Por esta altura o som da ventoinha tornava-se irritante e, passado duas horas a olhar para um calendário dos Motörhead que estava afixado na parede, já sabia de cor todos os feriados do ano, por isso estava na altura de alguém falar.
- Ainda falta muito? - disse contorcendo-me um pouco pois a dor começava a ser um pouco insuportável. Digamos que de 0 a 10, sendo 0 "não sinto dor nenhuma" e 10 "esta merda dói para caralho", estava perto do 8.
- Não, mas se estivesses quieta tinha sido muito mais rápido.
Rolei os olhos, mas sabia que ele tinha razão, a minha mãe sempre me disse que eu tinha "bichinhos carpinteiros". O cheiro da tinta estava a dar-me cabo da cabeça, mas quando olhei para o meu irmão, ele não pareceu muito importado com isso. Sim, porque a Playboy que estava em cima da mesa era muito mais importante do que a primeira tatuagem da sua maninha.
- Importas-te de pousar isso?
- Para quê? Para te ir segurar a mão? Oh, a minha maninha quer que eu lhe seg...
- Cala-te! Esquece, volta para a tua revista. - gritei, antes que ele acabasse a frase. - Às vezes és tão estúpido, Jackson. - susurrei.
- Estúpido...Mas sou eu quem te vai pagar isso.
Ele tinha razão. Aparentemente toda a gente tem razão menos eu.
- Já está. - finalmente.
Levantei-me e saí pela porta do estúdi sem olhar para trás, nem sequer quis ver o resultado. Tudo o que eu sei, pode estar uma real bosta, mas vou confiar, afinal o The Eye é o melhor tatuador de LA, ou pelo menos deste quarteirão. Ele ganhou a alcunha de The Eye quando rapou o cabelo e tatutou um olhou na cabeça, dizer que era ridiculo era pouco, mas ninguem se atrevia a gozar com ele, ou estavam sujeitos a levar com 120 kg de músculo e tinta.
-Tem calma! - gritou o meu irmão, ao sair da loja, fazendo com a campainha toca-se. Nunca tinha percebido para que serviam estas campainhas até o Jackson me ter explicado que era para se saber quando alguém entrava numa loja,acho que sou um bocado lenta.
- Despacha-te! O Wyatt disse que só os guardava por uma hora.
-Ok... Entra no carro.
Fiz como ele me mandou e depois de ambos termos fechado as portas do nosso barulhento e mal-cheiroso Chevrolet Caprice Classic de 1980, que passou a ser a maior estimação do meu irmão desde que o conseguiu pôr a funcionar, ficámos em silêncio.
- Jackson...
- Queres conduzir? - perguntou-me, depois de intermináveis minutos a olhar para a estrada.
- Ò meu deus! Sim, claro que quero! Espera. Qual é o teu plano? - desconfiei eu. O meu irmão trbalhava neste carro todos os fins-de-semana, durante horas, nunca deixava ninguém tocar-lhe e agora, de repente, EU podia conduzi-lo. Eu. A pessoa mais desastrada de sempre. A pessoa que tropeça sempre que sobe ou desce escadas. Não me parece.
- Nada. Só acho que...Já tens 17, acho que está na altura de o testares. - sorriu-me, e não porquê mas tive a impressão que lhe escapou uma lágrima, mas era um pouco difícil de dizer com os óculos escuros que estava a usar.
Passei para o lugar do condutor e apertei o volante com as minhas mãos, sabia bem. Apesar de saber, nunca percebi porque temos de andar de carro quando podemos simplesmente voar.
*espero que tenham gostado desta parte. esta e a minha nova historia e isto e apenas um esboço para saber se gostam ou nao. se me dessem a vossa opiniao eram os/as melhores!!!! *
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In The Arms of The Angel
Science Fiction"In the arms of the angel Fly away from here From this dark cold hotel room And the endlessness that you fear You are pulled from the wreckage Of your silent reverie You're in the arms of the angel May you find some comfort here" Sarah Mclachlan " '...