Único

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N/a:
Eu não revisei... então perdoem os erros.


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A primeira vez que Hajime chorou foi no dia que Tooru raspou os cabelos. Ele sabia o quanto seu marido era vaidoso, Oikawa sempre passou horas em frente ao espelho, penteava e cuidava de seus cabelos todo santo dia. Agora vê-lo assim, com a cabeça lisa, sendo apenas um esboço de tudo o que Tooru Oikawa foi um dia, aquilo doía.

"— Vamos logo com isso, Iwa-chan... eu prefiro que seja você a fazê-lo — Tooru estava irredutível.
— Você tem certeza disso?
— É inevitável, você sabe. E se eu chorar, prefiro que só você veja.

Hajime passou a máquina da nuca à parte da frente da cabeça de Tooru, os fios de tom castanho caíam em abundância. Oikawa pressionava os dedos em sua calça enquanto seu corpo tremia, era de fato inevitável e, por que mesmo assim machucava? Quando finalmente terminou, Oikawa suspirou resignado e passou as mãos no rosto enxugando as lágrimas.

— Eu estou horrível...
— Nem tanto, você tem um rosto bonito... não ficou ruim.
— Você não devia mentir para mim, Iwa-chan!
— Eu não estou mentindo, shittykawa.

Mais tarde, naquela noite, enquanto estava no banho, Hajime Iwaizumi chorou. Ele chorou porque a vida era injusta. Porque Tooru não merecia aquilo. Porque o maldito câncer o estava levando embora aos poucos."

Houveram dias e dias. Dias em que Tooru recusava-se a comer e só queria ficar deitado, dias em que ele estava determinado a continuar a lutar. Em todos esses dias, Hajime segurava sua mão e permanecia ao seu lado.

"A sessão de quimioterapia foi feita no dia anterior, então Tooru costumava sentir-se mal por alguns dias. As náuseas eram o que mais incomodavam, era necessário sempre tem um lixo ao seu lado na cama. Hajime o cercava de cuidados e mimos e, Tooru só desejava melhorar logo.

— Iwa-chan...
— Sim?
— Quando eu melhorar... eu farei um levantamento tão incrível que até mesmo Tobio-kun ficará com inveja!
— Oh, é mesmo?
— Sim! — Tossiu e resmungou incomodado — Assim que eu sair dessa maldita cama... até mesmo Ushiwaka vai implorar para cortar um passe meu!
— Claro que vai, você é o melhor — Hajime beijou sua testa e sorriu docemente."

Tooru Oikawa era confiante, determinado, um ser para ser admirado. Dentro e fora de quadra, ele inspirava a todos. E por isso, Tooru não demonstrava quando estava com dores. Ele não dizia o quão cansado estava, ou, que cada parte de seu corpo doía apenas de respirar. Tooru Oikawa mostrava esse lado apenas para Hajime.

"— Eu sei que você não está se sentindo bem. Por que não deita um pouco?
— Mas, Iwa-chan...
— Sem, mas! Deite-se!
— Mas eu queria...
— Deite um pouco, Tooru. Posso fazer uma pipoca e colocar aquele filme idiota que você gosta.
— Você vai colocar manteiga na pipoca?
— Vou..., mas apenas se você deitar!

Hajime o acomodou nas almofadas e o cobriu. Verificou se havia uma cesta de lixo por perto e, entregou-lhe uma garrafa d'água.

— Eu já volto, beba água!

Preparou as pipocas do jeito que o marido amava. Quando voltou ao cômodo, Oikawa já piscava devagar, ele estava quase sempre muito cansado. Mesmo assim colocou o filme preferido de Oikawa. Acomodou-se ao lado do esposo, deu play no filme e viu que ele abriu os olhos.

— Iwa-chan... como você pode dizer que O Extraterrestre é um filme idiota?
— Você sabe...
— Que os deuses possam perdoar sua insolência.

Hajime riu, ele adorava noites como aquela. Abraçou Tooru, beijando sua testa e, escutando sua respiração calma e um tanto falha, a noite seguiu."

Meses e meses de tratamento não estavam mostrando resultado, o câncer que começou no pâncreas, espalhava-se. Os médicos não sabiam o que fazer, Oikawa perdia a esperança e Hajime desesperava-se quando pensava em perde-lo.

