1927
MOSCOU amanhecera nublada; o sol não queria se levantar de jeito nenhum. Naquele cenário frio e chuvoso, um jovem andava até o Kremlin. Passos firmes. Olhos frios e cor de chocolate. Cabelos lisos penteados para trás com brilhantina.
Andava com precisão militar e imponência, suas botas negras e muito lustradas maculando, com suas pegadas, a fina neve russa. Assobiava uma música tradicional que, muitas vezes, ouvira seu pai cantar enquanto punha a mesa do jantar.
Entrou no Kremlin, se dirigindo a sua sala. Tirou o quepe e se sentou em uma das cadeiras da sala. Sorriu e passou a mão pelos cabelos castanhos. Procurou nos bolsos uma caixa de fósforos e um cigarro.
Acendeu o cigarro francês e olhou para o teto, soprando fumaça em direção à lâmpada apagada e ao teto com uma pintura descascada. Uma batida na porta foi ouvida.
- Entre.- Disse, com o cigarro na boca.
A secretária entrou.
- Senhor Dimitriev, o senhor Popov está aqui, e gostaria de falar com o senhor.
- Diga a ele que pode entrar.
- Sim, senhor.
A secretária saiu. Dimitriev apagou o cigarro e pôs as mãos no colo, encarando a porta de soslaio.
Popov era um homem de respeito naquele lugar. Toda a Moscou sabia seu nome, ainda que vagamente.
Sem cerimônia, Popov entrou.
- Tem vodka?- Indagou, se sentando na frente do homem mais jovem.
- Não. Desculpe, Popov. - Acendeu outro cigarro e olhou para o homem mais velho a sua frente.
Popov era gordo, alto, grisalho. Seus olhos negros eram penetrantes, e podiam ter mil anos. Sempre estava com sua barba grisalha e falhuda por fazer.
Em suma, Popov era um respeitável cavalheiro de meia-idade.
- Está tudo bem, Mikhail. Você fuma, eu bebo. É assim que tem que ser.
Dimitriev sorriu.
- O que quer?
- Tenho uma missão para você. Em Leningrado.
- Tem certeza?
- Absoluta.- Popov sorriu. Dimitrev crispou os lábios.
- Por que me escolheu?
- É inteligente e prenderá os anarquistas com facilidade.
Dimitriev empalideceu ao ouvir a palavra " Anarquistas".
- Vá você, Popov! Estou ocupado com outras coisas.
- Como por exemplo...?
- Meu noivado.
- Tenho certeza de que Sônia não ligará para essa missão.
- Mas eu me importo!
- Está com medo?
- Eu?! Não!
Dimitriev deu um riso nervoso e brincou com o cigarro, desviando o olhar para o cigarro.
- Mikhail Dimitrievich Rostov. Peço que olhe para mim.
- Fale. Sou todo ouvidos.
- Preciso que olhe para mim.
Dimitriev fumou e encarou Popov. O homem gordo começou a falar:
- Eu sei sobre seu pai, garoto. Nós dois éramos amigos.
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The Neva Flows
Historical FictionDez anos após a Revolução Russa, o agente do governo Mikhail Dimitrievich Rostov vive normalmente em Moscou quando é encarregado de uma missão em Leningrado: Matar um grupo de anarquistas. Ressabiado, acaba indo. Mas essa missão acaba revelando muit...