Amor que mata

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Não tenho consciência desse ato. Não me lembro de ter segurado o pescoço dela com tanta força. Agora, ela inerte, na cama, olhos bem abertos fixos no teto do quarto, nenhum traço da leveza que tanto me encantou, embora ainda guardasse por completo a beleza. Como era linda, maravilhosa e desconcertante! Em uma palavra, encantadora.

Ao lado da cama, sentado, perto da janela, me pego sorrindo pra ela. Embevecido e hipnotizado pela nossa história tão perfeita. Estou aqui sem saber, sem entender como chegamos a esse cenário que componho. Penso em todo o romance, todas as aventuras nas madrugadas de tantos segredos, o murmúrio nosso, de amantes em fuga do cotidiano... Ela foi minha fagulha de vida dentro da prisão do meu mundo só.

Mas estava, o seu corpo, ali a poucos metros, ausente, silencioso. As linhas conservadas, a harmonia nas curvas, na cintura acentuada, no quadril largo, na simetria que persistia... Que teimava em se manter viva aos meus olhos. 

Eu que pus fim a tudo. Foi rápido, nem senti! Apenas um furor tomou conta de meu corpo e me encontrei como um monstro, bem acabado em um gesto assassino e único, rápido, destruidor.

Conte-me o que houve! Não saia sem me dizer. Tenho que ter respostas, não a aflição de uma vida inteira por descobrir. Conto com você, ninguém mais. Estou bem perto. Me dê a mão! Esse momento é só nosso...


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