Forja

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Não era exatamente o que sonhei, mas tudo estava lindo. Combinando de fato com o dia ensolarado, as flores pareciam felizes.
Vejo no altar o homem com quem fui destinada a casar por pura obrigação. Não sinto afeto por ele, nenhum tipo de sentimento emite do meu coração sobre o moço de cabelos claros e que expressa um sorriso, suponho, fictício.

Meu pai me deixa no altar, frente a James. A cerimônia então começa.
Nosso casamento fora imposto pelo fato de nossas famílias serem da alta classe e por negócios estúpidos por parte dos nossos pais.

Tivemos uma mera conversa rápida. James parece um garoto calmo e obediente, em nenhum momento o vi relutar contra essa forja, diferente da minha posição. Tentei convencer meus pais de que pretendia me casar por amor. Papai respondeu-me: "Amor é uma grande ilusão. Não se precisa de amor se há estabilidade em um relacionamento, Julia."

A celebração de duas almas que não mantém afeto termina. Todos os convidados parecem satisfeitos. James me leva no colo até a limousine, o que me pega desprevenida e me faz gritar, mas ninguém além dele parece notar. Muito alardo ao nosso redor.

Já na limousine presidencial preta o silêncio reverbera sobre o ar. O homem contempla a paisagem metropolitana enquanto eu o encaro.
James passa a me olhar e minhas bochechas esquentam. Ele sorri anasalado e volta seu olhar para a janela do carro, eu faço o mesmo.

- Fique tranquila, não irei encostar nem um dedo em você. - concordo, engoli em seco ao imaginar o que um casal, no caso nós, poderiam fazer sozinhos num quarto de um hotel de luxo. Mamãe revelou-me que era a suíte presencial que nos esperava. Creio que teremos um atendimento digno de Reis.

Chegamos na hospedaria, pegamos a chave. Pude notar o quão educado meu esposo é com todos, isso é bom, seria insuportável ter que lidar com um filhinho de papai super mimado. Entramos no elevador e novamente a mudez nos faz companhia.

- Está com fome? - o olhei pelo ombro e concordei. Sim, eu não me sinto a vontade para falar se quer um mero "sim" com este homem qual sou totalmente alheia, sem contar que não sou muito comunicativa.

- Pedi comida japonesa. Agora vou tomar um banho. - me sento na cama macia de lençóis brancos e fofos. É realmente tudo muito luxuoso, tem uma vista incrível para o mar e o espaço é imenso. Escuto batidas na porta e á abro, como esperado um funcionário já trouxe o pedido do meu marido, ele sai e volto a contemplar o quarto. James sai apenas de roupão, sinto minhas bochechas ruborizadas, mas ele não parece se incomodar. Viro-me e pigarreio, ouço um riso anasalado.

- Não se vire, querida. E me desculpe por te fazer dividir o mesmo quarto que eu. - congelei ao ouvir "querida". Eu ouvia seus movimentos enquanto se vestia. - Mas você entende, ninguém além da nossa família pode saber dessa farsa.

- É... Acho que é a minha vez de ir tomar um banho. E... A comida está na estante. - me viro bruscamente e acabo por nota-lo sem camisa, por exatos três segundos me perdi no seu físico. Aresso-me para o box transparente coberto por uma cortina branca. Em poucos minutos termino a ducha, logo noto a ausência do meu pijama e arrisco - James... - Nenhum resposta. - James! - reverbero um pouco mais alto.

- Sim? - ele finalmente responde. Pigarreio.

- Poderia pegar um dos meus pijamas na mala? - minha voz sooa trêmula. Em questão de segundos ouço batidas no box e estendo a mão por uma brecha. E para minha surpresa...

- Desculpe, mas... - sua voz de torna receosa. - foi a peça menos chamativa que encontrei. - é uma camisola branca transparente!

- Eu sabia que não devia ter deixado mamãe fazer minhas malas! - Resmungo.

- De qualquer forma obrigada. - saio do box semi vestida, nunca me senti tão constrangida. Eu sentia o olhar de James de soslaio sobre meu corpo. Pigarreio. - James. - o chamo e ele murmura concentrado no notebook. - Poderia se virar - tusso fingida - por favor. - completo e ele me obedece. Entro debaixo do edredom macio. - Pode... - ele parece entender minhas meias palavras e se endireita ao meu lado na cama.

- Você é tão quieta. - mesmo falando ele não tira o foco do seu trabalho. - Acho que para termos uma melhor convivência devíamos nos conhecermos melhor - ele fecha o aparelho rapidamente e me olha. - O que acha de me contar mais sobre você e depois eu farei o mesmo. - Seria uma ótima idéia, um dia terei que me acostumar com o fato de conviver com ele pelo um bom tempo, saber mais sobre ele será ótimo.

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