Havia qualquer coisa que me fazia todos os dias levantar da cama e ao qual não conseguia dar um nome. Vontade, esperança ou há que dissesse que era somente a rotina do dia a dia. Mas eu chamava-lhe fé. Tinha fé todos os dias que algo novo tomasse conta do que eu chamava de vida como uma torrada do meio.
Era este o sentimento que me fazia levantar e olhar o mundo como se naquele mesmo dia tudo pudesse acontecer a uma simples rapariga de 25 anos. Sai de casa e peguei naquilo que para mim não passava do velho carro do meu pai e que ele sempre acreditara ser o carro que iria usar até à sua velhice. Mas hoje seria diferente daquilo que sempre fizera. Hoje eu colocava a minha mochila de campismo, as minhas botas de montanha, um casaco de pêlo e umas calças verde militar com bolsos. E não, não ia acampar como fazia sempre que podia, nem ia escalar, coisa que não fazia cada vez que saia das muralhas. Desta vez ia trabalhar.
Apertei o volante com ambas as mãos, deixando o acelerador ser carregado lentamente numa estrada deserta, com anos e anos de evolução da natureza sobre o alcatrão que outrora lhe dava durabilidade. Queria apenas chegar, terminar o que me tinha aceite há três semanas e voltar para casa, muito longe da ideia inicial que me tinha feito aceitar o pequeno trabalho de uma semana.
Precisavam de alguém que percebesse de cura. E fora esta pequena informação e o os abastecimentos para 2 anos, além das carrinhas e bombas para retirar água dos poços, que me aumentaram os níveis de adrenalina e toldaram qualquer visão que tivesse sobre as restantes informações sobre o anuncio. Mas agora tinha aceite... E ia a caminho de uma montanha onde ficariam cerca de 400 guerreiros em provas e dos quais eu teria de cuidar.
"Mas bem, o que poderia correr mal?" A minha parte irónica gargalhou alto dentro da minha cabeça enquanto a planície começava a dar lugar a um ambiente mais montanhoso. "É... tudo podia correr mal"
O rádio deixou de ter qualquer som decifrável e acabei por desliga-lo à medida que o serpentear da estrada me fazia mais atenta. O rádio deixara o espaço da Evim, mas agora também não havia volta a dar. Queria dar às 23 pessoas que viviam em Evim um pouco mais do que a floresta que nos rodeava dava. Queria que não se morresse de frio no inverno porque a madeira não chega. Queria que as nossas colheitas fossem suficientes para todos. Queria um pouco mais...
O rádio rosnou um barulho familiar...
Sarah, das poucas pessoas que vivia em Evim, deveria ter notado a minha falta no dormitório e por isso procurava-me.
- Olá bom dia! - Disse no seu ar sempre animado. - Onde andas?
Eu tinha um pequeno conjunto de amigos, mas a Sarah e a Carol eram as únicas raparigas no grupo que tinham um pequeno lugar especial na minha vida. Todas diferentes como o dia da noite, mas todas percebíamos a perspectiva sem ultrapassarmos limites e aceitando como a outra era.
- A caminho de um buraco na montanha com 400 homens!
- Uhhhhhh! E o que estou eu a fazer em casa?
Ri, alto e em bom som enquanto a minha amiga me acompanhava do outro lado da linha.
- Sei lá... Deverias ter aprendido algo sobre as artes da cura do antes da guerra...- Sorri quando ouvi o som de nojo de Sarah.
- Ok! – foi directa ao assunto. – Regressa!!
Todos os meses havia jantar em Evim com aquilo que sobrava e uma grande fogueira para aproveitar o o espaço no exterior. Era quase tradição, uma tradição que vinha sempre recheada dos últimos acontecimentos de cada uma de nós, quase como um banco de despejo de ideias, medos, vontades e tudo o que tínhamos batalhado no ultimo mês.
- Não, Sarah... Não esqueço...
- Ok! Bom trabalho! Dá cabo deles! E quero novidades! – E desligou.
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Aqui não há Heróis
RomanceAyla Umay pegou no carro e aceitou uma missão simples, com base no seu trabalho de sempre e que aparentemente nada mudaria o seu mundo, mas na sua vida de aventura pelas montanhas que sempre ajudara a criar espaço com tudo o resto, surge William Ett...