Prólogo

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De: ChristineL@gmail.com
Para: AnnieMoon1302@gmail.com Annie, não esqueça da entrevista por telefone às 09:30 amanhã, será com aquele blog Livros&Letras. E arrume as malas amanhã, seu voo é só na segunda, mas eu sei como você deixa tudo para cima da hora e esquece várias coisas.
Att, Christine.

De: AnnieMoon1302@gmail.com
Para: ChristineL@gmail.com
Está tudo certo mamãe, já coloquei tudo no calendário e lembretes na geladeira. E qual é a do Atenciosamente, Christine?

De:ChristineL@gmail.com Para: AnnieMoon1302@gmail.com
É profissional, antes de sua amiga, sou sua agente e você pode por favor ir dormir? Amanhã eu te ligo às 08h para garantir que você vai estar acordada e pronta para a entrevista.

Coloco meu celular na mesa de cabeceira, pego uma toalha e jogo algumas peças de roupa na cama e vou tomar um banho. Enquanto a água quente cai sobre mim penso sobre como as próximas semanas vão ser, viagens, entrevistas, perguntas que talvez eu não possa responder, conforme esses pensamentos vão surgindo eu consigo minha respiração ficar ofegante e meu peito apertar, tento respirar fundo e desligar meu cérebro por um momento. Você vai ficar bem Annie, está tudo bem, repito essa frase várias vezes até sentir meu corpo se acalmar, respiro fundo uma vez antes de desligar o chuveiro e sair.
Me visto e saio apagando todas as luzes do apartamento. Quando finalmente me deito, parece que levei uma descarga elétrica, viro de um lado pro outro, ajeito as colchas, o travesseiro, mudo de lado e nada de conseguir dormir, e de repente os pensamentos voltaram e quando percebo são 3h da manhã e eu não fechei os olhos.

****
Acordo com a música agitada do meu alarme, o desligo rápido e abro os olhos devagar, a luz do sol entrando pela janela me incomoda profundamente, eu preciso comprar uma cortina assim que voltar de viagem. Sento devagar, me sentindo mais cansada que nunca, tudo que quero é voltar pra cama e não sair mais. Me forço até a cozinha, ligo a cafeteira e vou para a sala, ligo a televisão só para ter algum ruído e não me sentir tão sozinha, patético, mas é quem eu me tornei, uma solitária, uma loba sem uma alcateia, só vagando por aí, sem rumo.
Pego uma caneca e coloco café até estar quase transbordando, eu devia reduzir ou parar totalmente, mas ultimamente é a única coisa que me mantém em pé entre as péssimas noites de sono. Me sento no sofá e assisto o jornal, várias notícias sobre desmatamento, economia caindo, crimes de ódio e assassinatos são anunciados de forma monótona pelo apresentador. Como ele consegue? Ele não fica chocado com essas coisas? Ou ele já se acostumou e só está em um estado de letargia? A mesma música do alarme começa a tocar novamente, coloco a caneca que agora está quase vazia na mesa e corro até o quarto, olho o nome na tela e atendo.
— Já estou bem acordada, nada para se preocupar.
— Bom dia para você também, você está bem descansada e pronta?
— Bom dia, como você define descansada? E sim, eu tô pronta, eu sempre estou. Ouço um suspiro do outro lado da linha.
— Annie, você devia ir ao médico, sério.
— Não… Eu estou bem, um médico só ia me dar remédios para dormir e você sabe que eu odeio essas coisas e tenho certeza que quando começarmos essas viagens eu vou ficar tão cansada que você vai ter que me arrastar para fora da cama, não precisa se preocupar, ok?
— Só vou dizer ok por que sei que é impossível te fazer mudar de ideia. Você leu as perguntas da entrevista?
— Não — Sento na cama — Gosto que as respostas sejam espontâneas.
— Você quem sabe, a entrevistadora deve ligar daqui a pouco, fique preparada. Quer sair para almoçar depois? Penso por um momento, seria legal sair e bater um papo com Christine fora do trabalho, mas hoje eu só quero ficar em casa e cozinhar só pra mim.

— Hoje não, talvez amanhã?

