Capítulo 01 - Como eu era antes de você

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Capítulo 01 - Como eu era antes de você


As luvas em minhas mãos não serviam como amortecedor para os socos desferidos ao homem amarrado em minha frente, mesmo que tornassem a experiência levemente melhor que o normal, se é que isso faz sentido. Está claro que eu fiz estrago em seu rosto e que não dá para voltar atrás depois de ter aceitado a oferta, mas essa atitude de tentar diminuir sua dor faz eu me sentir consideravelmente menos medíocre.

- Eu não sei o que é pior... - seu olhar encontra o meu e ele me encara com certo temor, e eu não posso negar que costumava gostar (e muito) dessa sensação. A real é que ele está me encarando com só um dos olhos porque o outro está muito inchado para se abrir completamente, mas essa informação corta totalmente o clima. - Você se negando a confessar mesmo sabendo que eu posso não te matar, só machucar um pouquinho, ou você já estar todo fudido sem ter soltado um A. Eu sou tão ruim assim, cara?

Trazê-lo para cá não foi lá uma tarefa tão difícil assim, soube que seria um trabalho fácil quando os requisitos eram bem claros: conseguir informações sobre "o problema" ou entregar o corpo morto do cara. Era simples até demais, então acompanhei seus passos por um curto período, o apaguei quando tive oportunidade e arrastei ele até aqui.

O local registrado era um estacionamento subterrâneo abandonado, o que me surpreende, já que o pagante com certeza não quer ser identificado e essa não é uma das melhores opções de local, por mais deserto que seja. O chão de concreto possui algumas rachaduras e manchas de óleo por toda parte, além das marcas escuras nas pilastras presentes, lâmpadas quebradas e até algumas teias de aranha bem sinistras. Eu até que tenho algumas das informações sem precisar dele abrindo o bico - é que desse jeito é bem mais divertido -, esse cara trabalha para alguma empresa de negócios e sua rotina se resume à casa, trabalho, mercado e computadores, então não sei o que ele fez pra se meter nessa furada. Provavelmente ficou devendo feio para alguém (que basicamente é o que sempre acontece) e agora estão atrás da bunda desse nerd, mas o grande problema é que as coisas andam tão entediantes ultimamente que agora nem a parte dos socos consegue me animar mais, o que é estranho já que essa costumava ser a minha parte favorita. Estamos aqui há quase uma hora, é decepcionante!

Ele cospe um punhado de sangue que cai perto dos seus sapatos e se mistura com a grande poça que se formou ao redor da pilastra em que o prendi. Seus pulsos estão vermelhos pela corda bem amarrada, além do olho roxo e inchado que deixei quando o apaguei, contrastando com sua camisa social ensanguentada e o nó da gravata completamente desmanchado. Isso sem falar dos bolsos vazios porque, cá entre nós, eu gosto de um agradinho nas minhas missões. Ele permanece quieto, o que me surpreende já que passou todo o tempo que estamos aqui implorando para que eu o deixe ir e dizendo algumas coisas sem sentido - acho que a culpa da última parte é minha, porque exagerei um pouquinho no soco no maxilar, já que teve isso também. Foi mal!

- O que você... - ele começa, mas aparentemente sustentar a própria cabeça é um trabalho bem difícil, então ele apenas dirige o olhar ao chão e desiste de continuar.

- Eu não quero ser chato, sabe? Mas a gente tá aqui há tempo demais e eu preciso fazer o meu trabalho, então se não se importa em facilitar isso, pra nós dois, entende...? - minha máscara cobre toda minha expressão agora, o que dificulta um pouco as coisas já que olhos brancos, vazios e sem graça provavelmente não metem tanto medo assim e nem são tão engraçados quanto eu pensei que seriam. Ela parecia mais descolada quando mandei para fazer.

Ele mantém a boca fechada, com uma clara cara de desgosto, talvez arrependimento. O alarme do relógio em meu pulso apita repentinamente indicando que meu tempo para entregar o corpo ou as informações está acabando, e levando em conta que as informações que eu realmente precisava eu não tenho... Não tem outra saída, ainda mais porque ele não quis colaborar. É o seu trabalho, Wade.

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