Quinta

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O beijo de ontem foi carinhoso e com cuidado, com um toque quente e delicado em meu rosto e isso me deixou atônito. Não era uma situação favorável então nunca imaginei que ganharia qualquer tipo de afeto do professor. O pensamento além de me deixar apaixonado como o belo adolescente que sou, também me tirou o sono. Era quinta-feira e o alarme não só já estava tocando há um tempo, como também era o terceiro a despertar. Me levantei rápido demais, o que acabou por me causar um enjôo por conta do sono excessivo, mas ignorei e me arrumei com pressa.

Cheguei atrasado na escola, o que me rendeu um olhar confuso e um dar de ombros do porteiro que àquela altura tinha se acostumado com meu rosto bem antes de todos ali. Não teria como ver o professor antes de começar a aula de hoje, mas ao menos agora seria o horário dele. Corro o máximo que dá pelos corredores, até chegar à porta, meio suado e ansioso para ver Taehyung, abrindo a porta depois de me acalmar.

- Sr. Jeon... - o homem que já se preparava para a aula de matemática me olha. - Está atrasado.

Sua resposta fora tão seca que travei por alguns segundos antes de me desculpar e ir para a minha mesa.

O que eu esperava?

Olhando para o professor, não conseguia prestar atenção alguma ao conteúdo. Minha cabeça só divagava no quão horrível eu era por estar fazendo isso com ele e no quão cruel ele deveria me achar e no quão idiota eu fui em pensar por um instante que poderia merecer algum tipo de carinho ou atenção vindo dele. Taehyung com certeza me odiava e eu me odiava ainda mais.

- Jeon? - minha cabeça volta à Terra com o mais velho me chamando e, de quebra, meus colegas me olhando. - Agora que temos sua atenção, se importaria de vir ao quadro responder a questão?

Me levantei em silêncio. Agora ele iria implicar comigo? Meu nervosismo era tanto que minhas mãos tremiam. Não era por estar respondendo uma questão (a qual eu já havia estudado) na frente de todos ou por causa da situação embaraçosa de agora a pouco, mas pelos olhos dele me sondando. Eu o sentia me encarar e aquilo era como levar uma flechada a cada segundo.

Terminei e me virei para ele, que me olhava afiado e com algo mais que não soube identificar.

- Hm... - ele analisou a minha resposta. - Está certo. Pode se sentar.

Meu corpo estava em chamas e tinha certeza que estava quase chorando. Voltei para a minha mesa um pouco apressado demais, só enterrando minha cabeça nos braços, tentando respirar. Ele nem fez nada, mas ainda assim mexia com cada parte do meu ser.

O resto da aula se arrastou até o recreio. Eu já não aguentava mais, precisava sair dali. Só mais alguns passos e eu estaria fora de seu alcance.

- Sr. Jeon. - ele me chamou quando eu estava prestes a sair da sala. Ele me encarou paciente, esperando que todos saíssem. - Feche a porta. - disse, tirando os óculos.

Me virei para fechá-la e ali fiquei. Não conseguia me mover e só aceitei, encostando minha cabeça na porta. Eu realmente não queria me virar, mas depois de poucos segundos, o ouvi suspirar vagarosamente, seguindo de passos em minha direção.

- Então... - falou em um tom rouco. - Eu te esperei mais cedo, mas... - ele encostou a mão direita na porta ao meu lado, seu tom de voz abaixando conforme ia se aproximando, se tornando quase um sussurro pesado. Eu podia sentir sua respiração na minha nuca e aquilo estava me dando arrepios, me deixando louco, acabando comigo, o que me arrancou uma respiração dificultada pelo prazer. - ... Você não veio. - dessa vez, ele encostou sua cabeça em meu ombro esquerdo. - É feio não cumprir seus compromissos.

Sem uma resposta, o professor ficou naquela posição por um tempo, me torturando com sua respiração, até decidir me virar para vê-lo. Não sei que tipo expressão ele viu, mas ele certamente estava em deleite com a situação.

- Sabe... Eu me enganei sobre você. Sempre foi um aluno dedicado e quieto. Desatento, mas bom. Mesmo que não preste atenção na aula, o que você faz com uma frequência irritante, sempre sabe responder a questão, por mais que trema toda vez. Um ótimo aluno. Até aquele dia. Você se provou um pirralho insolente e inconsequente, em busca do quê? Uma aventura? Uma história do último ano para contar? O que você quer? - ele tinha um olhar irônico e um sorriso amargo em seus lábios. Aquilo me deixava puto e excitado.

- E o que você tem com isso? - lancei, também amargo. Ele já me odiava mesmo. - E se eu quiser uma aventura? Tudo que você tem que fazer e se preocupar é em me beijar, a não ser que queira as fotos esp...

Fui interrompido pelos seus lábios contrastando com os meus. Para me interromper, começou abrupto, mas logo se tornou suave, o que me desmontou todo, mas não mais do que ele parando o beijo e sorrindo maroto depois.

- Você quer uma aventura?

Não respondi e ele pôs uma mão em meu rosto e puxou meu quadril para mais perto dele, chocando nossos corpos em uma melodia furiosa. Os beijos que até então tinham sido selinhos demorados, se tornaram algo mais quando sua língua começou a dançar com a minha em um ritmo sedento e selvagem, me causando sensações até então inexploradas por ele. Eu poderia explodir agora mesmo e isso seria o nascimento de outro universo.

Eu nunca mais terei isso.

Com esse pensamento, eu já não controlava mais o meu corpo. Parei tudo e o empurrei exasperado, recebendo confusão e estranhamento dele em troca, enquanto limpava a minha boca com uma mão, fugindo pela porta e correndo até o banheiro.

Eu só queria chorar. Eu não fazia ideia que seria algo tão doloroso.

Fiquei o resto do intervalo lá, até ter que voltar para a sala. Entrei de cabeça baixa, não notando o que acontecia e dessa vez o professor não me chamou. Quando o sinal tocou, foi um alívio. Arrumei minhas coisas pesadamente, mas novamente, antes que eu pudesse sair, o professor me chamou e indicou com o dedo para que eu me aproximasse de sua mesa, onde estava sentado. Nos olhamos silenciosamente até que todos fossem embora.

- Seu aniversário é uma senha muito clichê. - disse, tirando um celular do bolso. Tateei os meus próprios em vão, já sabendo que aquele era o meu celular. - Eu apaguei a foto.

Ele estende o aparelho para que eu o pegue.

Aquilo, de certa forma, me aliviou.

- Professor... - falo, olhando o objeto em minhas mãos.

- Hm?

- O senhor me odeia? - o olho bem fundo nos seus olhos.

- É... Eu odeio.

É isso.

Sorrio olhando novamente para o meu celular. Meu coração está a partido

- Eu vou me mudar, então esse será o meu último beijo.

Me aproximo do alvo de todo o meu amor e admiração por anos e com um carinhoso e triste selar em sua bochecha dou as costas.

Adeus, Taehyung. Eu te amo.

O PlanoOnde histórias criam vida. Descubra agora