Capítulo 1 sem título

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  E aqui estou, em Westwaters. Cidade litorânea, de imensa beleza, onde navios traziam pessoas sonhadoras e levavam pessoas esperançosas. Havia areia na minha cara, pois meu avô me dizia que protegia do sol; e em Westwaters, o sol aparentava brilhar mais.

  Antes de encontrá-lo, cada passo foi dado com cautela, pois cada passo podia ser meu último. Olhava para todos os lados, incansavelmente. Lembro-me do rosto de minha companheita. Jovial e inquieto, e eu era só seu transporte e sua munição. Encontramo-nos saindo de um bar, sorrindo com dentes de crocodilo e com ar de deboche. Em seus olhos pude ver sangue, sangue de suas várias vítimas passadas, e que naquele momento guardavam espaço para mais duas.

  Pobre Mia, queria fazer sozinha. Achava que tirar as vidas de seus aliados o intimidaria. Não demorou para que a bala de ferro perfurasse seu estômago, dando esperanças a seu caixão.

  Tinha logo que levá-la ao médico local, mas o inimigo queria mandar dois corpos para debaixo da terra, e só descansaria quando eu fosse silenciado. Então encontrei-me no meio de duas estruturas, uma casa e um banco, de frente para o agente favorito da morte, entre um bar e um hotel.

  Oh Mia, que situação é essa em que nos metemos? Nos achávamos indomáveis, agentes da justiça e expulsadores de pesadelos, mas lá estávamos, em desvantagem e com medo. Mas não desistentes. Seu sangue saindo de seu corpo significava para mim areia dentro de uma ampulheta. A que media sua vida.

  Então, se enfrentá-lo era o que precisava para salvá-la, que assim seja. O sol estava se pondo, as pessoas assistiam de suas janelas, umas corajosas assistiam de sacadas, minha pistola parecia pesada demais no coldre, conseguia sentir cada gota de suor escorrendo em minha testa e o dia não acabaria sem levar uma vida... Ou duas.

  De repente, silêncio. Muito silêncio. Esperávamos quase quietos, pelo primeiro movimento. Embora minhas atenções estivessem voltadas à sua mão, conseguia sentir seu olhar me rasgando. Estava convencido da sua vitória; o que não era errado, afinal, eu era apenas um barbeiro, e um barbeiro comum não representava perigo algum, para alguém que já tirou a vida de todo tipo de pessoa. 

  Mas, se tinha uma coisa que eu sabia bem era "ler" as pessoas. Com o trabalho que tenho, de tanto olhar por muito tempo para um ser humano, você percebe que há padrões em seu comportamento. Já cortei o cabelo e conversei com os mais diversos tipos de pessoas: prefeitos, damas, pobres, magnatas, vigaristas, vendedores ambulantes, bastardos, assassinos ... E Crocodile King não passava de um assassino, como qualquer outro. 

  Um dia, cortei o cabelo de Winston Bloodshot, assassino habilidoso procurado em muitos cidades. Por medo, o fiz de graça e, para retribuir o favor, ele me deu uma dica: pouco antes de disparar em um duelo, um assassino serra os dentes. Talvez por ação divina, lembrei-me disso a tempo e olhei rapidamente para seu rosto. Eu estava em desvantagem, pois o sol estava se pondo atrás dele, então não posso dizer com certeza, mas estava confiante de que vi um branco, acima de seu queixo. Nesse exato momento, o mais rápido que pude, joguei meu corpo para a esquerda e disparei meu revólver. Crocodile, se minha teoria estava certa ou por reflexo, disparou, quase no exato momento.

  Antes de aterrissar no chão, uma dor imensurável surgiu na minha perna esquerda. Ele me atingiu. O meu maior erro foi piscar, no momento em que disparei. Se minha bala estivesse ainda vagando e procurando um alvo, significava que eu estava morto, em questão de segundos.

   Rapidamente olhei para o lado. Minha visão me chocou: sua mão estava no pescoço e seus olhos, arregalados e voltados a mim, dessa vez mais pareciam implorar pela vida do que contemplar o fim dela. De repente, de seus dedos, vi sangue escorrer. Não demorou para que começasse a jorrar sangue de seu pescoço. Por fim, após litros de sangue saírem do corpo, o assassino caiu. Crocodile King, o assassino mais temido da região, foi morto por Alfred Winchester, barbeito e viajante.

  Não podendo andar, rastejei até o corpo de Mia. Ainda tinha vida mas, quando toquei seu rosto, o senti frio. Restava pouca areia para cair.

  Ouvi a grande massa de pessoas saindo de casa e correndo. Umas foram checar o corpo de Crocodile. Outras, estavam vindo até nós. Com certeza uma delas era o médico da cidade e, com sorte, salvaria Mia da morte.

  Mesmo com todo o tumulto, consegui escutar Mia sussurrar, com as forças que lhe restavam:

  "Conseguimos?"

  Eu, então, respondi:

  "Sim, Mia. Vingamos o seu pai"

  

Pôr do Sol em WestwatersWhere stories live. Discover now