Não dava mais.
Todo dia a mesma coisa, toda vez as mesmas coisas. Sua vontade era pegar a droga do crachá de trabalho e o apertar em seu pescoço até sentir todo ar ir embora.
Merecia isso, não? Sua existência só trazia problemas, nenhuma utilidade, só trazia tristeza e desgosto pra si próprio e as pessoas com quem convivia mereciam gente melhor. Essa gente com certeza não era ele.Sentado em sua mesa de escritório, com os olhos começando a formar poças, estava Doppo. Ele estava com raiva, queria que tudo e todos fossem à merda.
Queria levantar e ir no banheiro tremer e chorar, mas de novo?De novo? De novo? De novo?
O que mais valia tudo isso? Iria voltar pra casa pra quê? Sentir de novo aquela sensação de sufoco e angústia até milagrosamente pegar no sono pra amanhã voltar a isso de novo?
Hifumi estava lá esperando. Que peso ele era para Hifumi. Que pedra no sapato do amigo. Sempre o fazendo cozinhar e cuidar da casa enquanto passava a droga do dia no trabalho dando desgosto ao chefe.
Sua cabeça estava a mil, como todo dia, pra que continuar vivendo só pra sentir isso?
Não passa! Não passa nunca!
Ele sentia como se fosse desmaiar a qualquer momento. Cerrava os dentes tentando segurar a sanidade em si. Ele leva as mãos a boca, mordendo as unhas, na esperança que isso aliviaria pelo menos um pouco.
Inútil.
-Doppo?- uma colega de trabalho o chama. Ele tenta segurar as lágrimas presas e a voz chorosa que estava prestes a sair.
-O que? -ele responde com a voz baixa, sem olhar no rosto da colega. Será que ela tinha notado? Isso seria bom, ou não? Porque achava que alguém aleatório iria se preocupar?
-Estamos prestes a fechar.. Não prefere já ir desligando as coisas? -ela diz, juntando as mãos na frente do corpo.
-Okay, já vou. Obrigado. -ele responde ainda sem olhar. Há. Como pôde pensar que alguém assim se importaria? Sinceramente, não sabia porque ainda tinha essa esperança.
Ele se levanta, e sem ânimo algum arruma as coisas para sair. Após pôr a bolsa nos ombros ele sai como se tivesse um peso sobre os ombros, mas não vindo na bolsa, mas sim todo o desânimo que ali ficava.
Sentia seu estômago queimar e o coração apertar, naquela sensação ruim e sufocante.
Andando na rua, com as pernas tremendo, as mãos apertando a camisa na região do coração, querendo poder rasgá-lo. Com os dentes cerrados, mil coisas passavam em sua cabeça, e todas elas se juntavam em uma solução: morrer.
Com vontade de gritar, mas prendendo tudo isso, Doppo aproveita as ruas escuras para poder liberar todas as lágrimas presas do dia inteiro.
Não estava sentido um alívio ao fazer isso.
Não tinha mais como aliviar, não havia solução.
Isso era culpa dele. Ele esqueceu de tomar seus antidepressivos, ele nem presta pra cuidar de si mesmo. Isso com certeza iria preocupar Hifumi.
Droga.. DROGA!Em sua cabeça só passava a morte.
Sentia que era a única forma de acabar com tudo isso. Ele gostaria de continuar vivendo, mas não tinha porque, sendo que sua vida era apenas desperdício de oxigênio. Ele não queria trazer mais problemas, não queria mais dar trabalho. Apenas pelo fato de existir ele já dava trabalho.Ele cambaleava, tentando não cair de joelhos no chão.
Não, eu não posso continuar com isso.
Não, eu não vou aguentar continuar.
-Hi-Hifumi...- ele solta entre soluços. Hifumi era importante pra ele, ele sempre esteve lá por mais que não merecece toda essa atenção, ele sempre cuidou dele e se preocupou, ele era uma pessoa maravilhosa em sua vida.
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Fanfic"Todo dia a mesma sensação volta. Não há um dia que fique livre dela. Eu só queria poder ficar em paz, mas a culpa de existir não me deixa"