Pedro era o amigão da galera. Inteligente e extrovertido, estava sempre onde havia festa e agitação. Era amante da Heineken e andava sempre com um copo na mão. Falava tanto que nem percebia a cerveja esquentar em suas mãos. Gelada ou morna, ele bebia, e bebia muito.
Pedro tinha muitos amigos. E tinha a Sammy que, aliás, era uma história a parte. Ela gostava de Pedro. Ele era um amigão. Inteligente, engraçado e um ótimo ombro amigo. E Pedro gostava de Sammy. Não como amiga, e é aí que começam os problemas. Apaixonado, não contava a ninguém o que sentia e assim levava a vida ao lado dela. Sofria calado e sonhava calado. Nunca passou de um sonho até o dia que “Bumm”, o pesadelo.
Em qualquer evento que acontecia, Pedro buscava descobrir se Sammy estaria presente. Nunca falava no nome dela, mas por acaso, quando ela não ia, ele não se interessava também. Para sua sorte, Sammy ia à maioria dos encontros. E assim Pedro sempre dava um jeito de estar presente, e com ajuda de um pouco de álcool, tentava criar coragem com a Sammy. E essa coragem nunca vinha. Nunca se declarou a ela e ao mesmo tempo torcia para que ninguém o fizesse também.
Era o mês de junho e iria rolar o show da banda de rock pesado Slayer. Rodrigo já tinha comprado ingresso, e sabia que a maioria dos amigos também era fã da banda. Logo Pedro se animou, já perguntando quem iria acompanhá-los. Nícolas, com pouca grana disse, que não conseguiria comparecer. Não falou que o problema era dinheiro, acabou inventando uma viagem com seus pais. Pedro, naquele momento, lembrou-se da banda que já tiveram, tocavam várias músicas do Slayer. Mas se era uma viagem com a família, não tinha muito que fazer. A exceção era Sammy, o som era pesado demais para a cabeça dela.
Até aquele momento, Pedro apenas lamentava as ausências, ainda assim, estava ansioso com o show. Nunca tinha visto a banda ao vivo e era a grande oportunidade dele e de Rodrigo.
Como já era sabido, Sammy avisou que não iria. Guardaria dinheiro para outro que fosse de seu interesse. Mas a negativa de Sammy veio acompanhada de um novo convite. “Pessoal, estarei sozinha em casa nesse final de semana. Por que vocês não compram alguma bebida e vêm até aqui?”
E para surpresa de Rodrigo e Pedro, o convite foi logo aceito por Nícolas. “Que ótima ideia Sammy, estou dentro”. O convite havia sido feito por mensagens de grupo e logo causou indignação em Pedro. “Tu viu que babaca? Ia viajar e agora que sabe que vamos ao show, simplesmente esquece a tal viagem e aceita ir à casa de Sammy.”
Com o aceite de Nícolas, Sammy já falava em chamar outros amigos e uma grande amiga – a Rafaela – que acabara de ficar solteira.
A cabeça doía, o coração apertava e Pedro já não sabia o que fazer. O show do Slayer ou encontro com Sammy? Heineken no show do Slayer ou Jack Daniel’s na casa de Sammy? E nessa “queda de braço” o coração falou mais alto. Sammy saiu vitoriosa.
Ao som do Metallica e do famoso “Tim-Tim”, a memorável noite daqueles que perderam o show do Slayer e arriscaram a sorte naquela famosa noite do “Jack” iniciava. Rafaela acabou não indo, havia retornado com o namorado, mas em seu lugar, Fabíola se fez presente. E para surpresa de todos, Rodrigo vendeu seu ingresso e também decidiu pela noite do “Jack”.
Pedro ainda levou algumas Heineken´s para ser apreciada por quem quisesse. Ele não era muito fã dos destilados, mas fora facilmente vencido por ela. Sammy.
Sua amiga era daquelas que bebia e ainda juntava os necessitados ao final de cada festa. Principalmente aqueles que já não tinham poder nenhum de decisão e muito menos um lugar. Os caídos.
Após o brinde, a discussão era o que fariam para se divertir. Uns queriam beber um Jack Daniel’s e curtir os amigos, outros queriam beber até cair, a bebida que fosse, e outros, como Pedro, queriam namorar.
Enquanto rolava o embate, Sammy tomou a frente e colocou uma música para tocar. Podemos dizer que a escolha foi cirúrgica e para um bom entendedor, uma nota bastava. Spending My Time, do Roxette. Pedro sabia que a música poderia ser a oportunidade para algo maior.
E se não bastasse ter visto Sammy o encarando, a mesma ainda o puxou para dançar. Ele não esperava. Nervoso que estava e para espanto de todos, ele respondeu com uma negativa: “Ainda não, Sammy. Nem sei dançar direito. Deixa eu beber mais um pouco”.
Talvez faltasse pouco para Pedro criar coragem. Talvez. Quem sabe? Nunca saberemos. O que aconteceu foi que Nícolas tirou Sammy para dançar. E em poucos minutos, aconteceu. O beijo.
Ao som da banda The Cranberries, a música Dreamsvirara trilha sonora para o novo casal da noite – Nícolas e Sammy.
Sim, Sammy ficou com outro. Ficou com aquele que nem ao show do Slayer iria. Ficou com seu amigo. E poucos segundos bastaram para Pedro cair na real. Ele havia perdido. Faltavam muitas horas para a noite se encerrar, e assim o Pedro bebeu. Ainda tinha uísque. Ainda tinha Jack Daniel's.
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O último gole daquele Whisky
Short StoryPedro era o amigão da galera. Inteligente e extrovertido, estava sempre onde havia festa e agitação. Era amante da Heineken e andava sempre com um copo na mão. Pedro tinha muitos amigos. E tinha a Sammy que, aliás, era uma história a parte.