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A rotina de Peter não era mais a mesma, não por completo. Harry continuava a o aborrecer, entretanto agora não agredia mais o menino, apenas o chamava de bebê chorão como sempre.

Era como se as cartas o tivessem mudado, o garoto estava mais alegre, constantemente otimista e sua empatia estava transbordando. A sua família notara e uma vez ou outra comenta sobre, mas nada sério, pois os mesmos achavam que o motivo fora seu amigo online, mal imaginavam a existência das cartas.

A cada dia que passava essa pequena aventura se tornava mais importante para Peter, o deixava mais ansioso, porque nunca sabia o que se encontrava dentro de cada bilhete.

O misterioso lhe agradava.

Todavia, aquilo também assustava Parker. A ideia de ser somente uma piada ainda existia, não com tanta força como no começo, porém uma pequena porcentagem era mais do que o suficiente para destruir o sono do garoto. Peter nunca foi alguém que dormia bem, principalmente nos últimos dias, sua ansiedade tomava proporções gigantescas, não conseguia parar de pensar em como seria se encontrar com a pessoa que o mandava cartas.

Centenas de possibilidades rodeavam sua mente, ele não sabia o que esperar, de quem esperar, e não estar no controle nunca foi tão desesperador para Peter.

§

Já havia uma semana desde que Wade começara a deixar bilhetes misteriosos para Peter Parker. Tudo começou quando Wilson notou o menino com um olhar mais pesado do que o de costume. Aquilo deixava Wade confuso, já que o garoto costumava parecer uma máquina, sempre sorrindo, nunca parava de falar e de orgulhar os professores. Todo o tempo servindo de exemplo para qualquer coisa.

Wade o invejava as vezes, mas nada extremo, ele só queria ter uma parte daquela euforia. Queria ter uma parte da vida de Peter.

Não sabe ao certo quando, porém um dia percebeu aquela mudança, não sabe se foi um vestígio de empatia dentro de si gritando para Wade ir ajudá-lo, se foi apenas para poder voltar a ter inveja do pequeno, ou qualquer outro motivo.
Apenas sabia que queria muito ajudar o garoto, e só aquilo já bastava.

Wade havia conversado com Neena sobre as cartas, ela achou a ideia muito boa, o incentivou a transformá-las em realidade. Seriam somente algumas mensagens positivas e fofas, porém teve um certo receio de aquilo só aumentar o ego do garoto, ou parecer uma piada.

Por fim a ideia de cartas verdadeiras e profundas surgiu, Wade ainda não sabia que guardava tantas palavras estranhas dentro de si sobre Peter, contudo não tinha o que reclamar, apenas o que pedir.

Queria se reaproximar de Parker, não havia se dado conta daquilo até encostar o lápis naquelas folhas, foi naquele instante que todo o cérebro quase sempre alucinado de Wade se iluminou por completo. Agora sabe o motivo de ter se aproximado de Peter, ele ainda guardava grandes sentimentos pelo outro, era uma grande mistura de cores e sabores dentro de si, como se todo um outro multiverso fosse revelado para Wilson, um multiverso autêntico, estranho, divertido, que respondia pelo nome de Peter Parker.

§

Wade chegava a escola mais cedo que o normal, costumava a chegar muito atrasado, porém Peter o fez mudar seu cronograma sem sequer notar. Sempre soube a senha do armário de Peter, já que o garoto sempre usou a mesma senha para tudo.

O garoto já fazia tais movimentos tão calmamente que o próprio zelador já estava acostumado com a cena, ajeitava dessa vez o bilhete junto de um belo girassol. Ao finalizar seguiu para fora sem algum propósito, apenas esperaria o sinal tocar para finalmente entrar.

Sempre que pudera, Wade observava o menor abrindo as cartas, se mantinha entretido com as reações que o outro sempre fazia, as vezes eram de choque, outras o deixavam mais fofo do que o normal. Wade não se dava conta, mas decifrar cada feição de Peter era o que mais alegrava toda vez.

§

Já na saída pôde ver o menor descontente, estava emburrado e andando rapidamente em direção a saída, então em um súbito ato de coragem, decidiu intervir e capturar sua atenção.

– Hey, Peter - Wade exclamou no corredor que se encontrava levemente lotado de pessoas.

– Olá, Wade - Parker o responde de maneira curta, sem tirar o olhar do chão.

– Você tá bem?

– Claro, por que não estaria? - O garoto diz em um tom irônico.

– Você parece estar triste - Wade tenta parecer o mais sincero possível.

– É, as vezes a nossa imagem exterior realmente consegue transmitir o nosso interior, não é mesmo? - Ainda na defensiva o menino lhe responde.

– Concordo - Wilson comenta surpreendendo Peter, que levanta seu rosto provocando uma troca de olhares entre ambos - E o que está sentindo no seu interior, Petey?

– Não me chame assim - O menor lhe corta de imediato - E são muitos sentimentos, não adianta nada te dizer, você não entenderia...

– Tenta - Wade surpreende o garoto, que agora para de andar e encara o outro nos olhos.

– Eu não tenho mais um objetivo, a minha única motivação de continuar é minha família e meus amigos, eu não vejo nenhuma razão sem ser eles de porquê eu deva existir - Peter fala rapidamente, tendo que recuperar seu fôlego no final - E você pode não entender, mas você foi uma das razões, você ainda é uma das razões de eu querer sumir.

– Eu... Eu não sei o que dizer - O maior estava com a boca aberta, quando tentaria dizer algo, Peter finalizou.

– É o que todos dizem - Parker termina e volta a andar antes de permitir que Wade diga algo.

§

– Então ele te deixou falando sozinho? - Neena pergunta novamente enquanto ri.

– Sim... - Wade confirma novamente.

– Bem feito, fica perturbando o garoto e acha que ele vai te receber com flores? - Logan agora instiga.

– Ele disse que eu sou culpado da tristeza dele... - Agora Wilson quase sussurra, quebrando a risada dos outros dois.

– Você sabe que isso não é totalmente verdade - A garota tenta o acalmar - Wade você fez merda, mas isso passou, eventualmente ele vai entender isso, então pare de se culpar, só assim ele também parará.

§

Wade ainda se culpava, agora mais que antes, mais depois de ouvir cada palavra voar pela boca de Peter. Parecia um verdadeiro desabafo, e Wade não sabia como reagir, além de ficar triste e sozinho em seu quarto conversando com um amigo virtual que fizera.

Era o que lhe mantinha acordado até tarde naquele dia.

so tired | spideypoolOnde histórias criam vida. Descubra agora