» em branco.

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          Destino¹
          substantivo masculino
          1. tudo aquilo que é determinado pela providência ou pelas leis naturais; sorte, fardo, fortuna.
          2. o que há de vir, de acontecer; futuro.

                                      🥀

   Telas em branco sempre me fascinaram. Eu conseguia ver a beleza de um quadro antes mesmo deste ser pintado, conseguia ver a graça de uma fotografia antes do clicar para a pose, era capaz de ver uma narrativa perfeita antes mesmo do livro estar completo. Para mim tudo se resumia a telas em branco prestes a serem pintadas. E esse modo de ver a vida me tornou pouco popular com o mundo.

     Aos cinco anos de idade meu pai havia me dado uma boina francesa, porque, na minha cabeça de criança, aquela era a única forma a qual eu poderia me tornar um grande artista. Aos nove anos, desisti de ser pintor, descobri que tinha talento para escrever e decidi ser tão grandioso quanto a própria J. K.Rowling. Aos doze anos, entrei no teatro e vi a perfeição com que todos se transformavam em novas pessoas, mudando sua personalidade por completo. Aos dezessete, vi-me preso ao fato de que a sociedade me exigia prestar um vestibular num curso de sucesso, e assim a arquitetura durou um ano depressivo. Dos vinte anos até então, meu amor por pintar quadros novos em telas grandiosas me fez ter a ânsia de me tornar um diretor de cinema.

   Assim como tudo em minha vida era um quadro a ser pintado, meu apartamento tampouco era muito diferente disso. Faziam cinco anos que o bairro de Gangnam me sufocava com a correria e gana de aptidão dos outros. Entretanto, meu apartamento claro com algumas plantas, tapetes coloridos escorrendo ao chão e quadros escorrendo pelas paredes conseguia me levar para outro ambiente, outro bairro e, até mesmo, outro mundo.

   Ao lado do meu prédio, para minha alegria, antes mesmo de mudar de curso e abraçar o sonho de me tornar um famoso diretor, um cinema antigo - o qual reprisava sem piedade todos os maioresclichês do cinema - podia ser encontrado e, por isso, a minha rotina consistia em ver, fielmente, todas as quartas-feiras, filmes de ação com meu melhor e, ouso dizer, único, amigo.

   Entretanto, minha paixão era ainda mais clichê que isso. Diferente dos meus colegas de sala que erguiam a voz em alto e bom tom para confessar sua paixão por filmes tais quais "2001: Uma Odisseia no Espaço", eu via a beleza no mais simples "10 Coisas que Eu Odeio em Você". Talvez Gil Junger não fosse tão conhecido quanto Stanley Kubrick e tampouco tivesse uma parede de troféus como eu supunha que Stanley tivesse, porém a quantidade de amor que existe para um filme antigo com Heath Ledger é inexistente para o outro. Contudo essa minha paixão, com exceção a Taehyung, era secreta.

   - NÃO! - respondeu direto, sem rodeios, a voz grossa do outro lado do telefone. - Me recuso a sair do quentinho da minha casa para assistir ao Leonardo DiCaprio quinze anos mais novo sendo par romântico de alguém que não eu.

   - São vinte anos mais novo e, além do mais, se fosse filme de herói, você viria!

   - Claro, eu ia querer ver - continuou simples. - Vai sozinho! De verdade, não vou ficar triste de um dia você ir sem mim.

   - Quem disse que eu não vou ao cinema sozinho por conta da sua tristeza? - respondi seco. - Não vou porque ninguém vai, aí vou aparecer sozinho e todos vão me olhar torto e ficar se questionando o que eu estou fazendo ali. "Olha só, aquele garoto vendo filme sozinho,coitado! Ninguém para rir com ele, ninguém para segurar a mão, ninguém para comentar...", não quero que as pessoas tenham pena de mim!

   - Jimin, pelo amor de Deus, as pessoas nem vão te perceber lá. O centro das atenções não é você. - Joguei-me na minha própria cama, passando a mão vazia pelos fios pretos um tanto irritado. - E outra, você tem que começar a frequentar os lugares sozinho!

Un Certain Romantisme | YoonminOnde histórias criam vida. Descubra agora