Capítulo 1

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Eu pulei, desenhando meus pés abaixo de mim, assim que o bordão de dois metros bateu no local onde eu tinha estado meio segundo antes.

Aterrissando de cócoras, saltei de volta, gemendo com o esforço e balançando minha própria arma em volta de minha cabeça. O suor caiu em meus olhos, cegando-me por um pungente segundo antes de meus reflexos voltarem, forçando-me a me mover.

Um feixe de luz vindo de uma janela bem acima de minha cabeça iluminou o bordão de carvalho quando eu o arqueei nas pernas de meu inimigo. Ele se jogou para o lado, fazendo com que minha arma voasse pelo ar. Ela caiu com o barulho da madeira batendo na parede de pedra atrás de mim.

Desarmado, eu corri para a espada que estava a poucos metros de distância. Mas, antes que eu pudesse pegá-la, fui arrebatado por um forte puxão e bati contra o peito de meu assaltante. Ele me segurou a alguns centímetros do chão enquanto eu chutava e me debatia, adrenalina bombeando como mercúrio pelo meu corpo.

— Não seja tão má perdedor, Jimin — repreendeu Jungkook. Inclinando-se para frente, ele me deu um vigoroso beijo nos lábios.

O fato de ele estar sem camisa foi rapidamente corroendo a minha tão duramente conquistada concentração. E a quentura de seu peito nu e seus braços estava deixando meus músculos tensos pela luta como manteiga.

Lutando para manter minha resolução, eu gemi

— Isto é trapaça — e consegui fazer com que a minha mão livre lhe desse um soco no braço — Agora me deixe ir.

— Se você prometer não chutar ou morder — Ele riu e me colocou no chão.

Aqueles olhos brilharam com humor debaixo das ondas do cabelo negro que caía em volta de seu rosto.

Ele sorriu e tocou minha bochecha, com uma expressão como se ele estivesse me vendo pela primeira vez. Como se ele não pudesse acreditar que eu estava lá parado com ele, mesmo com toda a minha humanidade. Uma expressão que dizia que era ele o sortudo.

Eu rearranjei o meu sorriso, com o melhor brilho que eu poderia

— Não vou prometer nada — eu disse, tirando o cabelo da frente do meus olhos — Você merece uma mordida por ter me vencido de novo.

— Foi muito melhor, Jimin — Uma voz disse, atrás de mim. Gaspard me entregou o bordão de madeira que tinha caído — Mas, você precisa ser um pouco mais flexível na forma como você segura a arma. Quando o bordão de Jungkook bater no seu, acompanhe o movimento — Ele demonstrou, usando a arma de Jungkook — Se você se mantiver rígido, a madeira sairá voando — Nós fizemos as sequências em câmera lenta.

Quando viu que eu tinha entendido a sequência, meu professor disse

— Bem, é o suficiente de espada e bordão por hoje. Quer passar para algo menos árduo? Jogar estrelas, talvez?

Eu levantei minhas mãos em rendição, ainda ofegante pelo exercício

— Isso é o bastante de treinamento de luta por hoje. Obrigada, Gaspard.

— Como quiser, querido — Ele puxou uma faixa de borracha de trás de sua cabeça, soltando seu cabelo de porco-espinho, que saltou de volta para o seu estado normal de desalinho — Você definitivamente tem um talento natural — ele continuou, enquanto colocava as armas em seus locais de origem na parede da sala de ginástica — Já que você está indo tão bem depois de apenas algumas aulas. Mas, você precisa trabalhar em sua resistência.

— Hum, sim. Eu acho que deitar por aí lendo livros não faz muito por minha resistência física — eu disse, inclinando-me para frente com as mãos no joelho, para recuperar o fôlego.

— Talento natural — gritou Jungkook, pegando meu corpo todo suado e andando ao redor da sala, segurando-me como se eu fosse um troféu — É claro que meu namorado tem isso. Aos montes! De que outra forma ele poderia ter assassinado um zumbi gigante, com uma única mão, salvando meu corpo imóvel?

Eu ri enquanto ele me colocava no chão em frente ao chuveiro independente e à sauna adjacente a ele

— Eu não queria tirar toda a glória disso, mas eu acho que o fato de que o seu espírito volante estava possuindo meu corpo teve um pouco a ver com isso.

— Aqui está — Jungkook me deu uma toalha e beijou o topo de minha cabeça — Não que eu não te ache extremamente sexy pingando suor — ele sussurrou, dando uma piscadela. Aquelas borboletas de repente entraram em ação no meu peito? Eu estava começando a achar que elas moravam dentro de mim permanentemente.

— Neste meio tempo, eu vou terminar o seu trabalho e acabar com aquele maldito mestre de armas do século XIX. En garde! — ele gritou, arrancando uma espada da parede e virando.

Gaspard já estava esperando por ele com um grande mangual cravado

— Você vai precisar de mais do que uma lâmina de aço para me machucar — ele brincou, acenando para Jungkook com dois dedos.

Eu fechei a porta do banheiro atrás de mim, virei a alavanca para abrir a ducha e notei a poderosa corrente de água caindo do chuveiro, enviando uma nuvem de vapor em volta de mim. Minhas dores sumiram com a pressão da água quente.

Incrível, eu pensei pela milésima vez, enquanto considerava o mundo paralelo no qual eu vivia. A poucos quarteirões dali, eu tinha uma vida completamente normal com meu irmão e meus avós. E aqui estava eu treinando luta com homens mortos — tudo bem, revenants, não realmente mortos. Desde que eu tinha me mudado para Paris, este era o único lugar em que eu sentia que me encaixava.

Eu escutei o barulho da luta vindo de lá de fora do meu paraíso e pensei na razão por eu estar lá. Jungkook.

Eu o conheci no verão passado. E me apaixonei perdidamente. Mas, depois de descobrir o que ele era, e de saber que revenant significava morrer repetidas vezes, eu virei as costas para ele.

Depois da morte de meus pais um ano antes, ficar sozinho me pareceu mais seguro do que ter uma constante lembrança da dor da morte.

Mas Jungkook me fez uma oferta que eu não poderia recusar. Ele prometeu não morrer. Pelo menos não de propósito. O que vai contra cada fibra de seu ser. A compulsão dos revenants é morrer para salvar as preciosas vidas humanas e isso é mais forte do que um vício em drogas. Mas Jungkook acha que pode se controlar. Por mim.

E eu, por minha vez, espero que ele consiga. Eu não quero causar dor a ele, mas eu conheço minhas próprias limitações. Em vez de lamentar a sua perda repetidas vezes, eu prefiro sair. Ir embora de sua vida. Nós dois sabemos disso. E, mesmo que Jungkook esteja tecnicamente morto, eu me arrisco a dizer que esta é a única solução com a qual ambos podemos conviver.

Até que eu morra Onde histórias criam vida. Descubra agora