As cartas

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3 de março de 1910.

Escrevo-te esta carta para mais uma vez reportar minha saudades de você.
Sei que não me respondeu as cartas anteriores, mas ainda acumulo esperanças que esta terá um retorno muito em breve.

Queres saber como estou? Pois bem, vou relatar em poucas palavras.
Comecei uma aula de habilitação escondida de mamãe, ela não aprova tais modernidades e diz que devo voltar a bordar. Não é o que desejo, sabes que gosto de ter minha independência, porém não sei como a sociedade reagiria com meu modo de pensar.

Também comecei a escrever um livro, para o protagonista usei você como inspiração, ele é sério, decidido e está entre a cruz e a espada, tendo de tomar uma decisão tão difícil quanto a tua.

Bem, já tomei demais de seu tempo, devo despedir-me por aqui.
Faço votos para que possamos nos ver em breve, a saudade é imensurável.

      Com amor, Margaret Mitchell

  Nathaniel Hawthorne se encontrava em um monastério, ele estava se preparando para o sacerdócio, mas ainda não tinha tomado uma decisão exata sobre a opção vocacional.
Na verdade era algo que sua mãe queria, não exatamente algo que ele queria seguir. Quando criança ele dizia que queria se tornar padre quando ficasse mais velho, mas isso mudou quando conheceu a jovem que talvez fosse mudar seu destino.

Margaret era decidida, forte, extrovertida, mas séria nos momentos certos, ela preenchia seus dias durante chás entre as duas famílias que eram muito prestigiadas e seus pais eram amigos.
Mas por um pedido de sua mãe enquanto doente, Hawthorne partiu para o monastério, mesmo meio a contra gosto de deixar sua amada para trás.

As cartas? Elas nunca chegaram.

Margaret cultivava uma esperança profunda de que um dia, talvez o amanhã, suas cartas seriam respondidas.
Ela nem percebia, mas em certas ocasiões ela mesmo se pegava realizando alguma atividade que lembrasse seu amado, isso era o que se chamava de amor.
Ela não contava a ninguém sobre suas vontades, como a sociedade iria reagir?
Como que pode uma mulher da alta sociedade, de nome, se relacionando com um padre? um "amigo" de Deus?
Essas perguntas viviam sobrevoando sua cabeça, e ela não sabia responder, mas ignorava-as na maior parte do tempo, pois o amor era mais forte.

  A mãe de Hawthorne ia visitar seu filho todo fim de semana, exatamente quando chegavam as cartas.
Era uma mulher enérgica, recatada, muito religiosa. Seu sonho sempre foi ter um filho padre, por isso colocou tais idéias na cabeça de seu filho.

Era domingo e mais um dia de visita, a mulher elegante atravessou as enormes e barulhentas portas do gigantesco monastério e foi até o altar, se ajoelhou e orou em agradecimento por seu sonho estar quase se realizando. Finalmente seu filho se formaria padre, agora faltavam apenas algumas semanas.

Margaret estava preocupada, em certas partes.
Não se o seu amado estava vivo, pois era somente o que se falava naquela cidade: O filho de uma das famílias mais ricas da cidade iria entrar para a vida celibatária.
Ela ficava feliz, sim, isso era certo. Porém queria mais...ela queria sentir o amor daquele jovem, aquele amor que ela já sentiu e sabia que era tão forte quanto a fé de sua mãe.

- Hoje é domingo....

Margaret estava pensando no que poderia fazer, então, resolveu ir até a garagem de sua gigantesca casa familiar, chamando o que seria o chofer para lhe conduzir até o monastério.

- mãe?

Hawthorne já havia terminado suas orações do horário da manhã e saíra recentemente de seu quarto, quando teve a felicidade de mais uma visita de sua mãe, ele sabia que muito em breve as visitas seriam feitas durante as missas, onde sua atenção não seria voltada a ninguém especial que não seu salvador a quem ele iria prometer devoção eterna.

E...o vento levou... (Bsd)🍂Onde histórias criam vida. Descubra agora