Sugestão - Escute a música "Feels like this" da Maisie Peters enquanto estiver lendo.
Quando decidi ser artista, não era em dinheiro que pensava, nem em fama e talvez um pouquinho em reconhecimento. Mas nunca, em hipótese alguma, em amor. Meu coração não acelerou quando o vi pela primeira vez, muito menos nos quatro meses que se passaram. Éramos como agua e vinho, não nos misturávamos, mas mal sabíamos que éramos a fonte perfeita de equilibro.
Eu tomei a iniciativa de falar com ele. Não fazia ideia do que falar, então escrevi uma carta, o que honestamente, não fora muito diferente. Mas lá estava eu, no último dia do primeiro semestre do curso de artes, suando, com um misto de sentimentos que eu mal sabia decifrar. Havia comprado uma caneca de gatinhos para dar junto. E foi a partir daí que tudo começou.
– Acho que deveria contar a ele o que sente. Dizia Gaby.
– Não sei, está cedo demais. Vasculhei minha bolsa a procura do meu celular.
– Não adianta fingir Sea, uma hora ele vai descobrir. Já viu o quanto de besteiras você anda postando nas redes sociais? A lista dos seus melhores amigos contem apenas eu e ele, e com toda certeza sei que não posta essas coisas para mim. Argumentou.
– Nos conhecemos de verdade há menos de dois meses, não acho que devo contar. Além disso, preciso ter certeza.Paramos por ali, já sabíamos onde essa conversaria iria parar. Sabíamos que seria um erro contar, como das outras 7 vezes, antecedentes a essa. Ouvimos Os blackstones, bebemos gim com água tônica, assistimos Uma linda mulher pela centésima vez e pegamos no sono em meio a grãos de pipoca.
Um mês se passou e os meus sentimentos eram tão perturbadores quanto uma agulha espetando sem parar a minha pele. Meus pensamentos se confundiam, eu não conseguia parar de pensar em como admirava os olhos dele, ou em como o formato da boca dele chamava a minha atenção. Sentia o medo de estar confundindo as coisas, mas os sentimentos pareciam sufocar qualquer ação movida pela razão. Sentia um gosto amargo na boca toda vez que o via entrar na sala de aula, meu corpo tremia. Ouvir a voz dele fazia-me bambear como se estivesse embreagada. Sentir o perfume dele me fazia entrar em colapso.
– Que perfume é esse? Perguntei, destemida.
– Egeo.
– É muito bom, gostei do cheiro. Continuei, um pouco mais destemida.
– Se quiser posso te mandar uma foto quando chegar em casa. Sugeriu.
– Quero sim. Obrigada! Agradeci.Desse dia em diante, sempre elogiava o cheiro do perfume dele. Não por flerte, mas foi a primeira vez que flutuei no perfume de alguém. O amor causa sentimentos estranhos em cada fase da nossa vida. Por exemplo, nos meus 12 anos me apaixonei por um menino chamado Tiago, era estranho o sentimento, sentia dor de barriga toda vez que o via passar, sentia que devia dar o melhor de mim para ele notar que eu existia. Mas nada adiantou. E eu passei a admira-lo e a amá-lo. Porém, não foi o suficiente. Com 14 me apaixonei por outro menino, queria me esconder quando o via passar, éramos amigos, mas ultrapassou a barreira do egocentrismo e se esbarrou no amor, mas só da minha parte. Com 16, outro rapaz, dessa vez ele morava na rua da minha Vó e eu o admirava de longe, li livros que nunca gostei para impressiona-lo, puxava assuntos completamente chatos para mim e acabai amando alguém que não me amava.
– O que você tanto digita aí? Perguntou Gaby, sentando ao meu lado.
– Terminando um conto. Continuei digitando.
– Não é sobre ele, é? Questionou com as sobrancelhas arqueadas.
– Não Gaby, não é sobre ele!Mas era, e não era um conto. Eram os meus sentimentos em uma tela branca de computador, com o seguinte texto;
Era estranho vê-lo chegar e ser o meu oposto. Enxergar a si mesmo em alguém parece o quadro mais extremo de loucura. Talvez fosse capricho meu. A quanto tempo eu não amava intensamente alguém? O amor é ver um reflexo seu em alguém? Soa egoista, e é isso que ele de fato é. Puro egoísmo. Era egoísmo porque eu admirava a forma que ele sorria, porque achava os dentes dele sexy, porque a boca dele tirava toda a minha concentração, porque sentia ciúmes, porque amava vê-lo desenhar, porque ele mexia comigo, porque eu o amava. O perfume dele me deixava elétrica. Sim, eu estou eletrificada por pensar em você! Quando você olha para mim, é como se uma luz acendesse onde a muito tempo achei que já estivesse queimada. E eu me pergunto o que é isso? Fico pleiteando mas sei a resposta, é o amor. Eu me sentia em pedaços. E continuo a me perguntar, isso é o amor? Eu queria gritar, você acertou o alvo querido, acertou o alvo. Mas sentia que estava me afogando enquanto nadava para beira. Que sentimento é esse mesmo?E eu contei. No outro dia, derramava lágrimas frente a minha psicóloga e deplorava-me por ter abandonado a terapia de forma precoce. Me perguntava se ela me achava uma boba. Deveria ser a décima vez que falava com ela sobre nutrir sentimentos por alguém. Mas nunca havia chorado por isso. Pelo menos até agora. Segurei a caixinha de lenços nas mãos e caia em prantos a cada palavra que pulava entre os meus lábios.
Éramos amigos, e não se passava um dia sem que me culpasse por nutrir isso. Não era para ser, mais o meu subconsciente berrava o contrário. Eu sou jovem vou encontrar alguém. Mas o meu eu interior dizia que não, e gargalhava ao me ver chorar. Eu viveria com mais essa. Brigamos pela segunda vez, e eu disse coisas terríveis. Talvez porque o meu orgulho ferido simplesmente não pode aceitar mais um não. Já foram 8, e nenhum sim. Era por causa do meu corpo? Ou a mesma desculpa do sexto garoto, que alegou não estar pronto mas amava outro alguém? Eu só tenho dezoito, com certeza encontrei alguém nas próximas décadas. E a dona voz da consciência, estampava um não com letras de forma em meu subconsciente.
Meses depois
– Precisamos conversar. Ele disse quando entrou na sala.
– Sobre? O encarei. Agora que os meus sentimentos estavam um pouco estagnados dava-me ao luxo de encara-lo. Da vez anterior, eu tive um colapso surtogenico nervoso. Eu inventei esse nome.
– Eu amo você Sea. Nunca foi a minha intenção magoá-la. E nem agora. Mas acho que estou apaixonado por alguém.A mente: então todas a vezes que me pediu para esperar e me deu vácuo estava conversando com ela? Todas as vezes que te vi olhando para o celular sorrindo era ela? Quando olhou para mim viu ela também? As idas ao YouTube enquanto conversava comigo era ao bate papo dela?
A razão:
– Tudo bem. Sorri envergonhada. – não vou ficar magoada com isso.
A mente: saia daí senão farei você chorar.– É por isso que amo você, mesmo sendo ridícula algumas vezes. Me abraçou.
A mente: você fala isso para ela também?
Mente 2 x 0 Razão
É amor, você foi realmente o meu tsunami. E escolheu me deixar ir.
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O ponto da virada - Livro de contos
Short StoryEm meio aos pingos de chuva e às luzes da cidade, o amor acontece. Recíproco ou não. Ele chega, com mala e sem aviso prévio. Tira tudo do lugar. É despretensioso, pode ser eterno ou um mero passageiro.