Natal. Época de rever a família e os amigos. É complicado falar de "amigos para rever", porque meus amigos agora são os que tenho aqui, e os antigos mesmo têm tão poucos assuntos em comum comigo que eu me sinto completamente deslocada ao reencontrá-los. Meu nome é Sarah Grunewald e eu estudo em um colégio de bacanas chamado Hepburn High School. Aqui, passo pelo menos dez meses do meu ano reclamando como queria estar em casa, diante da lareira dos meus pais, a uma distância de um ônibus escolar de casa, como qualquer adolescente normal. Numa hora dessas, eu provavelmente estaria liberada para o recesso de fim de ano, assistindo O diário da princesa e chorando até desidratar, enquanto minha doce irmã Maga estaria me perguntando "Você está chorando mesmo ou é só fingimento?" e meu irmão Roger, com aquele riso irônico dele, diria "Deixa de ser demente, garota! É só um filme idiota." Mas, como eu ia dizendo, estou por aqui, e estamos a uma semana do Natal, e ainda assim não fomos liberados para ir para casa. Legal.
Antes de vir para esse colégio, minha única preocupação era manter uma cintura como a da Avril Lavigne, mas agora eu tenho que lidar com problemas, vamos dizer...um pouco mais palpáveis. Aos doze anos, descobri que eu e meu amigo Henry não somos pessoas comuns. Comuns, que digo, é: escutar e ver coisas a cem metros de distância não é um dom que todas as pessoas têm, não é? Fazemos parte de um grupo de mutantes que ninguém sabe do que se trata, de onde veio, como começou, nada. As especulações são muitas: contatos extraterrestres, experiências laboratoriais enquanto nossas mães estavam, sei lá, fazendo pré-natal ou teorias de que elas foram expostas a áreas com radiação, vai saber. Alguém encontra uma justificativa por trás de as plantas endoidarem quando eu estou por perto, ou de meu melhor amigo conseguir soltar fogos pelas mãos? Uma dica: já procurei na Wikipédia a causa e não achei.
Como tudo o que vive na sociedade é catalogado, criaram um nome para definir pessoas com os mesmos talentos que nós. Chamamos de ambidestros aqueles que se manifestam sozinhos, isto é, aqueles que não precisam tocar na mão de um amigo para o poder aparecer, e destros aqueles que são como eu e Henry, que precisam de um companheiro para o poder mais destacado em nós se manifestar. Defino "poder mais destacado" porque a audição e visão privilegiadas são dons inatos à raça. Eu não preciso de um parceiro para que isso se manifeste em mim, e isso já me meteu em altas confusões quando pequena. Mas não vamos falar disso agora. Foi por conversar sobre essas capacidades com Henry que descobri que ele era do mesmo jeito. Mas o nosso poder original só é revelado quando nos damos as mãos.
Com a sugestão de um especialista, nos matriculamos nesta escola. Isto porque ele foi bem claro ao dizer para os meus pais que nossas vidas estavam em perigo. Se nos mantivéssemos no lado externo, que eles chamam de Sociedade Comum, seríamos alvos fáceis para a caçada dos chamados eliminadores. Eliminadores podem ser divididos em dois grupos: eliminadores eliminadores mesmo, que caçam a gente e nos revendem para sermos mortos e estudarem nossos corpos, ou nos doarem a alguma universidade para estudos ainda vivos, ou até mesmo executarem em nós reproduções forçadas no intuito de gerar mais seres poderosos como nós (as alegações externas são de que isso acontece apenas com ambidestros transgressores de acordo com as leis da sociedade. Por exemplo: aqueles que usam seus poderes para roubar, matar, etc. Mas como nunca se sabe, estamos aqui). E existem os eliminadores reversos, que são um grupo de rebeldes que não admitem o que acontece conosco e treinam ambidestros e destros para se defenderem dos ataques dos eliminadores originais ou atacá-los gratuitamente, chegando inclusive a matá-los. Este último grupo é taxado de subversivo, pois lida com naturalidade com a ideia de matar humanos, algo proibido no Tratado Comum da Ambidestria com a Humanidade desde 1924. O clube responsável por esse treinamento de defesa se chama Eliminação. Atualmente, é moderado por um ambidestro extremista chamado Thomas Liebert, que viola dois acordos fundamentais das leis do seu clube: não admite a entrada nem de destros nem de humanos, quando deveria permitir ambos. Para contrariar seu intuito de deixar ambidestros malignos agirem livremente na sociedade, resolvemos criar o nosso próprio clube de eliminação. Nele, admitimos humanos, destros e ambidestros que, por simpatia à nossa causa ou divergências com o clube de eliminação e seus moderadores, mudaram de lado. Ele se chama Sociedade dos Nômades.
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Sociedade dos nômades - Especial de Natal (FINALIZADA)
FanfictionSarah e Henry planejam criar uma confraternização natalina em Hepburn High, instituição de ensino onde celebrações desse tipo não são admitidas. Contrariando todas as regras, resolvem se encontrar no quarto de Pamela Briggs para fazer uma noite muit...