Li alguma vez, em algum lugar, um pequeno texto que se utilizava de uma metáfora gastronômica para resumir o suplício que é existir dentro do "universo paralelo", do turbilhão de mudanças carregado de crises, angústias e conflitos, que é a adolescência. Essa fase humana tão legal, às vezes divertida, mas também tão difícil, e quase sempre ruim, seria uma espécie de massa de bolo, crua, grudenta, nos agarrando de maneira tal, como uma super vilã, não nos deixando alternativa salvo a de lutar bravamente, com sangue suor e lágrimas, para nos libertar.
Nome: Ander
Idade: 17 anos
Status: SEM PACIÊNCIA
A pergunta que não quer calar: como alguém, em pleno uso de suas faculdades mentais, vivendo dentro do mesmo planeta e respirando o mesmo ar, pode afirmar aos quatro ventos que a melhor fase da vida é a adolescência? Que as preocupações desses seres humanos que não são mais crianças, mas também não são adultos, se resumem a ir para escola, tirar boas notas e CURTIR.
Heloooo!
Curtir o quê, pelo amor do Criador?
Qual é a curtição em não ter dinheiro para sair, pais pegando no seu pé, repetindo a mesma ladainha de que no tempo deles as coisas eram diferentes e mais difíceis, e que agora somos abençoados, tendo tudo nas mãos?
E o "toque de recolher", que nos proíbe de acessar a internet, games ou televisão durante a madrugada?
E a escola, aonde os professores despejam matérias e mais matérias, nos forçando a escrever por mais de cinco horas seguidas e que somente por uma intervenção divina, depois dessa maratona, não adquirimos uma tendinite ou uma bursite ou qualquer outro tipo de inflamação nos tendões, nos ossos ou nos músculos?
Aliás, aproveitando esta deixa, não podemos ignorar que uma boa parte do que estudamos é inútil. E não digo isso, tipo, jogando conversa fora, querendo desmerecer a importância de se ter uma boa formação acadêmica, até mesmo porque alguns conhecimentos são necessários para desenvolverem as propriedades cognitivas do cérebro.
Mas, vamos lá...
Convençam- me da relevância em decorar as capitanias hereditárias?
Ou por qual razão precisamos ter conhecimento de que a minhoca é um ser hermafrodita incompleto?
Ou, ainda, o motivo (incontestável) para aprendermos a distinguir dinossauros?
Por acaso existe alguma possibilidade, por mais remota que seja, de toparmos com algum fóssil perdido por aí, a não ser que façamos as malas e embarquemos para o Jurassic Park?
E a famigerada matemática, com aquelas fórmulas absurdas, números primos, números irracionais, xis e ipsilons se multiplicando como coelhos? Em que exato momento de nossas vidas, se por acaso não almejamos nos tornar engenheiros civis, matemáticos ou economistas, vamos utilizar matrizes quadradas e determinantes?
Definitivamente não estou conseguindo pensar em nada positivo neste momento. Na verdade nem nestes últimos dias e tampouco pretendo me esforçar para que isto aconteça. Como já sinalizei, estou sem paciência e também estressado, revoltado e muito, muito nervoso e tenho motivos de sobra para isso. Minha vida mudou de uma hora para outra. Há um mês eu tinha uma família perfeita, morando em um apartamento show de bola, tinha amigos, minha rotina, até que meus pais concluíram que a convivência entre eles não seria mais possível e decidiram vender nosso apartamento, dividir o dinheiro e seguir com suas vidas... Só se esqueceram de um pequeno detalhe:

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A difícil arte de ser eu, Ander
Teen FictionREGISTRO de OBRAAS: 312235601 (TEXTO ORIGINAL) eDNA DA OBRA - IDENTIFICADOR ELETRÔNICO :: SHA512: af351fb3fd0c1d6e1aaf60e4dd51f36dc19a93cf002bc53d1561d9d9bcd62f503c4547f19118f726 30bd4c2fc0ab041c7b8ae661245325ba033fbe90fdb0fb29 ✍️ Sinopse: "Não é po...