Prólogo

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Acordo assustada com o despertador tocando no criado mudo em cima

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Acordo assustada com o despertador tocando no criado mudo em cima. As gotas de água quente tocam a minha pele fazendo pequenos estalos. Mais uma vez dormi sentada no chão gelado do meu banheiro, em meio ao banho.

Levanto-me com dificuldade por causa da dor em meu ventre. Caminho em passos pequenos até o despertador irritante que toca sem parar, em cima do criado mudo.

Tiro minhas roupas molhadas e coloco dentro do cesto. Pego minha toalha e me seco e vejo as terríveis marcas roxas e os machucados em minhas pernas e braços. Verifico a hora, tenho apenas dez minutos até a minha "mãe" vier abrir a porta do meu quarto para me levar para a escola.

Escolho uma calça de moletom, uma blusa de seda fina de manga cumprida e uma blusa de frio, no meu guarda-roupa sem portas. Você deve estar achando meio brega esse estilo meu, mas não é estilo é a única opção para esconder todas as terríveis marcas do meu corpo, e há de mim se eu abrir a boca.

A porta é aberta com muita força me assustando.

— Vamos que eu não tenho todo tempo do mundo para ficar te esperando, feiosa — Ester, a mulher que se denomina minha mãe falou severamente. Peguei a minha velha mochila e coloquei nas costas, senti uma pontada de um dos meus machucados. Passei por ela de cabeça baixa, sem lhe dirigir o olhar.

Ela pega a minha irmãzinha de quatro anos do chão e a coloca no meu colo, de qualquer jeito enquanto conversa no celular. Hadassa é uma criança muito calma e não dá um pingo de trabalho, não tem o porquê não gosta desses lindos olhinhos azuis e essa pele macia. Ela é o motivo de eu continuar lutando dia após dia. Nós vamos sair das garras dessa mulher, eu lhe prometo.

(...)

Desço do carro uma quadra antes da escola, porque ela não gosta que me vejam com ela. Minha própria mãe, que me deu a luz tem vergonha de mim. Como sempre ela fica me vigiando até chegar ao meu destino, e depois, que eu passar do portão, ela passa na frente da escola para ter certeza que eu não irei tentar fugir. Eu já tentei isso uma vez e quando cheguei a casa ela me deu uma surra que quase deslocou minha perna.

Vou direto ao banheiro da escola, no meu quarto não tem espelho então quase não me vejo. Meus olhos verdes têm terríveis olheiras profundas e meu cabelo está preso em uma trança comum.

— Eu vou adorar esse ano, aqui tem vários gatinhos — uma garota diz, ao entrar no banheiro com o seu grupo. Saio tentando passar por despercebida.

— Aonde você vai putinha Bebel? — uma delas me barra quase na saída. Por que a porta tem que ser tão estreita?

— Por favor, me dá licença? — peço de cabeça baixa. Uma moça aparece na porta pedindo para irmos ver a nossa sala. Ela salvou a minha pele, eu não estava nem um pouco a fim de ter a cabeça enfiada na privada hoje.

Aproveito a distração, e vou para procurar a sala nesse terrível inferno chamado escola. Esbarro-me em um senhor esbelto, alto e com um pouco de calvície.

— Desculpe-me senhor — tento me desculpar.

— Você está perdida — ele pergunta sendo gentil. Assinto de cabeça baixa. Por que ele está sendo gentil comigo? Depois de todas as seções de torturas eu aprendo a confiar em ninguém, ainda mais se for homem.

— Que série você está? — ele volta a questionar.

— No primeiro — respondo com a voz baixa. Ele me guia para as salas do fundo da escola, onde vários alunos procuram eufóricos pelo seu nome na lista.

— É esse corredor aqui — ele aponta do começo ao fim do corredor. Agradeço, percebo algumas meninas do meu antigo colégio me encarando com cara de nojo.

Espero os alunos se acalmarem e entrar para sala, para não imprecarem comigo, estou na vista de alguns funcionários. Procuro meu nome na lista das salas e o encontro na última. Por incrível que pareça os alunos estão todos quietos, mas isso muda ao sentar-me, na mesa de frente a do professor.

— Aqui não é bordel não! — escuto uma voz feminina vindo do fundo da sala. Provavelmente deve ser a Alana, ela e a garota mais encrenqueira que eu conheço e tenho certeza que ela não me deixará em paz.

Tento ignorar o que ela disse, mas é impossível às vezes. Eu já chorei tantas vezes que não sei se existem sentimentos pelo tanto que me machucaram, talvez nem restem mais forças para chorar. Apenas para continuar sobrevivendo um dia de cada vez.

(...)

No intervalo, me recuso a ficar junto com os outros alunos que me fazem mal, por isso eu vou direto para a biblioteca e escolho um livro de romance para ler.

— Não irá lanchar? — Uma moça jovem me pergunta e em seu crachá está escrito Carla.

— Prefiro ficar em meio aos livros à aos meus colegas — respondo tentando ser convincente.

— Eu também era assim, mas você não está com fome? — ela pergunta se sentando na cadeira vaga na minha frente.

—Às vezes — minto.

— Você lancha comigo? — ela convida se levantando. Apesar de não ter tomado café e nem jantado ontem o meu estômago anseia por algo.

—Eu não quero entrar naquela fila com pessoas me empurrando — respondo abrindo o livro.

—Não tem problema eu trago para você — ela sai antes de eu recusar outra vez. Tempo depois, ela volta com dois pratos com comida, sinto meu estômago doer pedindo alimento. Assim que ela coloca o prato a minha frente, deixo meu livro de lado e começo a comer. Essa com certeza é a melhor comida que eu como há meses.

— Vá com calma, a comida não irá fugir — ela ironiza me observando.

— A comida daqui está deliciosa — elogio e volto ao meu prato.

— Você pode vim aqui todos os dias se quiser — ela me convida terminando a sua refeição.

— Eu irei sim. Obrigada pelo convite — agradeço. Há tempos ninguém é gentil comigo.

Depois do intervalo, entro na sala depois de todos. As minhas coisas estavam reviradas e tinham um órgão desenhado na minha cadeira. A professora entra atrás de mim e me ajuda a recolher as minhas coisas e apagar o rabisco da cadeira.

— Obrigada professora — agradeço e me sento no lugar.

Ela faz todos se apresentar no lugar, quando chega na minha vez, alguém murmura "putinha Bebel" do fundo da sala.

— Quem disse isso? — a professora pergunta irritada e ninguém diz nada. — Eu vou perguntar de novo. Quem disse isso? — ela olha para a turma de garotas, do fundo esquerdo.

— Já que ninguém é mulher o suficiente para dizer, eu quero que fique bem claro que a mesma garota que a chama de puta é porque não sabe o que se passa na casa dela. Ou faz pior, sai distribuindo para qualquer garoto que vê pela frente, por ser "gatinho" — ela da ênfase na ultima palavra e faz uma pausa. — Se alguém voltar a insulta-la vai repetir direto na minha aula, sem prova e nem nada e com uma caneta eu resolvo isso. — Ela se senta e começa a fazer a chamada. Nunca nenhum professor me defendeu desse jeito. Escrevo um bilhete de agradecimento e coloco em sua mesa.


Eu não irei postar essa estoria com frequência somente, pois estou muto apertada com o meu primeiro livro.

Filha da Narcisista (Em Breve)Onde histórias criam vida. Descubra agora