- Você tem ideia para onde esta indo? - Daniel segue o homem em meio a vegetação fechada.
- Quando ainda estávamos em queda, eu vi que alguns Pods caíram próximos. Se acharmos uma colina, poderemos ver alguma luz ou fumaça e saber onde eles estão.
Olhando o homem de perto, Daniel pode notar seu macacão. A cor que identificava a função era amarela, se estivesse certo, significaria que ele faria parte da força da guarda. Isso explicaria sua ideia de entrar na mata e de buscar por sobreviventes sem nem mesmo considerar os perigos da fauna e flora desconhecida. Outra característica que reforçava essa hipótese era o fato do homem ser grande e forte. E , claro, a cara de bravo.
- Ali, tem uma área mais elevada pra la, não deve estar mais do que 30 minutos de caminhada, venha.
Daniel seguiu sem questionar. Sobreviver em ambientes selvagens, em planetas desconhecidos não era sua área de especialização.
Para quebrar o silencio, Daniel resolveu puxar assunto:
-Marcos, não é? Sou Daniel, Engenharia elétrica.
-Prazer, força da guarda."Sabia!" Pensou Daniel.
-Você tem alguma teoria para o que aconteceu?
Nesse momento um tipo de inseto, parecido com um besouro, só que umas 2 vezes maior e sem asas cruzou o caminho do homem e ficou em pé, como em posição de ataque.
Marcos levantou seu braço, bloqueando o caminho de Daniel e com a outra mão apontou para o bicho estranho. Eles começaram a andar cautelosamente para trás, o que fez com que o animal se abaixasse e seguisse eu caminho, entrando no meio das plantas e sumindo de vista.
- Estamos em um ambiente totalmente diferente do que já vimos e estudamos. Precisamos tomar cuidado, venha. - Disse Marcos.
Alguns minutos andando entre plantas de varias cores e tamanhos, a subida em que caminhavam deu lugar a uma especie de grama mais baixa e o céu ficou visível aos dois. Pela iluminação, não teriam mais do que 2 horas de luz do dia, mas não foi isso que chamou a atenção.
Como uma chuva de meteoritos preenchendo toda a abóboda celeste ao alcance dos olhos, pedaços da Gemini ll ainda caiam na atmosfera. Ao entrarem em contato com os gases do planeta, o atrito fazia com que pegassem fogo, pintando o céu.
-Ainda estão caindo...
A imagem era, apesar de bela, forte demais para ser observada com vislumbre e Daniel ficou por alguns momentos chocado. Seu companheiro também havia parado de caminhar para testemunhar o maior acidente da historia da humanidade. A maior nave já construída pelo homem, desmanchando bem em cima de suas cabeças.
Um momento de lucidez foi o suficiente para quebrar o transe em que os dois se encontravam:
-Veja, o topo é logo ali!
Ao chegarem no topo, foi fácil identificar focos de incêndios na floresta abaixo, sinal claro de onde as capsulas aviam caído. A mais próxima estava a cerca de 2 quilômetros de distância, do outro lado da colina. Resolveram então que seria esse o primeiro lugar que procurariam por sobreviventes.
Já estava escuro quando finalmente avistaram a capsula caída entre a vegetação. Conforme se aproximavam, detalhes como galhos quebrados, a escotilha aberta e manchas de sangue ficavam visíveis. Os sentidos aguçados de Marcos também conseguiram perceber pegadas em volta, porém, curiosamente, elas vinham da floresta em direção ao modulo e não o contrário. Ele se virou para Daniel e sem dizer uma só palavra, indicou com a cabeça para alerta-lo da descoberta.
Ambos estavam de joelhos, escondidos atrás dos arbustos mais próximos, tentando conseguir ver o que se passava dentro da capsula.
-Talvez outros sobreviventes tenham chegado aqui antes. - Apesar do pensamento otimista, Daniel sussurrava próximo a Marcos.
Foi quando um estrondo forte vindo de dentro da capsula veio junto a uma luz.
-Tiros...
Antes que pudesse concluir seu pensamento, Marcos observou enquanto um menino, que não aparentava ter mais de 14 anos saiu do modulo em disparada, correndo em direção a vegetação densa. Seu esforço foi em vão, no entando, pois logo atrás dele, um homem com vestimenta estranha, composta por trapos brancos e dourados, usando uma máscara feita de metal, saiu com uma arma apontada e sem pensar duas vezes, disparou, acertando o menino pelas costas.
O impulso da corrida fez com que, depois de atingido, o corpo voasse a diante, caindo bem aos pés de Marcos e Daniel. Quando foi ao chão, o menino pode observar os dois e com uma expressão de socorro, perdeu sua vida.
Toda essa situação pegou Daniel de surpresa que, como em reflexo, caiu para tras, mexendo o arbusto e chamando a atenção do homem armado.
-Temos alguns aqui fora também!
Ele gritou para alguém dentro da capsula e seu companheiro saiu, trajando a mesma roupa e máscara.
-Corre! - Gritou Marcos e ambos se recompuseram e fugiram.
Durante a corrida desesperada em meio a floresta, Daniel ouvia o ruído das balas passando próximas a ele. O clarão dos disparos eram as únicas fontes de luz que, por breve momentos, iluminavam a escuridão. Ambos corriam como se suas vidas dependessem disso e, na verdade, dependiam. Não havia tempo para entender a situação, não havia tempo para procurar um caminho seguro. A adrenalina tomou conta e só se pensava em correr, fugir dali, mesmo que não tivessem para onde ir, mesmo que não fosse possível observar por onde pisavam.
Foi inevitável que os galhos provocassem cortes em seus braços e rostos, suas roupas também não foram poupadas, mas só uma coisa importava agora: perder seus perseguidores de vista e após alguns momentos correndo na escuridão, os tiros cessaram. Ambos pararam de correr e se agacharam, fazendo silencio.
O barulho da floresta tomou conta do ambiente e não se ouvia nem mesmo passos.
-Acho que os despistamos.- Marcos falava ofegante, apoiando seus braços nos joelhos
-O que... O que foi aquilo? Eles mataram uma criança!- Daniel estava confuso, seu rosto todo cortado pelos galhos, sua roupa surrada e suja de terra.
-Temos que...
Marcos não conseguiu terminar sua frase, uma bala o acertou bem na garganta. Ele caiu no chão tremendo, sangue escorrendo pela boca, seus olhos lacrimejando.
-Acertei um! Acertei um! -gritava a voz abafada por de trás da máscara.
Daniel, ao ver a cena aterrorizante, não teve coragem de abaixar para verificar seu companheiro. Nos filmes, vemos heróis que nunca deixam um homem para trás, ou que acabam criando um plano brilhante do nada. Mas Daniel simplesmente correu. Correu para salvar sua vida e só. Correu mais ainda do que antes e não parou, simplesmente seguiu correndo.
Não dá para dizer exatamente se foi o desespero, a escuridão ou simplesmente mais um golpe do azar, mas um tronco de tamanho significante acabou segurando um dos pés de Daniel que foi ao chão rolando descida abaixo.
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Novo Lar
FantasyEm 2049 é lançada a Gemini l, primeira de duas naves colonizadoras rumo a KOI-7923, chamado agora de Nova Terra. Após o sucesso da primeira nave, passam-se 25 anos sem contato nenhum com a Terra e os colonos abordo da Gemini ll estão prestes a desco...