Doce Mulheres

Ana

As imagens começaram a passar - percebi que não tinha som algum,  naquele momento relutei em falar algo, então em silêncio, comecei a assistir.

Tudo aquilo passando acelerou meu coração, era um breve resumo da vida de Ana. Fiquei emocionado e comovido. A  infância foi sofrida, ela sempre tentou me contar, abrir seu coração. Eu confesso, não prestava  atenção. Descobri também coisas desconhecidas sobre sua vida que na época não tive sensibilidade para perceber. Sabendo agora me aperta o peito.

Ana tinha um coração espirituoso, cheio de encanto e sonhos. Seus pais eram de família pobre mas sempre com muito esforço sua mãe tentava tocar a vida em frente, seu pai era alcoólatra, e pouco contribuía nas tarefas de casa, até mesmo na ajuda financeira sempre acontecia brigas. Ela gostava de dançar, principalmente ao lavar as louças de casa enquanto sua mãe trabalhava, era uma forma de distrair do sofrimento e das brigas constantes dentro de casa, tanto com seu pai, como com sua mãe. 

Em uma das cenas, num quarto trancado, minha doce Ana olhava nossas fotos com um leve sorriso no rosto, sua pele negra, seus cabelos cacheados, ainda me despertava sensações - seu sorriso sempre achei maravilhoso, eram brancos e ao sorrir seus olhos brilhavam junto. Tinha uma cara de menina levada, pronta para fazer alguma maldade. Eu adorava isso - Então ela segurava as fotos mas reparei em lágrimas caindo do seu rosto discretamente, eu não conseguia entender porque ela chorava. Até hoje eu não sabia porque tínhamos terminado, e vê ela chorando daquele jeito atormentava meu coração. Meu peito estava apertado.

Comovido pelo choro de Ana na tela, disse em tom desesperado para o demônio que estava no canto escuro da sala observando tudo: 

- Isso não tem som! Me deixa ouvir, ela está falando algo, você consegue mostrar pra mim? Preciso saber!

Então o monstro se levantou, eu tinha a impressão dele já está de pé, mas ao realmente se levantar tinha uns dois metros de altura. A criatura moveu se sorrateiramente, como uma cobra,  seus passos não existiam, aparentemente flutuava em minha direção, os tecidos da sua capa preta pareciam muito com os da dona morte, como nos filmes, mas a dele carregava uma aura macabra. 

Então,na minha frente, com sua unha pontiaguda e cheia de pedaços de carne presos em seus cantos falou:

-  Você passou um bom tempo ao lado da pobre e linda Ana mas não a conheceu de verdade. Quando ela te conheceu seu coração buscava um grande amor! Seu sonho era de construir ao seu lado porco miserável uma vida nova, longe do sofrimento, fugir do tormento na qual vivia! Ela chorava se sentindo sozinha a única companhia capaz de preencher seu vazio naquele momento era você! Ela confiou em você e em troca você nem olhou para trás lhe presenteou com o abandono, e solidão!

Eu arregalei os olhos e de forma histérica disse:

- Jamais eu abandonaria ela! Aquela mulher era tudo pra mim! Seu jeito doce, suas brincadeiras, toda a atenção do mundo ela me dava, não pode ser, isso tá errado. 

E a reposta foi em to macabro e voz rouca: 

- Calado! Não existe brincadeiras aqui! Olhe para as imagens agora, esse dia com certeza você não lembra. Marcou de ir visita-la, mas não foi! Nem avisou! Ela não te contou, nesse mesmo dia o pai dela chegou alcoolizado quebrando tudo, e falou algumas coisas pesadas pra Ana e foi dormir, antes disso ela passou o dia todo ansiosa para te ver, sentou de frente ao espelho, olhou, e pensou sozinha "Hoje tudo vai da certo, vou ver meu lindo homem." Em seus pensamentos habitavam as mais lindas imagens.  Esse encontro aconteceu depois da última briga enter vocês,  a bela Ana só esperava uma reconciliação, era mais uma chance para você de corrigir seus erros, principalmente depois das suas promessa, então por dentro ela cintilava sentimentos sublimes de paz e vontade de amar. Começou arrumando o quarto e perfumando tudo, ao mesmo tempo ligou sua caixinha de som, tocando ao fundo Sol do meu verão, ela dançava e rodopiava pelos cantos da casa com um lindo sorriso no rosto imaginando o momento da sua chegada.  Tomou um banho ficou toda cheirosa e dizia para si mesmo: "Ai,não vejo a hora dele chegar! Tô tão feliz!" E continuou pensando: "Acho que depois de tudo que nos passamos dessa vez quero tudo seja especial, ele gosta de mim, eu sei, e eu amo muito ele, merecemos uma segunda chance" sorriu e continuou: "Se bem que já é bem a décima rsrs"

Interrompi a assombração, imaginei que estivesse mentindo pra mim, mas quando narrou sobre a nossa música, passei a acreditar, e falei:

- Essa mulher realmente me amava, olha isso, com certeza quando eu cheguei na casa dela,  foi uma noite maravilhosa.  Infelizmente não estou vivo, só me resta a saudade. 

A Besta riu em voz macabra e mudou rapidamente para uma expressão de ódio, desceu sua unha para meu pescoço me encarando e lentamente deu a volta para minhas costas quase que me enforcando, e sussurrou em meu ouvido:

- Ana esperou, mas naquela noite, você não apareceu. Mais uma vez mentiu. Pobre Ana! Sofreu bastante, naquela noite,  seu coração sentiu dores de parto, as lágrimas pareciam enxurrar seu rosto por dentro mas não saiam, mesmo assim ela não te procurou. São nas noites de dor que as meninas se tornam mulheres. Ela dobrou os joelhos no canto da cama, e rezou com sua voz mansa e triste: 

"Meu grande Deus, o que eu fiz para merecer tanto abandono? Te peço Pai, que todo esse amor se transforme em força para eu caminhar sozinha. Espero que seus anjos cuidem de mim e teu poder cure meu coração, já não aguento sofrer tanto, por mim, minha vida acabaria agora, não sinto ódio dele por  ter me deixado mais uma vez, só me pergunto Senhor, o que existe de errado comigo? Me perdoe, Amém."

Então mas uma vez a coisa murmurou ao meu ouvido uma ofensa e continuou a falar:

Depois daquela noite, não existia mas sua Ana, os sentimentos delas foram morrendo como uma flor sem água e ali foi o fim da historia de amor. Ela ainda amava você, mas cansada de sofrer resolveu partir, e nunca mais voltou.