Daichi Sawamura era o médico responsável por seu caso, por insistência do próprio Oikawa. O medico e amigo do casal dava seu melhor para achar uma ínfima chance de superar o problema. O paciente sempre repetia: "eu confio em você, Sawa-chan", mas ali o profissional não tinha mais tanta determinação.

Os exames de Tooru eram preocupantes, ele passava mais tempo no hospital do que em casa. Hajime, Hanamaki e Matsukawa, revezavam-se para acompanha-lo. Sugawara e Bokuto também sempre estavam por lá, dando apoio e o atualizando das notícias.

"— Hoje é noite do karaokê! — Sugawara exclamou animado.
— Suga-chan, vamos fazer uma performance do balacobaco!
— Shittykawa...
— Ahh, Iwa-chan! Eu concordei em vir com essa maldita cadeira de rodas, deixe-me divertir!
— Está tudo bem, Iwaizumi — Daichi o tranquilizou — mas vá com calma, Oikawa.

A noite estava alegre. Bokuto levou Kuroo e Akaashi, Sugawara arrastou Daichi e Ushijima. Matsukawa e Hanamaki apenas riam e tomavam sua cerveja.

— Venha, Mr. Refreshing! Vamos cantar Criminal!
— Sim! Você lembra quando Daichi teve de tirar Bokuto e Kuroo da cadeia? — Perguntou rindo.
— É claro! — Oikawa gargalhou alto — Eu nunca vi Akaashi-kun tão nervoso!

E eles cantaram músicas pop, country e hip-hop. Hajime estava feliz de ver seu esposo tão sorridente. Ele roubaria todas as estrelas do céu, se isso fizesse o tempo congelar ali mesmo. Com Tooru rindo entre os amigos, jogando beijos para ele, não sendo apenas um esboço."

— Iwa-chan... — chamou com a voz arrastada.
— Ei... como você se sente?
— Água...
— Um instante...

Hajime pegou o copo que estava ao lado da maca no hospital, pousou cuidadosamente nos lábios rachados e roxos de Tooru. Ele estava internado há dias, cada vez mais pálido e magro. Seus olhos não possuíam brilho, a tez acumulava suor e mover-se era dificultoso.

— Iwa-chan... eu estava pensando...
— Sim?
— Se eu não sair daqui dessa vez...
— Não diga isso, Tooru — pediu baixinho.
— Iwa-chan... eu amo tanto você... eu queria ter mais tempo e...
— Trashkawa, você vai ter mais tempo. Vai sair daqui e vai fazer belos levantamentos que vão deixar todos boquiabertos.
— Sim... eu vou né? — Sua voz quebrava-se lentamente.
— É claro que vai. Tooru?
— Sim...
— Eu amo você. Muito. — Segurou suas mãos e alisou seus dedos frágeis.
— Iwa-chan... cante para mim?

Isso é algo que nunca mudou. Tooru sempre pediu para Hajime cantar para ele. Sua voz era grave e rouca, uma das coisas preferidas do mundo, para Oikawa.

— And when you smile the world is brighter, you touch my hand and I am a king — continuou com as carícias de forma lenta — Your love to me is worth a fortune. Your love for me is everything.

Beijando a testa de Oikawa antes de terminar, Hajime vislumbrou o sorriso por qual era apaixonado.


— I guess, I'll never know the reason why, you love me as you do — a aliança dourada brilhava em suas mãos — that's the wonder, the wonder of you.

Cantou apenas o refrão baixinho, apenas para seu amado escutar. Quando finalizou um bipe tomou a sala. Levantou-se alarmado. Daichi e os demais enfermeiros encheram o quarto o afastando de Oikawa.

Hajime via tudo em câmera lenta. Daichi debruçado no corpo de Tooru usando um desfibrilador para tentar trazê-lo de volta. As enfermeiras o segurando enquanto as lágrimas apenas caiam por seu rosto.

A voz de Daichi implorando para Oikawa acordar e seus esforços não foram o bastante. E quando Sawamura soluçou no corpo do amigo, Hajime perdeu as forças nas pernas e caiu no chão. 

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