O casamento havia acontecido há algumas semanas e desde então eu estive presa em algum tipo de limbo.
Levantava todas as manhãs, fazia café para os garotos, tomava banho, servia a mesa para Robert, ele saia trabalhar, eu limpava tudo e esperava novamente por eles, para que a rotina começasse de novo. Me sentia robotizada. Não estava morta, mas também não me sentia viva de maneira alguma.
Talvez por medo ou simplesmente para preservar o resquício de sanidade mental que ainda habitava meu corpo, ignorei completamente a tentativa de agressão de Robert. Ele não disse nada. Eu também não.
No fundo eu esperava alguma explicação, um simples pedido de desculpas. Eu ansiava por isso. Pela justificativa dele que me fizesse acreditar que eu não estava sendo fraca por continuar com aquilo.
Haviam coisas demais dentro de mim. Sentimentos demais. E quase nenhum deles eram bons. Então decidi simplesmente trancafiar um por um. Quem sabe ignora-los e esconde-los não fariam, com o tempo, desaparecerem por completo. Senti meu rosto repuxar em um sorriso melancólico ao pensar nisso.
E ao lembrar de Bradley, as lágrimas voltaram a cair. Grande parte delas escorriam de vergonha sobre a pele, deixando um rastro quente no rosto. Quase ardiam.
Algum dia eu superaria? Não soube dizer, como também não soube dizer como fui acreditar que havia uma gota de interesse dele por mim.
As atitudes de Bradley me deixavam confusa e frustrada. Primeiro me dava seu número de telefone, questionava o fato de não ter entrado em contato, depois há centímetros de me beijar, agia como se eu tivesse enlouquecido.
Eu queria entrar dentro da cabeça de Bradley e decifrar todos os sinais. Mas o último deles estava fixo na memória. O momento em que ele recuou. Aquele foi o mais doloroso sinal. O da rejeição. Aquele que mais temia. E este ficou gravado, num looping torturante. Eu lembrava de seu rosto ao preparar o café da manhã para meus filhos, ao limpar a casa, ao receber meu marido de volta, no banho, na cama, nos sonhos. Era perturbador.
Foi difícil se dar conta de que minha vida tinha se tornado meu pior pesadelo. E infelizmente este, eu não tinha como acordar.
**
As maçãs estavam fatiadas em formato de lua. Colocava-as perfeitamente em fileiras dentro da lancheira de Noah.
Robert desceu mais cedo e por alguma razão, veio na minha direção, depositando um beijo desajeitado nos meus lábios. No primeiro instante fiquei sem reação. Definitivamente eu não deveria estranhar receber u beijo de meu marido, mas estranhei. Os últimos dias mal nos falávamos, então o toque ficou ainda mais escasso, por assim dizer. E eu nunca reclamava.
Vezes ou outra, durante a noite Robert ainda me procurava. E eu tentava a todo custo inventar desculpas para fugir de seus beijos. Eu estava ficando sem argumentos, mas também não ligava muito. Não gastava muita criatividade para inventa-los. Eu queria que Robert notasse meu afastamento. E queria ver até aonde ele iria sem tocar no assunto. Até o momento, ele se saia muito bem em fingir que não havia nada de errado entre nós.
Nunca subestimei a inteligência do meu marido. Infelizmente Robert conhecia cada fio de cabelo do meu corpo. Todos os detalhes. Então, obviamente, notou minha mudança de comportamento. Chegou a citar, em algumas discussões, que eu havia mudado completamente depois da estadia de Bradley Dixon e de certa forma ele não estava errado. Eu havia mudado. Mas não por Bradley Dixon, mas por o que ele me fez sentir. Coisas que estavam mortas dentro de mim. Coisas que eu gostaria de sentir de novo. E estes sentimentos, Robert jamais despertou. Não na mesma intensidade.
Nunca.
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Louis e Noah já estavam devidamente acomodados em suas camas. Eu dei um demorado beijo na testa de cada um.
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O Hóspede
RomanceElizabeth Cooper fora uma daquelas jovens impulsivas, que levava seus sentimentos à flor da pele. Aos dezenove anos estava casada e completamente cega de amor por Robert Cooper. Nunca questionara ou se arrependera de suas escolhas. Afinal, conquisto...