I'm Fine, I'm Gay

۞ The Beginning of You ۞

O dia estava claro, mesmo que nublado. Já se passava da primeira hora da tarde, e Gabriel caminhava em direção ao ponto de ônibus. Logo adentrou o veículo. Até esses pequenos momentos, tudo ocorria normalmente, simples. Mais um dia em que a escola era seu destino, um lugar de constante angústia mas por lei, era obrigatório que frequentasse.

Até o momento, tudo ocorria bem. Mas foi só ao chegar perto dos assentos que notou algo incomum. Um garoto. Certo. Tudo seria comum até o fato; Gabriel tinha em mente que já havia visto aquele garoto, mas claramente ele estava diferente. Talvez tenha sido a idade.

O problema começa nesse exato momento, quando o garoto que se ve sentado em um dos assentos, continua a pensar o rosto daquele que lhe parecia familiar. De forma incômoda aquela pessoa, tomou os pensamentos de Gabriel pelo resto do dia.

A escola não era definição de "paz", muito pelo contrário. Talvez muitos dos distúrbios de Gabriel viessem daquele local. Adolescentes são igualmente maldosos, se duvidar ainda pior. Porque diferente de crianças, os maiores sabem quando machucam com palavras, adolescentes sabem quando é a hora expor alguém. Por esses motivos e pelo simples fato de que Gabriel não fazia parte do grande padrão que era imposto. Era diferente, muito inteligente, o melhor da turma, mas sofria bullying. Talvez os seus colegas não fossem maduros o suficiente para entender o que significa "diferença". Não que a sua sexualidade fosse algo que todos sabiam sobre si, mas por algum motivo era uma pessoa que não agradava a todos. Claro, tinha seus amigos, a maioria garotas, entre alguns garotos.

As horas pareciam se arrastar mas o sinal bateu, indicando que a aula havia acabado. Como de costume os pais de Gabriel esperavam dentro do carro para a volta até em casa. Enquanto o garoto loiro via as casas, o céu e as pessoas, pode lembrar de onde conhecia o tal menino que viu mais cedo no ônibus. João. Seu nome era João. Já se conheciam e até parecia um tanto estupido como ele havia esquecido de alguém tão importante em sua vida.

João Vitor era um garoto mais velho, loiro de olhos azuis, um clichê. Mas oque realmente era especial para Gabriel era quem ele era, não só sua aparência. Eles tinham uma história juntos, se é que podemos chamar assim.

Tudo começou aos seus nove anos, a mãe de Gabriel, que era bastante simpática, conseguiu convencer seu filho a entrar na escola para artes marciais, com a proposta para que fizesse Aikido*. Quando as primeiras aulas começaram o garoto já havia se aproximado de um de seus colegas, João Vitor. O tempo passou e logo João parou de frequentar as aulas, Gabriel que era sentimental desde de muito cedo, sentiu-se triste com a falta da companhia alheia. Certo tempo, que aos olhos de Gabriel se pareciam uma eternidade, ele voltou a estar nas aulas e como se fosse possível eles se tornaram ainda mais próximos, bons amigos. No fim, nenhum dos garotos pode continuar frequentando as aulas.

Ainda no carro, Gabriel deixou-se tomar por boas lembranças daquele tempo, havia muita inocência em tudo. Com apenas 9 anos ele ainda não tinha certeza sobre sua sexualidade, apenas um ano mais tarde se descobriu gay. Mas pode sentir novamente os sentimentos bons que lhe invadiram assim que se recordou de quando abraçou João e em uma das atividades propostas nas aulas Aikido, ele até carregou Gabriel na garupa. A pequena nostalgia e a felicide, até mesmo saudades daqueles momentos fizeram-no perceber como aquele tempo que via poucas maldades no mundo, um local agradável e doce. Uma lástima sua opinião ter mudado e agora ele apenas desejava não fazer parte desse mundo cruel.

Agora Gabriel jazia em sua casa enquanto fazia suas tarefas relacionadas a aula, e foi quase inevitável como João tomou novamente conta de seus pensamentos. Foi nesse ponto que Gabriel deduziu o que estava acontecendo.

Gabriel agora estava apaixonado por João.

*O aikido é exercido através da combinação de movimentos atacantes, redirecionando a força adversária, ao invés de combatê-la diretamente. Isto requer uma reduzida força física, uma vez que o aikidōka (praticante de aikido) conduz o impulso atacante dando entrada ao ataque a partir da transformação dos movimentos rivais. As técnicas são complementadas com várias projecções, torções e contusões comuns.

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