1° carta

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24 de maio de 2014

Querida Katyin,

Eu não consigo dormir, a imagem de você caída no chão sem vida não sai da minha cabeça. Eu abrindo a porta, chamando seu nome, sem resposta, indo para o quarto, chamando você de novo, sem resposta, vou para o banheiro e te encontro lá, caída no chão, com todo aquele sangue escorrendo do seu pulso e pescoço. Eu fiquei em estado de choque. Eu me ajoelhei do seu lado, te peguei no colo e gritei, com as lágrimas descendo em um ritmo tão frenético que eu mal sentia. Uma vizinha entrou na minha casa ( Aproveitando que eu tinha deixado a porta aberta. ), alarmada pela quantidade de grito, me viu no chão com você nos braços, ambos ensanguentaos e soltou um grito talvez até mais alto que o meu.

" Me ajuda ! " Eu gritei e ela pegou o celular e ligou para a emergência.Pensei que ainda daria tempo para te salvar mas já era tarde demais, você já tinha ido embora..... Porque você fez isso ? Nós eramos tão felizes juntos, tinhamos tantos planos... Porque me deixou ? POR QUE VOCÊ DEIXOU QUE ELA TOMASSE CONTA DE VOCÊ ??? NÓS JÁ ESTAVAMOS ACHANDO UMA SAÍDA, VOCÊ ESTAVA FICANDO ESTÁVEL !!!! ...... Porque deixou a depressão te levar ?

Eu não te culpo, te amo demais para isso ( Não colocarei o verbo " amar " no passado só por que você não está aqui em físico, porque eu fiz uma promessa quando começamos a namorar, a de nunca deixar de te amar ). Eu me culpo. Me culpo por não estar lá na hora para te impedir, me culpo por ter ido àquele bar estúpido, me culpo por ter chegado tão tarde .... Me culpo por tudo.

Hoje será o seu enterro. Não sei como eu vou ir porque, para ser bem sincero, eu não estou aguentando passar nem meia hora sem chorar. Eu sei, estou parecendo uma garotinha de 15 anos que acabou de perder a virgindade e levou um pé na bunda, mas eu não consigo evitar.

-X-

Na sala do velório respirava-se melancolia, tanto verdadeira quanto falsa. Vários parentes e amigos seus vieram até mim querendo explicações, eu apenas dizia que estava tão abalado quanto eles. Alguns mais ousados ia até mim e falavam que eu tinha feito aquilo com você, que eu fui o motivo de você ter se suicidado ( Alguns vulgo sua avó que nunca gostou de mim ). Sua mãe foi me confortar, pedindo para não me importar com o que sua avó diz, que nada disso é minha culpa e eu só negava e dizia que a culpa era minha sim. Não que eu fui o motivo do seu suicídio, mas porque eu não estava lá para te impedir. Depois disso, eu pedi liceça e fui até você.

Mesmo depois de morta, você continua perfeita. Você estava igual a uma boneca de porcelana: seus cabelos castanhos penteados para frente, sua costumeira camada grossa de rímel preto nos olhos ( confesso que se eu entrasse naquela sala onde estava o seu caixão, olhasse para você e não visse nenhum sinal de rímel, EU MESMO ARRUMARIA UM RÍMEL E PASSARIA EM VOCÊ ! Não interressa se ficasse tudo borrado, sem ele não seria você. ). Seu vestido era preto de gola alta e mangas longas ( escondendo os cortes feito por você ) com alguns bordados de renda branca nos pulsos e na gola, bem apertado na cintura, do jeito que você gostava, ia até a metade dos joelhos e seus pés estavam descalços. Você estava com as mãos juntas na altura do abdomen, com um buquê de tulipas laranjas. Eu fui até o seu caixão, agachei ( nunca deixando de te olhar ), peguei uma de suas mãos e fiquei um tempo bem longo a segurando, dando leves apertos, na estúpida esperança que você voltasse dos mortos e apertasse a minha mão devolta ou sei lá. Eu sentia as lágrimas descendo em um ritmo frenético, eu me levantei um pouco e deitei a cabeça no seu peito. Por um momento, eu pensei ter te ouvido chamar eu nome.

Seu irmão, Michael, foi falar comigo:

" Bonita ne ? " O garoto usava um terno preto, com a gravata amarrada na cabeça, seu all star preto costumeiro e seus cabelos estavam platinados. Me lembro que da ultima vez que nós o vimos, ele estava com os cabelos azuis, igual a um smurf.

" Sempre "

" Porque ela fez isso ? Por favor eu não ....eerr.... não me leve a mal.... eerrr " Ele estava muito nervoso, mais do que de costume

" Sem problema, você é o irmão dela. " Eu disse tentando acalma-lo " Mas, assim como você, eu também quero saber porque ela fez isso. Nós eram tã.. "

" Vamos sair e ir para um lugar mais reservado. "

" Tudo bem " Ao mesmo tempo que eu não queria sair do seu lado, eu não estava aguentendo ficar ao lado do seu corpo. Saímos da sala e fomos até um jardim aos fundos, que tinha vista para o cemitério e sentamos em um dos bancos. Por um tempo ficamos em silêncio, apenas observando algumas crianças brincando e o tempo passar. Depois, por incrível que pareça, Michael quebrou o silêncio.

" Esta vendo aquela colina, no cemitério ? Lá na frente ? Bem no topo ? "

" Sim, o que tem lá ? "

" É lá que Katyin vai ficar..... Ela disse que queria um lugar perto do céu, para não esquecer do seu corpo quando subir "

" Ela sempre foi tão viajada, isso ea uma das coisas que eu mais amava nela.......... Sabe, nós eramos tão felizes, ela parecia estar tão feliz ..... Ela não tinha outrs crise já tinha uns 2 meses "

" A depressão é algo imprevisível. "

" É..... "

" Luke. "

" Diga. "

" Você vai continuar ? "

" Como assim ? "

" Continuar.... Tipo, vai ficar ou vai subir junto dela ? "

" Não sei...... Eu sinto muita falta dela. Ela foi, é e sempre será o amor da minha vida. Eu nunca amei alguém como eu amei ela. Eu não consigo entrar em casa mais, sempre que penso em voltar, a imagem dela deitada no chão do banheiro, todo aquele sangue, o meu desespero.... Tudo volta. "

-X-

Agora eu estou na casa de Ashton, deitado na cama dele, te escrevendo esta carta sem finalidade nenhuma .........Seu caixão será levado para o cemitério e enterrado amanhã. Talvez eu a deixe com você.

Ashton fica me dizendo que a culpa não é minha, mas acho que ele não entende o que eu estou sentindo. Claro que não entende, não foi ele que perdeu o amor da vida dele, a pessoa que o fazia feliz, a pessoa que era o movito de eu acordar todos os dias. Ele não te perdeu.

Bom, acho que não tenho mais nada para escrever.

Para sempre seu,

Luke Robert Hemmings

A 100 days without youOnde histórias criam vida. Descubra agora