Three

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JJ

Noite passada, durante o jantar, mamãe e eu estávamos conversando sobre umas coisas do passado.

Sobre a quantidade de gatos que a nossa antiga vizinha tinha. Ou o quão barulhentas eram as crianças da comunidade que sempre arranjavam tempo para brincar na rua. Ou o quanto éramos felizes juntos.

Mamãe, papai e eu.

Eu não devia ter tocado nesse assunto, pois ao olhar para frente, vi mamãe de cabeça baixa, chorando.

Até hoje eu ainda não sei exatamente o motivo da separação deles.

Só me lembro de meu pai me pedindo para que eu ficasse ao lado dela, que ela precisaria mais e eu apenas concordei.

Acho que ela estava estressada e com a cabeça cheia por causa de seu dia no trabalho.

Devia estar sensível.

Então me sentei ao lado dela e comecei a fazer carinho em seus cabelos, na intenção de amenizar a sua dor.

— Mãe? Eu sei que eu nunca conversamos sobre isso antes, mas... Porquê você e o papai se separaram?

Apesar de ser um assunto delicado, tentei procurar palavras que não ferissem-na.

Ela enxugou as lágrimas, respirou fundo e começou a falar.

— Olha, eu sei que já deveria ter lhe dado pelo menos alguma explicação, já que isso também diz respeito a você. Eu só não sabia qual era o momento. Seu pai e eu já vínhamos discutindo sobre muitas coisas, devidos aos nossos empregos, que demandavam muito de nós na época e aquilo só enfraquecia nossa relação, pois não tínhamos tempo para ficar um com o outro. E então, nós não nos amávamos mais. Foi difícil no início, você mesmo me via passar noites em claro, acordada, pensando no que seria dali pra frente.

— É, eu me lembro...

— Mas eu quero que saiba de uma coisa. — Ela segurou o meu rosto e me fez olhar nos olhos dela para que eu pudesse ouvir com clareza. —  Mesmo que seja tão difícil encarar a realidade, você precisa seguir em frente, independente de qualquer coisa. Olhe para si mesmo e diga "Eu posso! Eu consigo!". Você só precisa de si mesmo para alcançar seus ideais. Entendeu?

Eu absorvi lentamente cada palavra que ela havia acabado de me dizer.

Sei que tudo o que mamãe me diz é para o meu bem e que devo usar isso ao meu favor.

— Sim, entendi. Obrigado por tudo. E desculpa por ter te feito chorar, não era a minha intenção. — Falei em um tom de culpa e preocupação.

— Não se preocupe com isso, eu vou ficar bem. Eu te amo filho.

— Eu também te amo mãe.

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Na escola, quando tocou para o intervalo, eu fiquei observando o garoto novo saindo da sala.

Fui seguindo-o durante sua ida ao refeitório. E ao pegar sua bandeja, foi se sentar em uma mesa, no fundo do local. Parecia muito introvertido, então fui tentar socializar com ele.

— Hey, você! — Falei ao chegar onde estava.

Ele olhou para mim, esperando ansiosamente para que eu continuasse.

— Eu sugiro que você se sente em outra mesa, aqui é o meu lugar, não vai querer comprar briga no primeiro dia de aula, não é?

— Ah, me desculpe, já vou me retirar.

Ele começou a recolher o seu lanche, mas eu o impedi.

— Não, não. Não se preocupe, eu estava brincando, pode ficar a vontade. Era só pra descontrair. — Falei rindo por causa de sua expressão assustado.

— Ah, tudo bem então. — Ele respondeu, encolhendo os ombros.

É, acho que não foi um bom início de conversa.

— Posso te fazer uma pergunta?

Me surpreendi ao ouvi-lo falar isso, não achei que ele iria falar alguma coisa.

— Na verdade, você já está fazendo, mas tudo bem, pode perguntar de novo. — Respondi, sentando-me a sua frente.

— Porquê ficou me olhando a aula inteira?

Nossa... É sério que fiquei encarando ele o tempo inteiro e nem havia percebido?! Agora vou ter que inventar alguma coisa.

— Na verdade, fiquei um pouco extasiado. Suas bochechas são muito grandes, acho que foi isso que me chamou atenção em você. Desculpa ter ficado tão na cara.

Ele passou a mão em sua bochechas, deveria estar se perguntando se eram mesmo grandes. Que bela desculpa essa minha. Tapado! — Me julguei, dando um tapa em minha própria testa.

— Ah, tudo bem. — Ele riu. — Muita gente diz isso, acho que deve ser de família. Meu pai vive dizendo que a minha mãe também tinha.

— Tinha? Não tem mais? Ela fez aquela cirurgia que tira as bochechas? — Perguntei, aquilo parecia soar engraçado.

Até que ele constatou o fato a seguir.

— Oh, não, não. Ela morreu quando nasci, então eu não a conheci.

— Ah, desculpa. Eu sinto muito.

— Não, tudo bem. Eu fico imaginando como ela era, mesmo que eu já a tenha visto por fotos, mas pessoalmente é totalmente diferente.

— É... E então, está gostando daqui? — Tentei mudar de assunto.

— Eu me mudei há pouco tempo, mas por enquanto tá bem de boa. O que eu mais gostei até agora foi o meu novo apartamento, ele tem uma vista incrível da cidade.

— Ah, que bom. E onde você mora?

— Não sei exatamente, mas é em um prédio ao lado de uma sorveteria. Papai disse que iríamos lá qualquer diam

— Amarela?

— Hm, acho que sim.

— Woah! Acho que somos vizinhos. Em qual apartamento você mora?

— Se não me engano, 357.

— Que coincidência, eu moro em frente ao seu, no 355.

— Ah, que legal! — Ao sorrir, os olhos de Jimin se tornaram risquinhos, o que achei adorável.

— É, bem legal.

De repente o sinal tocou, indicando que o intervalo havia acabado e que deveríamos voltar para a aula

— Vamos, agora temos mais algumas aulas para assistir.

— Será que vou ter que me apresentar de novo para a turma?

— Hm... Acho que não, talvez só para o professor depois.

— Que bom, fico mais aliviado.

É, acho que o garoto estranho não é tão estranho assim.

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