O cativeiro

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     Eu já estava a mais ou menos 1 semana apagado, acordando poucas vezes sem sentir nada além de dor em regiões diferentes do corpo, sem noção de muita coisa, sem noção de que horas eram, de onde estava, ou com quem estava, minha visão nessas poucas vezes em que acordei era confusa como alguém depois de encarar a luz do sol diretamente por quase 30 segundos.
     Sol, o sol. Quando eu acordei não havia sol, era escuro, com exceção de uma lâmpada no teto que iluminava o ambiente onde eu estava. Meus sentidos estavam um pouco estranhos, um zumbido no meu ouvido piorava tudo, meus olhos estavam inchados, eu não consegui abri-los nos primeiros minutos em que acordei. Meu braço tinha vários furos inchados e nem tão cicatrizados de agulhas, não consegui contar exatamente quantos tinham. E doía. Doía muito. Por alguns momentos eu gemia de dor. Eu me senti perdido. Eu estava com a mesma roupa que coloquei quando saí de casa, seja lá a quanto tempo tivesse sido isso.
     Depois de um tempo eu levantei, e chamei por alguém, não importava quem fosse:
- Tem alguém aqui? Por favor alguém me ajuda, por favor, eu...

     Eu tentei me apoiar na fechadura da porta mas ela quebrou e eu caí, a dor era insuportável. Eu encaixei a fechadura de volta e abri a porta. Um vento forte bateu no meu rosto, trazendo muita neve consigo, sim, estava nevando. Assim que eu abri a porta percebi que estava em uma varanda, na frente do que eu concluí que era um tipo de cabana. Tinha alguns degraus um metro a frente da porta. Eu desci. A neve me lembrou dos outonos da minha cidade, das folhas caindo enquanto eu andava com a Chloe por aí. Estava muito escuro, a única luz era a da lâmpada da casa. Eu estava meio desorientado:
- POR FAVOR, ALGUÉM ME AJUDA.

     E eu só conseguia gritar enquanto andava pelo campo cheio de neve:
- POR FAVOR, ONDE EU TO? ALGU...

     Eu tropecei em uma pedra e caí, de frente pro chão, meu braço não servia pra se apoiar em nada, nem na neve. Eu gritei de dor.
     Eu fiquei de costas pro chão olhando o céu escuro, eu estava sem força nenhuma. Meus olhos se fecharam. Mas depois de um tempo, talvez depois de algumas horas ali, eu vi uma luz. A luz do dia estava afastando a escuridão da noite. E parece que fazia anos que eu não olhava pra aquilo. E eu pude ver claramente a neve caindo no campo, no meu corpo, na cabana. Assim que consegui ficar sentado, percebi que a cabana ficava bem no meio de um quadrado, cujos lados eram muros, altos. Eu diria 7 metros de altura, talvez mais. Haviam pedras incrustadas neles, pedras normais e grandes, faziam parecer que o muro era feito disso.
     Esse "quadrado" não era tão largo, nem tão pequeno. Tinha tamanho o suficiente pra abrigar os arbustos do campo, e uma árvore vários metros a frente da cabana, era uma árvore enorme. E era a única árvore daquele lugar. Eu pude ver seus galhos secos conforme o céu clareava.
     Eu levantei e andei de volta até a cabana, meu braço doía, mas era suportável.
     Eu abri a porta, dei uma boa olhada, e percebi que o interior da cabana tinha um formato quadrado, com duas janelas nas paredes da esquerda e da direita um metro após a porta. E havia um balcão que ia da parede da direita até o meio que a dividia em duas partes. A parte da frente que eu pisava assim que abria a porta era pra supostamente ser uma sala, mas só tinha um colchão encostado perto do balcão com uma caixa vermelho-vinho no meio da "sala". Eu a chutei, mas ela estava presa ao chão. Quando a abri não tinha nada, o seu fundo metálico era estranho, tinha uma linha circular bem no meio.
     Atrás do balcão tinha a cozinha, ela tinha vários armários em baixo e em cima na parede do fundo da cabana, todos sem nenhum prato, comida, ou qualquer outra coisa. Bem no meio tinha uma torneira, com água, a pia, um copo de vidro redondo e cheio de poeira.
     A esquerda da cozinha tinha uma porta, ela dava pra um tipo de armazém. Dentro dele tinha uma enxada, uma pá, uma vassoura, uma caixa de ferramentas com poucas coisas, e algumas tábuas no canto do cômodo que era do tamanho de um banheiro. As tábuas que estavam no canto eram as mesmas tábuas das paredes do "armazém". Não parecia ser um cômodo próprio da cabana.
     Na direção contrária do armazém, tinha um banheiro.
     E eu ouvi um barulho, vinha da caixa, um som similar a alguém batendo em alguma porta com força.
     Eu abri, e tinha uma barra de tamanho médio, feita de um material que se desfazia. Eu fiquei 5 minutos encarando aquilo, e eu cheirei, tinha cheiro de alguma mistura estranha que seu irmão menor faz de manhã com o cereal. Eu provei, e sim, aquela era minha comida. A única comida que meu paladar sentiu por bastante tempo.
    O céu não clareou tanto, era como se o tempo tivesse parado por algumas horas, e ao mesmo fosse 7:00 da manhã.
      Eu andei até a varanda e encarei aquele cenário todo, eu lembrei do que tinha acontecido, lembrei da minha mãe, da Chloe, do meu pai, do erro de ter entrado no apartamento. Eu lembrei de tudo:

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⏰ Última atualização: Nov 24, 2019 ⏰

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