Era uma rotina, a melhor parte de um longo dia de trabalho.
Existem aqueles que não suportam uma rotina. Se sentem entediados, presos em um looping temporal de repetições sem fim. Aqueles que odeiam a previsibilidade de suas ações cotidianas, quando e onde vão acontecer quaisquer ações. Para essas pessoas, era um verdadeiro martírio viver uma rotina.
Min Yoongi não entendia essas pessoas. Ele sempre foi um homem organizado, em tudo o que fazia havia traços de extrema organização, adquiridos nos três anos que passou como trainee, a ideia de saber tudo o que aconteceria durante a semana era tão satisfatória e ele aproveitava cada um desses momentos da melhor forma possível, mesmo sabendo de antemão o que aconteceria. Eram pequenas alegrias que ele cultivava com esmero.
Todas as manhãs ele acordava pontualmente ás 05h50min da manhã, exatamente dez minutos antes do despertador tocar, então tomava banho e fazia sua higiene matinal. Vestia seu conjunto de moletom preto, seus sapatos igualmente pretos, um boné e mascara de mesma cor e alimentava Holly. E, ás 06h10min passava pela portaria do prédio onde viva, onde daria bom dia para o porteiro Wu e as 06h12min iniciava uma corrida pelo quarteirão. Ás 07h10min ele passava pelo mercado no final da rua, onde comprava ingredientes para um bibimbap, sempre tomando cuidado para não ser reconhecido.
Min Yoongi definitivamente adorava rotinas, mas havia uma pequena parte do sua rotina que ele mais amava, mas especificamente, aos sábados.
Ele tomava um banho gelado, colocava seu conjunto de moletom branco, um presente de Hoseok em seu vigésimo terceiro aniversário, e depois preparava seu bibimbap, enquanto ouvia o jornal matinal pela televisão. E, pontualmente as 08h30min ela acordava.
Caminhava em passos lentos até o sofá, ainda sonolenta, com os cabelos compridos e tingidos de ruivo em uma completa bagunça. De calcinha e usando uma de suas blusas, que cobriam apenas metade de suas nádegas, pois ela tinha a altura ainda menor que a dele. Os pés, sempre descalços. Então ela diria...
– Bom dia!
...com aquele sotaque japonês que o deixava agitado sempre que ela abria a boca. Ele adorava quando ela gemia debaixo de si com aquele sotaque.
– Bom dia! – Ele responderia simplesmente, sem tirar os olhos da tevê. – O café da manhã já está pronto.
Então, ela se sentaria em seu colo e distribuiria beijos em seus lábios, e ele sentiria gosto da pasta de dentes de morango que ela sempre usava. Eles permaneceriam na mesma posição por alguns minutos, ela gostava bastante de tê-lo junto a si. Era desinibida e não se constrangia com facilidade, exceto quando a elogiavam por fazer seu trabalho bem feito, por esse motivo pouco se importava de caminhar pela casa quase nua, o torturando com a visão de seu corpo semidespido.
– Aposto que está uma delicia, o cheiro está maravilhoso. – Ela sempre dizia isso da forma mais adorável que conseguia mesmo Yoongi sabendo que ela estava mentindo, era ciente que cozinhava terrivelmente mau. Mas ela sempre comia tudo com um sorriso no rosto, elogiando seu esforço.
Eles se sentariam à mesa e comeriam em silêncio, mas Yoongi sentiria os olhares dela sobre si o tempo inteiro e a perna dela roçado na sua "acidentalmente" por debaixo da mesa. Então quando ele a olharia com cara de interrogação ela fingiria que nada sabia, mesmo que continuasse o afago em suas pernas.
Em momentos como aqueles Yoongi custava a acreditar que aquela mulher diante de si era sua, sua companheira, sua amiga e confidente. Ele não sabia exatamente quando ela havia se tornando tão necessária, só não tinha lembranças de sua vida antes dela aparecer. Eles terminariam o café da manhã, ela lavaria os pratos, como sempre fazia, enquanto cantarolava uma musica de sua terra natal, Yoongi não saberia dizer o nome, seu japonês era terrível, mesmo que ela tenha tentado ensiná-lo quando eles se conheceram, dois anos antes.
– Yoongi-kun? – Ela diria e ele sabia exatamente o que ela diria. – Eu te amo!
Ele sempre teve vontade de responder que a amava também, mas tinha medo, medo dos sentimentos que tinha por ela e medo de não saber lidar com eles. Medo de que tudo acabasse como aconteceu com seus dois relacionamentos anteriores, medo de admitir para si que a amava tanto quando ela o amava e então estragar tudo.
– Eu... – E então as palavras ficavam presas em sua garganta, formando um nó doloroso que o impedia de respondê-la.
Então ela sorria, as covinhas ficariam evidentes em suas bochechas e ela sorriria docemente para ele.
– Não precisa responder.
Mas naquele dia, ele decidiu que sua rotina seria quebrada. E contrariando seus hábitos ele desajeitadamente disse:
– Eu... Você sabe. Também te amo. – Ele sussurrou simplesmente, abaixando a cabeça para evitar contato visual. Também sentiu suas bochechas esquentarem, tinha certeza que suas orelhas estariam vermelhas, bem como as maçãs do rosto. Ele sempre odiaria a coloração rosácea que seu gosto adquiria quando estava constrangido.
– Eu sei. – Sussurrou de volta com um sorriso nos lábios. É claro que sabia, Yoongi era louco por ela.
Então, contrariando seus hábitos ela caminhou em sua direção e plantou um beijo suave nos lábios dele e sorriu marota.
– Me acompanharia no banho, Min Yoongi? – Ela sussurrou em seu ouvido, espalhando um calor agradável no baixo ventre dele.
– Acompanharia você a qualquer lugar, noona.
Min Yoongi adorava sua rotina, mas quebrá-la por ela era um dos melhores momentos dos seus dias.