O Sentimonstro

Capítulo 01

A batalha contra Hawk Moth tinha vários desfechos na mente de Chat Noir. Ele descobriria quem era sua amada. Teria seu "felizes para sempre" com ela. Veria Plagg discutindo com Mestre Fu sobre ficar com ele independente das circunstâncias. As possibilidades eram tantas, mas nunca lhe ocorreu descobrir que era seu pai quem estava atrás da máscara do vilão.

O choque foi tanto que seu corpo se recusou a ter alguma reação. Já perdera a noção de quanto tempo estava ali, estático, perante a presença do homem caído, envolto na corda do ioiô de Ladybug. Ela, por sua vez, não escondeu suas emoções.

Era fato que, como Marinette, a super-heroína admirava o estilista. Gabriel era uma figura pública, todos o conheciam e tinha certeza que revelar isso para qualquer um que fosse seria um verdadeiro caos. Ela não conseguia. A corda de seu ioiô se afrouxou libertando o homem que estava ajoelhado no chão.

Os Miraculous da borboleta e do pavão já estavam em sua posse, só precisaria usar seu Miraculous Ladybug e se retirar com seu parceiro. Paris só precisava saber que Hawk Moth foi derrotado. Era isso que faria. Encarava seu Talismã, o apertando por entre os dedos, estava pronta para jogá-lo para o alto quando a voz de Gabriel cortou o ambiente silencioso de seu covil.

Ainda de joelhos, o homem esticou o braço em direção a ela, apoiando a outra mão no chão, como quem tentasse alcançá-la, mas não pudesse. Ele implorou pelos Miraculous. Não os que já possuía, mas os dos heróis. Implorava para ter seu desejo. Implorava para ter, pelo menos, uma chance de se explicar.

Chat Noir nunca vira seu pai daquela forma. Sabia que ele não era uma pessoa orgulhosa, mas chegar àquele ponto? Com lágrimas rolando por seu rosto? Era até difícil acreditar que fosse a mesma pessoa. Nem mesmo isso conseguiu fazer o herói esboçar algum tipo de reação além de um leve esbugalhar de olhos.

Naquele momento, o coração de Ladybug falou mais alto que sua razão. Não entregaria sua joia para aquele que tanto lhe causou problemas, ao mesmo tempo, não morreria se o ouvisse. Procurou trazer de volta a confiança que o traje tanto lhe dava e perguntou os motivos que ele tinha.

A mão esticava de Gabriel foi levada ao seu rosto onde ele pareceu erradicar suas lágrimas usando apenas os dedos. Removendo seus óculos e limpando levemente as lentes por conta do choro, conseguiu pôr-se de pé. O tradicional tom sério de sua voz retornou, porém era evidente sua tristeza ao pedir para que ambos os adolescentes o seguisse.

Ele os conduziu até um elevador secreto onde começaram a descer. Ladybug manteve-se alerta imaginando que também poderia se tratar de uma armadilha e alertou o parceiro para que fizesse o mesmo. Chat apenas assentiu com a cabeça, tomando seu bastão em mãos. Ambos permaneceram atrás de Gabriel.

O pequeno espaço cilíndrico era todo fechado sendo permitido ver apenas um leve reflexo distorcido de seus corpos, isso até as paredes metálicas darem lugar para uma proteção de vidro. Uma luz distante se destacou em um ambiente circular com o que parecia ser um jardim junto da forma de um caixão, sendo ele claramente a fonte de tal iluminação.

O elevador parou e as portas se abriram. Gabriel tomou a dianteira em silêncio. Sensores de movimento se ativavam, iluminando a enorme passarela que dava acesso ao lugar e a cada passo dado a visão da figura feminina dentro do esquife de vidro era mais clara.

Gabriel parou quase ao lado de sua esposa, admirando a expressão serena que ela possuía mesmo naquela situação, tendo Ladybug alguns centímetros atrás, sendo possível ver um pouco de seu cabelo azulado pelo reflexo do vidro.

— Quero lhe apresentar minha esposa, Emilie, ela é o motivo pelo qual preciso de seus Miraculous — ele disse.

— Ela está... Morta? — a voz de Ladybug era temerosa, sentia um aperto em seu peito crescendo quanto mais olhava para aquela cena.