THE CROWN JEWELS

in a world of locked rooms, the one with a pair of keys is THE king

o problema nunca foram os finais felizes e a baboseira que sempre precisava englobar um principe e uma princesa com uma coroa pesada e brilhante para cada um. esse é de fato o problema de jaebum, uma especie diferente de egoista que faz gotas d'água perderem o rumo e que as tranforma numa poça no meio do deserto. ele sabe que todos os pobres morrem de sede e então leiloa um copo de agua suja à eles, apenas por diversão. sempre por diversão.

houvera uma dia em que eu cheguei em casa e post-its estavam espalhados pelas paredes amontoando-se em pistas para que eu o procurasse, como em uma caça ao tesouro. jaebum é a réplica de um tesouro que algum pirata almaldiçoou com a ajuda de uma bruxa má só para ver a desgraça tomar forma humana. fico surpreso em finalmente poder dizer que conseguiram. ao abrir a porta do banheiro, jaebum sorriu pra mim da maneira mais desgostosa do mundo, com a clara expressão de maldade impregnada bem fundo de seu corpo. eu até dei risada, sabe? é claro que nao se poderia deixar um espelho á mercê de uma mente desocupada.

o espelho do banheiro estava quebrado e uma parte grande dele havia sido consideravelmente mastigada e depois cuspida, mas eu não senti alivio nenhum com o fato de que ele não havia engolido seus caquinhos um por um. proibição nenhuma consegue ser barrada com um demônio tão ordinário assim no mundo. palavras precedem ações. não senti pena ao ver duas grandes partes do espelho cravadas em suas costas, se ele realmente fosse um anjo já teria sido mandando para o inferno quando sorriu pela primeira vez, mas ninguém tem coragem suficiente, e eu até que entendo o ponto.

coroas pesadas e adornadas de jóias são um grande problema para jaebum, porque quando descobriu a existência das mesmas, não descansou até que fosse dono de uma, mas, não qualquer uma. qual seria a graça de ter uma coroa mequetrefe? o amargor escorria de sua boca de maneira sinuosa quando ele me contou sentado em sua poltrona que havia acabado de selar um contrato. im jaebum não somente é um homem de negócios tenebrosos, ele é de fato, o maior deles.

nas semanas seguintes, só soube do seu paradeiro quando liguei a televisão. o arrepio nem mesmo havia terminado de percorrer a minha espinha quando eu recebi uma ligação. jaebum não se é um nome suave de se sílabar, é abusivo e desprovido de beleza, mas ainda assim é uma forma plausível de se sintetizar uma boa matéria para o new york times.

"im jaebum (23), jovem nascido e locado na cidade de nova york, na ultima sexta feira (26), desprovido de armas e aparentando nem mesmo traços de nervosismo, pegou, após destruir o vidro até então, impenetrável que mantinha em segurança o tesouro real inglês: a coroa de santo eduardo, pertencente à família real britânica, esta que possui em torno de 2 quilos, adornada com pedras preciosas das mais variadas, entre elas: safiras, turmalinas e ametistas. im jaebum permaneceu em torno de quatro minutos e meio sentado no trono real, com a coroa em sua cabeça, ridiculamente posando para as câmeras de segurança ao som dos alarmes e sirenes tocando, aparentando estar à espera de que algo acontecesse e que fosse pego. ao contrário do que se esperava, o garoto permaneceu sentado todo o tempo que lhe fora dado, sendo pego logo em seguida.

com ordens legítimas da corte inglesa para fim da grande repercussão sensacionalista em torno do acontecido, seu julgamento aconteceu ontem, segunda feira (29), com a presença de 45 renomados críticos em juri e um juiz em nome da coroa britânica. após 4 horas do julgamento, o veredito fora dado.

im jaebum fora milagrosamente declarado inocente, nesta tarde de terça feira (30)"

sabia que ele viria mas fui grotescamente lento ao perceber que estava parado atrás de mim. o olhei incrédulo e ofereci uma cadeira, o que de todos os males, nem de perto pode ser considerado o pior. por acaso você já viu alguém ser excomungado por que ofereceu uma cadeira para o diabo se sentar? sejamos cordiais, claro. independente do que for, jaebum é a minha fonte diária de preocupações, das mais abstratas e amedrontadoras até as mais idiotas como o caso do espelho mastigado. o que seria de rei hamlet sem seu irmão para lhe arrancar do trono a força? toda historia precisa de um vilão à sua altura, nem que seja preciso desconstruí-lo e fazê-lo novamente da maneira mais lenta de ser, voltando a estaca zero, apreciando detalhe por detalhe e meio centímetro por segundo, com um brilho mais ardente nos olhos, talvez. 

não há cristo que o salve.

porque se ele realmente precisasse ser salvo de algo, já teria feito o maior dos escândalos.

não há nada nas joias da coroa e muito menos no banco de londres que preencheriam tão bem os seus olhos como o fato de simplesmente saber que é o único que os destrancaria sem que nem mesmo precisasse se mover ou levantar de uma cadeira. por isso os quatro minutos e meio sentado num trono com a coroa mais importante que poderia ter sido tocada. essa é a graça de não ter limites em relação as leis. jaebum se sentou cordialmente numa das cadeiras da sala e debochou do meu rosto silenciosamente, desta vez, sem exprimir sua estridente risada, daquelas que te faz sentir um tolo de marca maior. segundo ele, eu realmente sou um tolo, chato e imbecil. tudo isso porque pertenço ao lado dos anjos. o que é de fato engraçado, porque pertencer ao lado dos anjos não me torna um deles. eu nem mesmo tenho alma, mas eu não sou tão fatal assim.

desastrosas verdades, afinal.

num mundo de salas trancadas, aquele corajoso suficiente para possuir a chave mestra é um digníssimo rei, youngjae. e cara, você deveria ter me visto usando uma coroa.

na terra sem dono, aquele que é desencorajado à ser o vilão volta aos seus primórdios: devora maçãs no jardim do eden e brinca com cobras venenosas. nada de profecia. um rei legítimo volta à pertencer ao seu trono. é maléfico pelo simples fato de não ter sido ensinado à ser menos cruel do que uma borboleta à levantar vôo. e, em um simples ato, voltaria a ser o que pretendia.

im jaebum. a maior obra do fascínio humano, tenebroso até o último fio de cabelo.