In Your Eyes

Hoje eu quero voltar sozinha

Camila ouvia barulhos de alguns carros, ouvia alguns passarinhos em árvores, ouvia o barulho de seu sapatos e dos sapatos de Lauren contra o asfalto. Sentia algumas mechas do cabelo dela na mão que prendia ao braço como apoio pra que Lauren a guiasse, sentia suavemente seu cheiro de baunilha, mas quando algum vento batia, ela podia sentir também o cheiro de algo floral que vinha de seus cabelos sedosos.

-Por que você disse para a coordenadora que caiu?- Perguntou Lauren enquanto leva va Camila para casa.

-Eu cai, Lauren.- Respondeu ela.

-Isso não é completamente verdade.

Camila suspirou.

-Minha mãe é meio super protetora. Se eu contasse para a coordenadora o que aconteceu, ela contaria a diretora, que levaria para a minha mãe, que chegaria a conclusão de que eu deveria estudar em um ambiente controlado.

-O que quer dizer com ‘’um ambiente controlado’’?- perguntou Lauren.

-No começo ... – Disse Camila frustrada depois de um longo suspiro - Nos primeiros anos escolares ela me colocou para estudar em um bom colégio perto de casa.- Suspirou novamente – Ela gostaria que eu fizesse amigos e fosse uma criança normal, mas eu não era. E por mais que eu quisesse ser... as outras crianças eram maldosas. E tudo era novo e assustador para mim. Então um dia ela resolveu que eu deveria estudar em casa. Era só eu, minha mãe - as vezes - e uma professora particular.

-Você não acha melhor? – Perguntou Lauren.

-Não. - Respondeu ela com firmeza 

-Sabe, Camila? Sem piadas maldosas. Sem bullying. Isso parece atraente, pelo menos para mim.

-Era muito quieto, Lauren. Eu me sentia sozinha o tempo todo. Nas quartas-feiras minha mãe trabalhava, -ainda trabalha - e quando a professora ia embora, eu ia ao parque e me sentava perto do playgroud para ouvir o riso e os gritos das crianças brincando. Ouvi-las correr... elas pareciam tão livres. E eu com mais do dobro da idade deles parecia tão presa nas minhas próprias limitações.– Disse Camila abaixando a cabeça. Não queria que Lauren sentisse pena dela, só queria que ela a entendesse.

-Eu entendo você Camila, mas os garotos não podem ficar impunes. Eles machucaram você hoje e isso faz a gente pensar qual é o limite da palavra brincadeira pra eles. Eu não acho que fazer uma pessoa sangrar seja algo a se considerar nesses termos. – Argumentou Lauren.

-Nunca aconteceu isso antes, Lauren. Não acho que vá se repetir, só me prometa que não vai contar a ninguém. Minha vida social não é tão boa. Mas é a melhor que eu posso ter.

Camila a olhou, Lauren correspondeu seu olhar. Ela se perguntou mais uma vez se Camila era realmente cega. Era impossível que alguém que expressasse tanto com um olhar não pudesse ao menos ter tido acesso a feições uma vez na vida.

-Eu prometo, Camila. – Disse Lauren não muito convencida de si mesma. – Mas me prometa também, que se eles voltarem a te atormentar você me dirá.

Camila deslizou sua mão pelo braço de Lauren ao encontro da mão da garota. Por um momento Lauren pensou que ela entrelaçaria seus dedos e isso a fez franzir o cenho. ‘’O que Camila estava fazendo?’’. Camila pegou a mão de Lauren com as duas mãos e localizou o seu dedo mindinho e entrelaçou ao dela. Isso fez a garota sorrir, e o som audível de sua risada fez Camila sorrir também.

-Promessa de mindinho – Disse Camila, fingindo um ar sério.

-Mas mesmo assim, eu ainda vou assustar Keaton e aquele grupinho dele.- Disse Lauren.

-Keaton estava junto?- perguntou Camila

-Sim. Ele, Dereck, Wesley e mais um garoto que não é da nossa sala.- Respondeu Lauren, avaliando as expressões de Camila. – Você parece surpresa.