Capitulo 1: Quando abro meus olhos.

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Quando abro meus olhos, novamente estou neste mundo escuro, em um local onde eu não consigo ver nada a não ser essa pequena luz desfocada ao meu redor. Olho para cima na intenção de ver algo, na intenção de saber de onde vem essa pequena luz, porém eu não vejo nada. Estou com os pés nus pisando na mesma superfície de sempre, um chão tão escuro quanto o cenário onde estou, olho ao meu redor tentando encontrar algo mas está escuro demais para ver, meus pés estão sobre uma fina camada de água e mesmo ela estando bem gelada, não sinto frio algum. Isso já se repetiu tantas vezes que se tornou algo "comum" à mim. Eu escuto sons de passos na água, mas dessa vez eu fico parado. Quando aquilo se aproxima mais, eu consigo enxergar-lá vindo lentamente na minha direção, uma criatura que anda em quatro patas, muito maior do que eu. Ela se aproxima e se ergue imponente ficando em somente duas patas, mostrando uma cor ainda mais escura do que o local, sua respiração forte e gelada já não me causa calafrios. Seu corpo reflete pequenos feixes de luz e me da a impressão de ser feito de líquido, como se cada parte de seu corpo escorresse. Se eu olhasse para seus pés teria uma ilusão que eles estão fundidos ao chão. Se eu prestar mais atenção posso até imaginar que toda aquela água na verdade é parte de seu corpo que já escorreu anteriormente.

Mas antes de mostrar o fim da minha jornada eu irei mostrar ao leitor tudo, desde o inicio. Vou mostrar a vocês como eu causei a morte de varias pessoas sem ao menos tocar nelas.

[5 anos atrás]



- Caroline você está pronta? Temos que ir logo, o horário de visita termina daqui 3 horas, não podemos nos atrasar.

- Já estou descendo Alan, me dá só mais uns segundos só vou terminar de passar minha maquiagem.

Alan: Maquiagem? Nosso pai está no hospital e você está se preocupando com a maquiagem Caroline?

Caroline: Pronto Alan Carter! Já terminei.

Minha irmã tinha 18 anos e eu 21, nós estávamos morando na casa do meu pai e agora que ele estava no hospital as coisas começaram a ficar difíceis para nós dois. Nossa mãe havia nos deixado para ficar com um playboy. Eu trabalhava em um mercadinho e estava tentando manter as contas em dia. Meu pai estava no hospital há 3 meses e eu e minha irmã só haviamos o visitado umas 4 ou 5 vezes. Por trabalhar todos os dias -exceto aos domingo- no mercado ficava difícil visitá-lo. Já estava vendo a dificuldade que era manter as coisas na casa em ordem.

Já eram 13h de domingo. Eu e minha irmã só estávamos esperando o Lucas chegar, ele tinha carro e iria nos levar até o hospital. Poucos minutos se passaram e nós ouvimos um som de buzina ao lado de fora da casa e uma mensagem chega ao meu celular, era o Lucas dizendo que havia chego. Abracei a minha irmã e disse à ela que tudo iria ficar bem e eu estaria sempre ao lado dela.

Quando entramos no carro do Lucas tudo estava bem tenso, ninguém se atrevia a quebrar o silêncio, até que Lucas decidiu falar algo.

Lucas: Alan, eu estou me perguntando algo e isso não sai da minha cabeça... bem, até onde eu sei, o seu pai não está doente, em todas as vezes que eu te dei carona você me disse que os resultados dos exames mostravam que ele estava bem. Então... se ele está bem, por qual motivo ele está no hospital?

Alan: Os resultados dos exames dele estão ótimos mas...

Lucas: Mas?

Alan: Os médicos não conseguem explicar o por que ele está quase em estado de coma... nenhum dos exames mostra alguma possibilidade de ele estar assim.

Ninguém conseguia entender o motivo, meu pai pouco falava comigo, e eu também não prestava atenção quando ele falava. Ele vivia dizendo que via coisas, e depois que ele saiu do manicômio eu passei a desconfiar muito mais do que ele falava. Era até irônico pensar que um psicólogo foi parar em um manicômio. A única pessoa que realmente se importava com as "baboseiras" que ele falava era minha irmã, mas ela não me dizia oque ele falava, dizia que eu não iria acreditar nela e nem nele. Talvez ela tivesse razão.

Lucas: Eu nunca vi algo desse tipo, uma pessoa com a saúde estável, sem problema algum, estar quase em coma sem nenhuma explicação.

Alan: Eu também não entendo, gostaria muito de entender, mas quando eu tento falar com ele, ele só vem com papos estranhos.

Eu estava sentado no banco da frente e diversas vezes olhava pelo espelho de teto do carro e via a minha irmã olhando para o lado de fora do carro, perdida em seus pensamentos, olhando para o nada, com o rosto apoiado na mão,. apenas observando as gotas da chuva fina que caia. De vez enquando eu pegava alguns olhares dela no espelho como se estivesse prestando atenção na conversa, mas quando percebia que eu olhava pra ela, ela rapidamente voltava a olhar para a janela.

Lucas: Sua irmã é bem timida não é Alan? -Lucas fala olhando pelo espelho. Ela o encara por alguns segundos e simplesmente mostra um sorriso.

Alan: Acho que a situação não é muito interessante para fazer graça Lucas.

Depois de 20 minutos de viagem nós chegamos ao hospital. Eu disse ao Lucas que ligaria para ele quando nós estivessemos prontos para ir embora, mas ele disse que nos esperaria. Agradeci e desci do carro e minha irmã fez o mesmo.

Pesadelo Sem FimOnde histórias criam vida. Descubra agora