe o poder daquela luz.  

Ela o abraçou, tomando cuidado com os espinhos, que naquele momento, eram o que ela mais amava nele, por que faziam parte do que ele era. E ela o amava em todas as partes.  

Então os dois brilharam com aquelas luzes que os enchiam de vida e ambos sorriam com satisfação. Por que não tem nada melhor que encontrar alguém que acenda nossa alma.

FIM

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