Saracianas e Barata

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 – Ei, Prata, consegui uma coisa interessante pra gente – anunciou o elfo negro, ajeitando algumas folhas com fórmulas típicas de magia arcana.

– O quê? – perguntou a elfa com manchas prateadas na pele, intrigada com os papéis do amigo.

– Uma variante da barreira de energia comum. Dá pra conjurar a partir de qualquer parte do corpo, não só da palma da mão. É a prova d'água, de raios ultravioletas, de projeteis e de som. É tipo umas cinco magias em uma!

– Heh, inventam cada coisa hoje em dia. Será que tem um pra elementalistas e afins?

– Aqui. Revisado e testado – disse ele, entregando algumas folhas para a amiga.

– Você é um amor! Por que é que não nos casamos ainda?

– Um romance entre nós dois poderia apenas terminar em catástrofe – disse ele em um tom dramático.

– Hehe, tá bem – respondeu ela.

O silêncio tomou conta do ambiente, ambos analisando com concentração suas respectivas magias. Até que ele começou a refletir as palavras que ouviu.

– Hum, Saracianas – ele decidiu perguntar – você falou brincando, não?

– Hm? Falei o quê? – perguntou ela, perdendo a concentração.

– Sobre a gente se casar?

–...Sim, por quê?

– Bem, é que assumi que fosse brincadeira e dei minha resposta. Mas se era sério, seriam as palavras mais monstruosas que eu já disse.

–...Hã... Não! Não! Claro que não, hã, digo, sim! Digo, claro que foi brincadeira!

– Ah bom, pensei que eu tinha falado algo idiota.

– Não, que é isso! Não falou nada.

– Ufa.

– Eu não sonharia em casar com você.

– Ainda bem.

– Então tá.

– Certo.

Um novo silêncio se formou entre os dois enquanto se concentravam em suas folhas de novo. Até que Saracianas começou a refletir.

– Barata... – ela tentou chamar a atenção do amigo.

– Sim?

– Acho que falei errado. Não é que eu nunca sonharia em casar com você, afinal...

– Hã?

– Digo, você é legal, inteligente e tudo mais, mas é que, sabe...

– Sim?

– É que somos só amigos.

– Sim, eu sei.

– E é isso que amigos fazem, eles são amigos, sabe?

– Sim, sim, claro.

– Certo, então.

E um novo silêncio se formou entre ambos, enquanto tentavam se concentrar mais uma vez.

– Prata, – chamou o elfo negro – quando você diz "só amigos", é no sentido comum, ou no literal?

– Como assim no "comum"

– É que, normalmente, quando uma mulher fala para um homem que "são só amigos", é porque ela não gosta de algo nele, e não quer relacionamento por isso.

– "Normalmente"? – ela falou ofendida – Eu pareço normal para você?

– Não, de fato não.

– Pessoas normais têm manchas de prata na pele por acaso?

– Não, digo, você é especial, pra mim.

– Portanto, eu nunca vou agir como uma garota normal, tá bem?

– Espero que não.

E novamente, mais um silêncio e mais uma reflexão.

– Ei, em que sentido você falou "você é especial pra mim"? – perguntou ela.

– Como assim?

– Você disse "você é especial pra mim" com ou sem vírgula?

–...Tem diferença?

– Bem, é que sem vírgula, a frase soa... mais pessoal, e com vírgula, ela só expressa o seu ponto de vista, sabe?

– Sério? Não sabia dessa.

– Não? Então não havia nada demais na frase?

– Não, só um "você é especial" normal.

– Ah, bem.

Silêncio novamente.

– Acho que me expressei mal nesta ultima–

– Ai, que droga! – gritou Prata, jogando as folhas para o alto – Desculpa, tá bem? Desculpe por ter dito que queria casar com você! Foi só uma piada! Uma piada de muito mau gosto, tá bem? Me desculpe pelo meu péssimo senso de humor!

– Eu só estava tentando...

– Então não tente! Você só está piorando as coisas ao tentar!

– Eu? Você é que fez essa pergunta idiota!

– E você é o único que presou atenção!

– Ora, então me desculpe se pensei que te ofendi!

– E me desculpe pela minha falta de bom senso! Ótimo?

– Ótimo!

– Ótimo! – concluíram ao mesmo tempo.

Ambos cruzaram os braços, olhando para longe um do outro. Levou um tempo até a fúria passar.

– Ei... – falaram ao mesmo tempo.

– Desculpe... – falou Barata primeiro

– Não, eu, hã... – Saracianas tentou responder, envergonhada –...P–pode falar primeiro.

– Eu, bem... – Barata respondeu, sem saber o que dizer –... Tem certeza que não quer falar primeiro?

–...Eu... Eu não sei – ela admitiu.

Olhar para o chão parecia mais confortável que olhar um para o outro.

– Nós... – ambos disseram.

– Olá, dupla, estamos... – surgiu Zaracherno pela porta.

– Graças aos Deuses! – gritaram os elfos ao mesmo tempo.

Em pouco menos de um piscar de olhos, os dois estavam na porta, em posição de sentido.

– Senhor! – falaram ambos, em uníssono – Estamos aqui senhor com disposição e vontade prontos para obedecer seus comandos e suas ordens senhor nos dê uma ordem senhor!

– ... Hã... – Zaracherno falou, tentando romper o choque da surpresa – Preparem suas coisas, em breve...

– Sim senhor! – Ambos desapareceram, indo em direções opostas do corredor.

– Iremos... Partir... O que aconteceu?

Saracianas e BarataWhere stories live. Discover now