Iolanda Silva Bianchi
O gatinho abriu os olhos. Ele despertou meio confuso e assustado, tinha tido um sonho ruim. Virou de lado e deu um pulo, pois percebeu que estava deitado em algo pontudo e esquisito: grama. Ele sempre ficava um pouco incomodado com a grama, ela dava uma sensação estranha quando a tocava com suas patinhas.
Lasanha, como se chamava o gato, arregalou seus olhos amarelos quando se pôs de pé, e seus longos pelos em tons laranja se eriçaram. Percebeu que estava numa grande clareira com árvores e plantas a sua volta. Batia uma brisa fresca, e o sol tocava gentilmente a terra, penetrando por entre as folhagens.
Ele se agachou e começou a dar alguns passos curtos e rápidos, como sempre fazia quando estava com medo. Demorou um longo tempo até que começasse a ficar mais relaxado e se levantasse para cheirar o ar e observar mais atentamente as coisas ao seu redor.
No momento em que estava se aproximando de uma violeta que tinha achado particularmente interessante, uma luzinha branca veio ao seu encontro, e começou a circundá-lo, como se quisesse brincar. Lasanha levou um susto, mas logo começou a segui-la com a cabeça, curioso. Ele levantou a patinha direita para tentar pegá-la, mas ela era muito rápida. Então, antes que ele conseguisse acompanhar, a luz tocou o seu nariz, e ele parou de se sentir receoso e assustado.
Começou a correr alegremente por entre as flores e árvores, parando ocasionalmente para cheirar e lamber as coisas que lhe chamavam atenção, com a luzinha sempre o acompanhando. De repente, escutou um barulho alto e voltou a ficar apreensivo. Andando bem devagar conseguiu ver por entre os arbustos que ali próximo tinham diversos cachorros, que latiam e se divertiam uns com os outros. Apesar de estar com um pouco de medo foi se aproximando, porque gostava muito de cães! Se lembrou da sua amiga Nina, uma pug que as vezes ia visitá-lo e com quem ele sempre queria brincar, mesmo ela lhe dando pouca bola. Pensou que ela ia gostar daquele lugar, com tantos amiguinhos parecidos com ela, e decidiu que iria trazê-la ali um dia.
Um dos cachorros sentiu seu cheiro e veio correndo ao seu encontro, balançando o rabo. O bicho era o triplo do seu tamanho, e parou a poucos metros de onde estava. Lasanha começou a andar para trás de medo, e estava prestes a fugir quando o cachorro, feliz, começou a dar saltos no ar, convidando-o a participar da brincadeira. O gatinho então foi lentamente chegando mais perto, e o cão aguardou pacientemente. Quando finalmente o primeiro tomou coragem, encostou a pata no focinho do segundo, que correu alegremente, retornando após alguns segundos para buscar o seu amigo gato e fazê-lo participar da festa.
Lasanha ficou um bom tempo brincando com os cães, e pulou e correu tanto que acabou tendo sede. Saiu então em busca de água, e rapidamente encontrou um riacho com água corrente. Após se posicionar num lugar seco e seguro próximo à margem, começou a dar ávidas goladas. Ele sempre foi um grande bebedor de água, mas estava achando aquela a mais refrescante que já havia tomado! Bebeu até não aguentar mais, e então deitou de lado e ficou descansando ao sol.
Estava quase dormindo quando escutou um "GLUP!" e viu que alguma coisa tinha saltado para fora d'água e mergulhado de novo. Abriu bem os olhos e ficou com as orelhas em posição de alerta. Poucos segundos depois, vários "GLUPS!" começaram a se suceder, e Lasanha se aproximou da margem querendo sabe o que eram aquelas coisas que ficavam pulando da água. Conseguiu ver que elas tinham escamas, eram compridas e pareciam escorregadias. Apesar do receio de entrar no riacho, se apoderou dele uma vontade enorme de tocá-las, de modo que de pouco em pouco foi chegando mais perto, até que em certo momento não conseguiu mais se equilibrar e "VUP!" foi levado pela correnteza!
O gato se desesperou e começou a engolir água, batendo as patas freneticamente. Então, a luzinha que continuava ao seu lado lhe tocou novamente o nariz, e de repente ele se deu conta de que a força da água não era tanta assim, e que se coordenasse o movimento de suas patinhas, conseguia nadar tranquilamente pelo riacho. E que sensação gostosa! Lasanha gostou muito de sentir o movimento da água nos seus pelos, e da liberdade que o nadar proporcionava. Foi deixando o fluxo o levar até se cansar. Saiu na margem oposta a que tinha entrado e mais uma vez se pôs deitado ao sol, para secar.

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Lasanha
FantasiaUma história sobre um dos gatos mais incríveis e transformadores que já passaram por esse mundo.