Capítulo 1 - Uma caneta

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Eu me chamo... Me chame de Cairo... Tenho 15 anos, estudo em uma escola de Ensino Médio em tempo integral, ou seja, o dia todo. Sou branco, parrudo, cabelos negros, alto, olhos castanhos claros, boca rosada e com um temperamento que nem mesmo D'us me aguentaria por perto. Estamos no ano de 2015 e estamos no meio de uma aula de Biologia.

Hoje foi o dia que eu me apaixonei por Recife, a professora está dando aula e eu estava olhando para janela. Olhando para ela eu via uma bela paisagem que sinto falta todos os dias. Umas montanhas com um pouco de floresta no topo e estradas de barro que davam acesso a povoados pequenos que existiam perto dali. Também poderia ver a rodovia que dava acesso para o meu Distrito, onde morava. As montanhas eram verdes em maior parte do tempo.

De repente alguém me puxa a atenção magneticamente. De verdade, e =u não sei o porquê estava olhando para Recife. Em um movimento delicado ele, por incrível que pareça, estava prestando atenção na aula e ao mesmo tempo passava a caneta pela boca. Os lábios de Recife pareciam suaves como se a caneta tocasse a neve mais fina do inverno.

Eu parei meus olhos ali naquele movimento simples, mas que até hoje não sei o porquê me chamou tanta atenção... Eu passei a reparar tudo em Recife desde então. Eu via os cabelos caírem nos olhos, via a barba crescer ao passar dos dias, via os movimentos estranhos que fazia com o caderno para escrever, eu via tudo! Tudo!

Por mais que isso me parecesse estranho eu estava me sentindo como nunca me sentira antes. Estaria eu apaixonado por Recife? Como assim, gente? Era apenas coisas que eu estava curioso, eu acho que não tinha como estar apaixonado... ou eu estava?

O tempo passou e saímos de fevereiro para março... Recife ficava a cada dia mais bonito e parece que ele andava fazendo atividades físicas, os músculos estavam crescendo. Eu também estava mudando, estava até ficando um dragãozinho bonito.

Mas vejamos, ainda era começo de ano e eu jamais tive nenhuma boa relação com Recife, na verdade ele mal me suportava. Na verdade, sim, ele me suportava para me insultar ou para pedir a atividade quando não tinha feito, fila/cola da prova quando não tinha estudado, o que era quase sempre.

Se não fosse para isso ele não falava comigo. Eu era como se fosse uma pessoa sem grupo, bem, tinha os grupos dos meninos nerds, que eram os que sentavam atrás também, mas do outro lado da sala, as meninas patricinhas, que eram as que eu ainda falava, sentavam quase no mesmo lugar que eu. Tinha os meninos e meninas riquinhas e que se faziam de boas pessoas para o mundo, mas que na verdade eram umas megeras apenas esperando o tempo certo para atacar. Tinha um grupo de meninas nerds e religiosas. O grupo dos meninos descolados ao qual Recife fazia parte. E por fim, tinha meu grupo, D'us e eu.

A minha sala tinhas as mesas e cadeiras em formato de U, então todo mundo era obrigado a se olhar todos os dias. Isso ao mesmo tempo que era um saco me fazia olhar para Recife todos os dias. Ele se sentava na reta direita do U, enquanto eu me sentava no contorno esquerdo dele. Ou seja, eu praticamente ficava quase de frente para ele.

Umas duas semanas depois que eu vi os lábios de Recife rolarem na caneta, em uma aula de espanhol, ele finalmente olhou para mim... Sim, quando eu para de olhar para janela, como de costume, Recife estava olhando para mim e não, eu não estava louco! Mas na verdade não estava olhando com o olhar que eu esperava... Ele me olhava com um olhar de desprezo, nojo e ao mesmo tempo desentendimento, não sei, era tudo menos a forma que eu queria que ele olhasse.

Eu também nunca fui nenhum anjo, eu simplesmente encarei ele e fiz uma cara de bravo e me virei para janela novamente. Quando eu olhei de volta uns tempos depois ele já não estava mais me olhando daquela forma. Foi bizarro, parecia que ele queria me matar com os olhos. Foi intenso e ao mesmo tempo desafiador e amedrontador.

