A Cidade

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É manhã, já amanheceu

E não sou acordado pelo meu despertador

Mas sim pelo som de uma buzina.

Parece ser uma sirene ou um alarme; com mais atenção, parece de polícia ou ambulância

Estou na rua, preciso tomar café. As pessoas andam devagar, eu tropeço

Em uma padaria, eu como pão de queijo enquanto assisto a TV na parede

Minha mesa está suja de poeira e migalhas, que são comidas pelos pombos

Estou com fome, não é o suficiente para mim; eu não peço mais pois não tenho

Dinheiro, estou no trabalho por conta do meu salário.

Em frente a mim existe uma ampla janela, e dela consigo ver tudo abaixo

Agora os pombos se tornaram ratos, que andam sem rumo pelo asfalto quente

Minha mão é feita de papel e meus ouvidos de lixeira, não suporto mais

Eu desço; parece ter um show na praça, mas são adolescentes pulando e gritando

Skatistas deslizam. Tentaram me vender um pacote, eu não quero

Toma aí um panfleto! Ele segura, e espero que eu esteja seguro

Para ter certeza, guardo meu celular no bolso da frente; esse já é meu segundo esse ano

Estou de volta, um prédio constituído por vários labirintos. Preciso imprimir impressões

Para passar uma boa primeira impressão, pois, primeiro, é ela que fica.

Minha gravata está apertada, preciso sair novamente.

Agora as ruas estão mais cheias; ouço um barulho alto, outro

Na rua, todos gritam, começam a correr, preciso ver. Alguém estirado na avenida;

Eu não quero ver. Os carros param, os ônibus continuam

Fumaça, calor.

O que aconteceu? Eu não sei. Você viu? Ele está morto?

Não sinto o vento bater no meu rosto, pois o prédio é muito alto. A cor do céu é cinza

Às estátuas estão pichadas.

Chegou carros da polícia, três homens e uma mulher, ela tem olhos claros e cara de mau

Ela chega perto e eu fico com medo, mesmo sem nem saber o que houve.

Preciso ir pra casa; estou em casa, para onde eu vou agora?

Desço, agora é noite. Quero ir comer um cachorro-quente ou tomar cerveja

Posso fazer os dois, ao mesmo tempo.

Queria dançar e beijar; mas não tenho ninguém para chamar

Ir sozinho não parece ser uma ideia muito boa

Mas antes que eu comece a procurar percebo que está tudo fechado, está tudo deserto.

Como assim? Eu penso; acabei de sair de casa.

Tem um trocado aí? Estou com fome; eu também.

Volto para casa; pego o número na porta da geladeira e peço meu jantar

Vou comer sozinho, sentado na cama, enquanto assisto a TV na minha parede

Às luzes dos prédios estão todas acesas, assim como os postes

Minha comida chega, fria.

Às luzes agora se apagaram; agora só aparece o reflexo da luz da TV sobre as paredes

TV ou pornografia de madrugada

Sou uma formiga. A cidade é muito grande, mas ao mesmo tempo muito pequena

Muito para mim; mas existem maiores

Uma outra luz vem pela minha janela aberta, sem cortina

O sol

É manhã, está amanhecendo. 

A CidadeWhere stories live. Discover now