Tudo bem, amanhã então, agora eu vou para a academia, tchau, te amo.
Ela desliga antes que eu possa responder. Estou trocando de canal sem nem prestar atenção e meu celular toca novamente, estico o braço e sem tirar os olhos da TV o pego e atendo.
— Alô?
— Oi? Annie? Sou a Jackie do blog Livros&Letras.
— Oi! É ótimo falar com você. Desligo a televisão.
— Digo o mesmo, só vou checar se está tudo certo e aí podemos começar a entrevista, tudo bem?
— Tudo ótimo.
Me ajeito no sofá e coloco o celular no viva voz, a voz dela volta após uns três minutos.
— Está tudo pronto, podemos começar?
— Claro.
Ela pigarreia e então começa.
— Oi! Leitores, hoje vamos fazer uma coisa diferente, uma entrevista por telefone, mas se você não quiser ouvir toda a entrevista, abaixo desse áudio vamos ter todas as perguntas e respostas escritas, e sem mais delongas, nossa convidada, Annie Moon!
— Oi! É um prazer estar aqui hoje Jackie, obrigada por me convidar.
— O prazer é meu. Hoje iremos falar sobre seu novo livro, o último adeus, seu pequeno hiato e claro sua tour!
— Eu mal posso esperar.
— Então vamos começar pela sua pausa, seu último livro foi lançado em 2017 e logo depois você anunciou que ia tirar uma pausa de um ano, o que você andou fazendo nesse tempo afastada?

— Várias coisas, eu tentei principalmente descansar minha mente e não escrever, o que foi um pouco difícil. Eu também fui passar um tempo com a minha mãe e visitei alguns amigos da faculdade. — Isso é ótimo, é importante tirar um tempo para você. Mas agora você está de volta com um livro novo, você está animada?
— Com certeza, esse pode ser um dos livros mais importantes pra mim.
— É verdade que esse livro ficou na gaveta por 6 anos?
— Mais ou menos. A verdade é que eu comecei essa história quando eu tinha 18/19 anos, mas era só por diversão, mas eu desisti, porque eu estava passando por uma fase difícil mentalmente, então eu só guardei a ideia e pensei “talvez um dia eu consiga terminar”. E quando eu tinha 20 anos, eu peguei os rascunhos que eu tinha e comecei a trabalhar na história de novo, mas quase na época eu lancei meu primeiro livro, com 21, e esse livro mais uma vez ficou um pouco de lado, porém, eu continuava escrevendo ele, aos poucos, eu terminei ele em 2016 e aí eu coloquei ele na gaveta e depois eu lancei meu segundo livro em 2017 e durante meu ano de férias eu decidi mandar ele para minha agente e ela adorou e aqui estamos.
— Uau, que montanha-russa. Porque você decidiu lançar ele agora? Se estava pronto desde 2016?
— Sinceramente eu não sei, só achei que era o momento certo.
— Diferente dos seus outros livros, você parece ter uma ligação especial com este, tem algum motivo para isso?
— Como eu já disse, eu trabalhei por um longo tempo nele, então isso certamente contribui para esse apego e também, diferente dos meus outros livros, que foram totalmente inventados ou baseados em situações que eu estava como observadora, esse conta um pouco sobre coisas que eu realmente vivi, só que de uma maneira mais “distorcida”, sabe.
— Entendo. Quando eu li o livro, eu senti que é sobre amizade, você também sente isso? Você se baseou nisso enquanto estava escrevendo?
— Sim e não, também é sobre amizade, mas para mim, é sobre a vida e tudo que acorre ao longo dela.   Jackie faz algumas perguntas sobre tecnicalidades e sobre a tour do livro e que países vou visitar e então a entrevista chega ao fim.
— Muito obrigado por sua participação hoje Annie e vocês leitores não percam o sorteio de “O último adeus” autografado, na semana que vem veremos quem são os vencedores. Annie, você tem algo a dizer para os ouvintes/leitores?
— Hmm, muito obrigada por todo apoio e espero que vocês gostem do livro e foi um prazer estar com você, Jackie.
Ela diz mais algumas coisas e se despede, assim que a gravação acaba ela me agradece por participar e desligamos. Respiro fundo e pego uma garrafa de água, nunca falei tanto em uma entrevista antes. Quando passo para ir pro meu quarto, a porta do meu escritório está aberta e meus olhos vão para a cópia que recebi do último adeus depois dele voltar da revisão um mês atrás, eu nem toquei nele e de repente eu estou atrás da minha mesa, com ele em mãos.

O último adeus Onde histórias criam vida. Descubra agora