Estava quase tocando para ir para o intervalo do almoço. Eu sentia que precisava comer longe dele, sei lá, eu tinha medo de tudo naquele tempo, só não demonstrava. Por bondade do destino eu nem vi ele na hora do almoço! Quando voltei pra sala percebi uma coisa interessante, um antigo "amigo" meu estava sentado perto dele o que era estranho, já que quase não se falavam muito antes, mas parece que estavam mais amigos do que imaginam vocês.

Vamos chamar esse meu amigo de Pequim. Ele era branco, alto, magro, olhos negros, tinha uma leve barba rala, cabelos pretos e extremamente curtos e tinha um gosto exótico por músicas, filmes etc. Esse rapaz já foi meu amigo durante outra escola, mas não fomos tão próximos assim. Eu estava em dúvida sobre o porquê que ele tinha se aproximado mais do que o normal de Recife.

Estava eu com ciúmes? Não posso acreditar, eu? Com ciúmes? Não... Eu não estaria sendo eu. O que estava passando ali era medo mesmo. O engraçado é que dias depois Recife já não me olhava mais nos olhos e tinha cada dia mais raiva de mim do quê do habitual. Eu não sei o que falara Pequim para Recife, mas não era nada bom ao meu respeito.

Os dois passavam tanto tempo juntos que pareciam até ter algum relacionamento. Eu nem poderia pensar naquilo. Como poderia eu ter raiva de alguém apenas porque ele é um menino que eu vi apertando os lábios em uma caneta? Bem, eu não sei. Talvez eu estivesse apenas paranoico, mas até hoje penso que ali acontecia mais do que apenas uma amizade.

Era óbvio que ele queria alguma coisa e Recife alguma coisa dele. O que era e o porquê era tudo que eu mais queria saber. Eu comecei a sonhar com Recife beijando Pequim, sonhava com Recife se afastando de mim como uma flecha cortando o vento, eram os sonhos mais estranhos que eu tinha na vida.

Mas deixando os sonhos de lado, vamos voltar para realidade. Eu estava a cada dia a mais me apaixonando por Recife e isso ficava na cara, eu acho que todo mundo percebia isso e eu era o único que achava que jamais ninguém saberia. Meus olhares, meus textos escondidos e até mesmo os meus mais profundos pensamentos pareciam estar sendo lidos por todos naquela maldita sala de aula, até mesmo pelos professores.

Mas como? Tinha que ter alguma razão para alguém desconfiar de algo. Até que um certo dia, na hora do almoço uma das meninas descoladas de falei chegou em mim e me perguntou se eu sentia alguma coisa por Recife. Vamos chamar essa menina de Nova York. Foi de repente:

Nova York: - Cairo, posso te perguntar uma coisa?

Cairo: - O que foi?

Nova York: - Promete que não vai mentir?

Cairo: - Óbvio que não, por que eu mentiria?

Nova York: - Tás gostando de Recife? Se ele pedisse pra te pegar o que tu dirias?

Cairo: - De onde tu tiraste isso menina? Oxe e eu sei... Sei de nada disso não, Nova York. Para de pergunta idiota.

Pronto, o assunto aqui morreu, ela me olhou com uma cara de desconfiada, isso enquanto eu estava mais branco do que já sou... Se quisesse me ver com vergonha era só falar de Recife para mim. Era automático, eu ficava vermelho ou sem cor, as palavras sumiam, ficava gelado, parecia mais que eu iria morrer. Eu não precisei falar uma palavra para Nova York saber que eu gostava de Recife.

Eu só não estava entendendo uma coisa daquela situação... Por que Nova York me perguntou isso? Teria ela percebido que eu estava olhando demais ou algo do tipo? Teria ela falado com Pequim? O que ele estava falando sobre minha pessoa? O que Recife tinha com isso? Nada fazia sentido algum. 

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⏰ Last updated: Sep 12, 2019 ⏰

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